Coberturas, Festivais e Shows

COMO FOI? HUMAITÁ PARA PEIXE (RJ) – SEXTO DIA

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Foto: Comadre Florzinha no HHP 2009 por Tomás Rangel

Por Marcos Bragatto, Rio de Janeiro (RJ)

Com nove anos de atraso, Comadre Fulozinha sacode o Humaitá Pra Peixe
Noite contou ainda com Junio Barreto, outro artista pernambucano, que se virou como pôde depois da bem recebida cantoria feminina.

O tão decantado entardecer de Copacabana viu uma invasão de neo-hippies cariocas para ver o show do grupo pernambucano Comadre Fulozinha no Humaitá Pra Peixe. O regionalismo folclórico das meninas caiu no gosto da tribo carioca que frequenta Santa Tereza, Baixo Gávea e afins, a ponto de praticamente (faltou pouco) lotar a Sala Baden Powell. Ficou difícil para o conterrâneo Junio Barreto segurar a onda depois das meninas.

Revelado no Abril Pro Rock de 2000, só agora o Comadre foi escalado no Humaitá Pra Peixe, talvez pela assumida dificuldade da produção em fechar o elenco de artistas esse ano. Mas, a julgar pelo comparecimento e participação do público, o tiro foi certeiro. Distante do mangue beat, o Comadre não faz conexão alguma com o pop e tem o repertório fincado no coco, frevo, forró e adjacências, escudado em geral por cantigas de domínio público. “Tocar na Banda”, por exemplo, de Adoniran Barbosa, ganhou um irresistível arranjo coco que fez a platéia marcar com as palmas o mais rústico dos gêneros musicais. Tanto que foi a escolhida para o bis que a produção não teve como evitar.

Mas o repertório segue com referências a outros ritmos folclóricos, como candomblé e frevo, e sobrou até para o brega de Reginaldo Rossi, num boleraço de fazer marido traído chorar. Não que tenha, por isso, subtraído a animação da platéia, que dançava nos corredores do Teatro. Além do conjunto de instrumentos típicos da região, nos quais as quatro moças vão se revezando, realça a cantoria coletiva, cujo sotaque é um “must” entre os neo-hippies cariocas, que, segundo consta, morrem de amores por Recife. O show foi encerrado com todos “respondendo diretinho” outro coco puxado pelas moças. Dava até pra escutar o bater dos chinelos e sandálias de salto baixo.

Se Junio Barreto já não se sente muito à vontade num palco, imaginem depois do atropelamento do Comadre Fulozinha. Sorte que ele, além de ter um grupo que gosta de improvisar e jura que nunca tocou uma mesma música de uma única maneira, sacou de uma inesperada simpatia, convertendo sua timidez em ponto a favor para uma platéia fã até mesmo do sotaque de Recife – quiçá dos artistas. Notório fornecedor de composições para medalhões da mpb, Junio apresentava suas músicas dizendo quem as gravou e contando como foram concebidas.

Assim citou “Doce Guia”, interpretada por Céu no projeto 3namassa, e “Santana”, que ganhou fama através de Gal Costa. Outras também têm potencial, como “Amigos Bons”, a tal que cita uma genipapada, e “Qual é Mago”. Do seu conterrâneo Capiba levou o samba triste “A Mesma Rosa Amarela”, mas, apesar de uma boa banda, Junio não nasceu para o palco, e provavelmente só teve espaço no ano em que o festival tem a pior escalação em muitos anos.

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