Veja agora como foi o Bananda 2008 primeiro dia com texto de Bruno Palma Fernandes. Conteúdo retirado do portal Dynamite. Suadações a André Pomba e sua equipe. Acompanhem:
Começou no dia 23 de maio o festival goiano Bananda. Gente maluca e cerveja a rodo, mas o ingrediente principal não podia faltar: o rock, é claro. Mas dentro do gênero tem espaço para tudo no evento. As bandas que tocaram no dia de abertura do Bananada vão do metal ao samba, do ska ao glam, do grunge ao pop rock. E todo mundo se diverte, num convívio muito saudável. Os sotaques variados, de gente vinda de todas as regiões do Brasil, servem ainda como um tempero extra na festa.
A noite começou com o Bad Lucky Charmers, com referências do rock setentista, e seguiu com o Mugo, projeto mais pesado do guitarrista Leo Alcanfor, da lenda local Violins, que fez um show bastante elogiado, mesmo com o Centro Cultural Martim Cererê ainda não muito cheio.
Depois do Mugo vieram os cuiabanos do The Melt, com uma apresentação inspirada e frenética. A empolgação foi tanta que o baixista Diego Fornalha arregaçou um de seus dedos no baixo. O Melt apresentou ao público, que começava a esquentar, um som polpudo e viajante.
O Goldfish Memories, banda goiana que deu continuidade ao fesatival, fez um som bastante calcado no grunge, com riffs potentes, mas tendo acabamentos mais bem elaborados de vantagem.
É curioso ir de São Paulo, onde eu resido, para ouvir pela primeira vez uma banda de minha cidade. O Fim do Silêncio sempre esteve a poucas conduções distante de mim, mas só fui escutar agora, aqui em Goiânia. Após o show devastador que presenciei no Bananada fiquei com a sensação de que marquei bobeira. O Fim do Silêncio fez uma apresentação destruidora, com um som visceral, com a brutalidade do metal e a garra do hardcore, contando ainda com dois vocalistas num duelo arrepiador de gargantas. O público vibrou e a banda paulistana foi a responsável pelas primeiras rodas da noite. Outras ainda estavam por vir.
Que tal sair do metalcore para o pop rock? Em Goiânia pode. Tudo pode. O carioca Jonas Sá manteve a temperatura em alta e fez bonito. Suas músicas, embora moldadas em estruturas mais acessíveis, têm arranjos diferentões. Pode-se dizer que o músico faz um pop rock esquisito, mas com uma estranheza deliciosa e cativante.
O Imbleeding veio em seguida, retomando o peso. A banda fez um show bastante técnico, misturando gerações diferentes do metal, oras pendendo mais para o clássico, oras mais para o moderno.
E vinha mais um choque de estilos musicais. O Curumim, de São Paulo, mostrou ao público, já muito bom, uma fusão esperta de samba com rap, funk carioca, soul e mais uma infinidade de estripulias. Luciano Nakata consegue manter o pique do show mesmo cantando de trás da bateria, provando que um bom frontman não precisa necessariamente de micagens para conquistar a platéia.
Os gaúchos do Identidade dividiram comigo a van para o Martim Cererê. As roupas que os músicos trajavam – um visual meio “vintage”, como dizem por aí – já me davam uma vaga idéia do que eu veria em cena. E eu não estava enganado. O som é puro rock garageiro para chacoalhar o esqueleto. E isso o próprio vocalista faz com maestria em cima do palco, lembrando em alguns momentos os passinhos de Mick Jagger. As guitarras entrosadas e a competente cozinha estavam na medida para dançar, e quem estava assistindo não se fez de rogado. Destaque para a mais suingada “Lucy Jones”.
Veio então um dos maiores nomes do ska da atualidade: Sapo Banjo, também meus conterrâneos. O público se divertiu e ficou o tempo todo sob o comando da banda, que fez o que quis no palco do Bananada. A mistura de ska com rock, de guitarra distorcida com instrumentos de sopro, agitou todo mundo em músicas como “Carro de Som”, “Ferrou” e “Larga Mão de Treta”. Em “Skatarrone”, o vocalista Mau dividiu o público no meio e fez metade berrar “Ska!” e a outra metade “Skatarrone!”, e depois se jogou sobre a galera para depois ser levado de volta ao palco para encerrar este, que foi um dos shows mais divertidos da noite, com “Trem das Onze”, em versão ska, obviamente.
E lá vamos nós de novo para uma continuidade que pareceria improvável se não se tratasse do Bananada. O Are You God?, também de São Paulo, fez certamente o show mais pesado da noite. O grindcore comia solto, sem piedade. O vocalista, com uma camiseta do John Lennon e um shorts do Fluminense (uma tiração de sarro da surra que o tricolor paulista tomou há pouco do tricolor das Laranjeiras), urrava alucinadamente e gesticulava de uma forma que só posso chamar de pavorosa, no melhor dos sentidos. É impossível tirar os olhos da banda. Parece impossível que tamanho barulho seja prodizido por música (ou anti-música, como preferir) e não por uma demolição de um quarteirão inteiro. O peso do Are You God? arrepia os cabelos de regiões do corpo que você jamais pensou terem cabelo e hipnotiza. As rodinhas foram a conseqüência lógica do que se via e ouvia.
Um dos principais nomes da cena goiana foi a banda seguinte: o Mechanics. Show chapado, com muita gente já mais pra lá do que pra cá e cerveja voando pra todo lado. Mesmo fazendo um rock incrivelmente sujo e canalha, o quarteto não deixa a coisa toda descambar para a tosquice e deixa claro o tempo todo que sabe muito bem o que está fazendo.
Nesse momento o público já apresentava sinais de cansaço e começava a debandar. Muitos acabaram perdendo a apresentação surreal dos goianos do Johnny Suxxx & The Fuckin’ Boys. Eu havia conversado com o vocalista João Lucas mais no começo da noite e ele, tomando whisky com energético, confessou que já estava começando a ficar embriagado. Na hora do show a loucura já tinha batido totalmente e o cara entrou tropicando no palco. A banda despejava seu glam cara de pau enquanto Johnny cantava, batia no microfone e o girava quase acertando os espectadores, se jogava no chão do palco e no meio do público, beijava a boca de alguns que acompanhavam tudo da grade e provocava verbalmente alguns outros, jogava e cospia água. A performance endiabrada, com uma perfeita trilha, foi encerrada com Johnny já de cueca. Insano.
Uma das atrações mais esperadas da noite era o Mandatory Suicide. A banda, também goiana, se separou em 1998 e fez neste Bananada um show especial de reunião, comemorando os 20 anos de seu surgimento. O quarteto fechou a noite com um metal encorpado e furioso e com um clima nostálgico.
É necessário ressaltar o som impecável em todas as apresentações, tornando possível ouvir limpinho o que era para ser limpinho, e ensurdecedor o que era para ser ensurdecedor, sem embolar nada.
Mais tarde começa o segundo dia do Bananada, com shows de Gloom, Abluesados, Filhos de Empregada, Abesta, Bang Bang Babies, Chimpanzé Club Trio, Clack Drawing Chalks, Sweet Fanny Adams, Cérebro Eletrônico, Mallu Magalhães, Do Amor, Motherfish, Diego Moraes e o Sindicato e Violins. Mais rock, mais cerveja, mais gente maluca. Tem jeito melhor de passar um aniversário? Parabéns para mim.