Coberturas

COMO FOI? CAETANO VELOSO EM NATAL

caetano

Por Alex de Souza

http://www.nominuto.com/blog/bazar/quero-caetano-no-dosol/11755/

QUERO CAETANO NO DOSOL

…tá bom, nem precisa ser tão radical: pode ser no Mada também. É que a ‘bicha baiana’ como alguns amigos e fãs chamam Caetano (pode parecer um jeito esquisito gostar de alguém o chamando desse jeito, mas deixa eles) merecia tudo menos aquela caretice sem fim que armaram no Machadinho ontem à noite, com aquelas mesinhas de plástico de playground de condomínio entulhando a frente do palco enquanto a galera que realmente curte o som do velho baiano e enfrenta aquela pindaíba crônica de fim de mês se esforçava para tentar ao menos enxergá-lo das longínquas arquibancadas.

Por sinal, sempre que vou a um show no Machadinho saio de lá dizendo que foi o último show que assisti por lá, pela absoluta falta de conforto dos batentes de concreto e a péssima acústica daquele telhadão de aço escovado ou seja o que diabos é aquele material. Mas aí, acaba vindo um artista que vale a pena e como essa cidadezinha de merda não tem uma casa de espetáculos que se preze para público acima de 500 e abaixo de 5 mil lugares acabo mordendo a língua e me arribando para aquele ginásio que um dia já foi de esportes – a última vez antes dessa foi quando o Ney Matogrosso veio com o pessoal do Pedro Luís e a Parede.

Sim, mas estávamos falando sobre Caetano (aliás, eu tava falando, essa firula retórica de usar o plural da primeira pessoa é muita frescura às vezes). O cara botou para quebrar junto com a tal Banda Cê, que vem acompanhando o compositor desde seu último disco. Baixo, bateria e guitarra, tudo muito simples, a formação básica mais antiga do rock’n’roll e ainda assim, paradoxalmente, Caetano se moderniza radicalmente nessa aposta e mostra, mais uma vez, que é o mais antenado com o novo na turma que sobreviveu à Tropicália – basta lembrar o péssimo disco lançado por Gilberto Gil recentemente (tudo bem, você pode até argumentar que tem o Tom Zé, mas ele, sendo um liquidificador de si próprio desde 1967, ainda está uns 40 anos à frente de todo mundo).

Sem ligar para os babacas que apregoaram em blogs, colunas, notinhas e quetais, desfiou boa parte do excepcional Zii e Ziê, ficando de fora, pena, a versão geial de Incompatibilidade de Gênios, mas sobrou espaço para interpretações enérgicas de Perdeu e Tarado Ni Você. Caetano expõe, sem subterfúgios, a perplexidade perante a o absurdo promovido pela Era Bush em A Base de Guantánamo (não, não precisa de metáforas – ‘é por demais forte simbolicamente para eu não me abalar’ diz a letra) e dá o braço a torcer, meio que explicando sua opção pelo novo som em Lobão Tem Razão.

Volta a bater na tecla da morte da contracultura em Falso Leblon: é bacana cheirar coca, mas e a grana que vai pro traficante, hein, fia? Ainda assim, dialoga com sua própria carreira numa música que é Caetano puro: Lapa. Foi mais ou menos a essa altura do show que eu me perguntei: mas rapaz, como é que fiquei tanto tempo sem ouvir esse cara?

É que, venhamos e convenhamos, a mania dele de polemizar enche o saco de qualquer cristão, então em algum ponto dos anos 90 meio que rompi com Caetano e fazia bem uns quatro ou cinco discos que eu nem tchuns pra ele. (Sou de uma geração que cresceu ouvindo Caetano, por força e culpa do velho Carlão de Souza e seus comparsas e se você acha que isso é um hábito saudável devia ver minha irmã que hoje já é mãe com seus quatro ou cinco anos montada no penico cantarolando ‘Eu Sou Neguinha’ para entender esse tipo de influência.)

Até que, meio por acidente, peguei numa zapeada o show do álbum anterior no Multishow e pensei: tá na hora de rever esse conceito, que nem na propaganda do carro. E agora, lembrei justamente porque essas ideias me vieram à cabeça naquele momento: Caetano provava naquele momento que ele, melhor que ninguém, é capaz de reinventar a sua própria obra, como na versão demolidora de, justamente, Eu Sou Neguinha. Pede pra sair, Vanessa da Mata.

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1 Comment

  1. Aqui em João Pessoa o show foi lindo, com direito a uma performance sensacional de “Eu sou neguinha” e improvisação em Guantanamo (ou será que ele errou? mas quem se importa?). A banda Cê é tão surpreendente ao vivo quanto em disco, dava arrepios até. Enfim, momentos gloriosos que eu pude acompanhar do telão, numa brecha entre várias pessoas que se apertavam pra ver o show desse mesmo telão. Afinal, se eu fosse pra trás da área das mesas só veria um borrão de luz branca entre duas tendas de bebidas e não ouviria nada (lá o som nem chegava). Me senti na era feudal. Nem os telões eram voltados para o público, mas sim pras mesas. Acho bem desrespeitoso isso…

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