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COMO FOI? BANANADA – SEGUNDO DIA

Veja agora como foi o Bananda 2008 segundo dia com texto de Bruno Palma Fernandes. Conteúdo retirado do portal Dynamite. Suadações a André Pomba e sua equipe. Acompanhem:

A primeira noite do festival goiano Bananada, no dia 23 de maio, foi redondinha e as expectativas para a segunda, no dia 24, estavam altas. Bem no comecinho, ainda antes da primeira banda abrir as festividades, já se notava que o público estava chegando com mais rapidez e ainda mais afoito para o que estava por vir.

A primeira atração foi a revelação local Gloom, apresentada por Fabrício Nobre, organizador do Bananada, vocalista do MQN, um dos donos da gravadora Monstro Discos a atual presidente da Associação Brasileira dos Festivais Independentes. Fabrício os apresentou com animador entusiasmo e não à toa, como se veria no show. O Gloom é formado por músicos recém-saídos da adolescência, mas com talento de dar inveja a muito marmanjo. A banda apresentou melodias doces com base em guitarra, baixo e bateria, e enriquecida por três vocais e mais um trio festivo de metais. Os olhos voltavam atenção extra para o centro do palco, onde estava a vocalista e guitarrista Niela. A garota de estatura econômica e feições meigas conquistou os presentes com sua voz forte e afinada, mas principalmente pelo que fazia na guitarra. A menina tem pegada, toca com firmeza e faz até solo. No meio do show, Niela deu um descanso às seis cordas para assumir um cavaquinho, num clima mais sambinha. Genial. O Gloom fechou o show com uma versão espetacular de “Como vovó já dizia”, de Raulzito. Saíram do palco sob muitas palmas e deixando a certeza de que na próxima já não serão mais banda de abertura.

Em seguida vieram os também goianos do Abluesados. Como o próprio nome já dá a entender, a banda toca blues, com direito a gaita e tudo mais, mas aglutina ainda algumas referências de música brasileira aqui e ali.

Conheci os integrantes do Filhos da Empregada no hotel, onde, aliás, alguns deles foram confundidos com integrantes do CPM 22, que também tocaria na cidade, num outro evento. Nenhum deles lembrava qualquer um dos membros do CPM, nem de longe. Esclareceram que se tratava de um engano para o homem que trocou as bolas, mas este, ainda assim, fez questão de tirar foto com alguns deles. Os Filhos de Empregada fazem um som bizarro. Mas também, com influências que vão de Pavement a Mutantes, não poderia ser muito diferente disso. As letras driblam o nexo e esbarram no dadaísmo. Até Mallu Magalhães foi homenageada pela banda numa das músicas, na qual um dos vocalistas repetiu diversas vezes o nome da garota, que era uma das atrações mais aguardadas da noite. O show dos paraenses começou com uma reação de estranhamento, mas isso foi logo transformado em curiosidade, e mais adiante em interesse. A irreverência e carisma da banda colaboraram para isso.

Bizarrice pouca é bobagem. Todo mundo sabia mais ou menos do que se tratava Abesta, de Florianópolis. Zimmer, um dos integrantes da dupla, já tinha dado uma dica ao classificar o projeto como “noise de raiz”, numa conversa durante a ida ao Centro Cultural Martim Cererê. Mas a verdade é que ninguém estava preparado. Zimmer e seu parceiro Sukita Bata entraram em cena com máscaras de luta livre e fizeram barulho. Só barulho. Sukita tocava uma geringonça que gerava freqüências perturbadoras, enquanto Zimmer aproximava um microfone do retorno, criando microfonias, e o arrastava pela grade de proteção dos falantes, produzindo chiados pavorosos. Zimmer ainda fazia ruídos agudos e infernais com uma engenhoca montada com uma cabeça de boneca, um microfone e uma lanterna. Os espectadores vibravam. Estavam realmente bestificados.

Mais um representante da cena local, o Bang Bang Babies manteve o gás com seu hard rock, que aparentemente é um dos gêneros favoritos aqui em Goiânia.

De São Paulo, o Chimpanzé Club Trio trouxe seu som instrumental, constituído de estilos variados, mas todos tendo o rock como fio condutor. Um pouco de blues, um pouco de surf music com tremolos alavancados, um pouco de ritmo brasileiro. Os músicos, competentes e bem entrosados, fizeram o público dançar.

Os goianos do Black Drawing Chalks deram mais uma vez a prova de que Goiânia é a cidade do rock duro e direto. Os riffs contagiaram os ânimos e levou os mais afobados a uma pequena roda.

Do lado de fora do teatro, integrantes do Sapo Banjo (que se apresentou na primeira noite) e do Sindicato saíram tocando marchinhas no meio da galera. Isso se repetiria mais tarde.

O Sweet Fanny Adams, de Pernambuco, apresentou ao público seu rock direto e cadenciado, que remete diretamente a algo como Talking Heads ou Gang Of Four, com linhas de baixo pulsantes, guitarras ardidas, vocais despojados, tudo isso segurado por uma bateria certeira. A qualidade das composições e da execução das músicas é espantosa.

As portas do teatro estavam demorando demais para o show dos paulistanos do Cérebro Eletrônico. Mais tarde, Maurício (guitarrista do Multiplex que veio no lugar do tecladista Dudu Tsuda, atualmente na França com o Trash Pour 4) explicou que tinha dado um pau em seu equipamento. Enquanto Maurício tentava resolver o problema do lado de dentro, as pessoas se espremiam do lado de fora, desesperadas. Quando as portas finalmente se abriram, foi um mundaréu de gente entrando, com sede de música. O Cérebro fez um show impecável, com uma sonoridade limpa e clara, fazendo o pop como eu gostaria que o pop fosse. A apresentação, iniciada com “Antes eu tivesse escolhido”, é uma grande festa de sons e de serpentina. Músicas de um humor sagaz, como “Pareço Moderno” e “Talentoso”, a romântica “Dê” e a anti-romântica “Me Atirar na Orgia” foram recebidas calorosamente pelo público. As músicas por si só já dão mais do que conta do recado, mas a presença do vocalista Tatá Aeroplano em cima do palco deixa qualquer um de boca aberta. Não me lembro de presença forte em cena assim desde Chico Science, sem exagero.

O que ocorreu antes do show do Cérebro se repetiu em escala mais espantosa na seqüência, na porta do teatro onde se apresentaria a jovem paulistana Mallu Magalhães. Fabrício Nobre teve que conter um pouco os ânimos da galera, que se acotovelava por um bom lugar de onde se pudesse ver o show da garota. Com apenas 15 anos de idade, uma vozinha pequena e suave e um violão, Mallu causou comoção generalizada.

O Do Amor, do Rio de Janeiro, é a atual banda de apoio de Caetano Veloso acrescida de Bubu, que tocou baixo no Los Hermanos. Foi nesse show que o ecletismo do Bananada alcançou seu ápice. Os músicos misturam rock de arena (“Chalé”), e até carimbó (“Isso é Carimbó”) e lambada (“Perdizes”), tudo no formato banda de rock, com suas guitarras, um baixo e bateria e vocais revezados por todos os membros do quarteto. O bom humor de músicas como “Dar uma Banda” e “Pepeu baixou em mim” (que parece mesmo ter sido composta pelo próprio Pepeu Gomes) deram o tom do show e o público respondeu a altura, caindo na dança ou na risada. Ou ambos. O momento que consagrou a apresentação do Do Amor foi a versão pós-moderna de “Lindo Lago do Amor”, de Gonzaguinha. Na releitura do quarteto carioca, a música ganha batidas disco, guitarras pesadas e um vocal em falsete que parece ter sido inspirado em Tetê Espíndola, no mínimo. Show inesquecível. Caê está muito bem acomoanhado.

A trinca que viria a seguir era formada por representantes de Goiânia. As últimas bandas no Bananada são sempre goianas, já que o festival tem como principal finalidade divulgar e fortalecer o cenário local. A primeira delas foi o Motherfish, que voltou à ativa no ano passado. O Motherfish mostrou seu indie rock competente, que bebe das guitarras soltas do Sonic Youth e do Jesus And Mary Chain. Em algumas canções, sente-se uma pendida mais para o garage rock, o que parece ser inevitável aqui nessa cidade.

Diego de Moraes e o Sindicato ganharam a platéia com músicas que tem um pé no rock, um no folk e um no brega. Três pés? Se o próprio Diego assume que faz música para gente esquisita e não para roda de violão ou para tocar no elevador, por que não? No meio do show, Diego foi deixado sozinho no palco para executar uma música só com voz e violão, acompanhado de um convidado, que cantava apenas um “–tererê, –tererê” no refrão. Depois os integrantes do Sindicato vieram do meio do público tocando instrumentos de percussão, e assim começava “Amigo”. No final, Diego se atirou no público, voltou ao palco, subiu no bumbo da bateria. Estava visivelmente mais do que satisfeito com o show que acabara de fazer. E o público estava mais de satisfeito com o que acabara de assistir.

Quem ficou encarregado de fechar a noite foi o Violins, um dos nomes goianos de maior projeção nacional. A banda emocionou com seu indie rock potente, climatizado por teclado e sintetizador. O público, fiel, se espremia na grande e cantava junto todas as músicas a plenos pulmões. O quinteto, que ameaçou encerrar atividades em 2006, fechou a segunda noite do Bananada com chave de ouro. Ainda bem que a banda não levou adiante a idéia de acabar. O show no festival mostrou que o Violins ainda tem muita lenha pra queimar.

Mais tarde começa o último dia do Bananada, com shows de Sweet Racers, The Backbiters, Fire Friend, Big Nitrons, Orquestra Abstrata e Seven, Bad Folks, Shakemakers, Amp, A Grande Trepada, O Lendário Chucrobillyman, M. Takara 3, MQN, Necropsy Room e A Banda da Eline.

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