HIPPIES FUNKEIROS COM SABOR DE POP
Nevilton e Vendo 147 se destacam entre os estreantes e Pato Fu e I.M.S dão as cartas entre os mais experientes.
Depois de um primeiro dia de casa cheia e ótimos shows, o segundo dia do Abril Pro Rock começou com boas expectativas e lineup diversificado para os fãs mais ecléticos. Só um convidado indigesto e já tradicional do festival teimou em atrapalhar os planos: a chuva! Recife foi castigada por uma chuva forte durante todo o dia e muito bairros ficaram sem energia e alagados. Mesmo assim, novamente cerca de 3.000 fãs compareceram ao segundo dia do festival.
Esse dia vai ficar marcado pelo começo de programação mais hippie de sua história! O Anjo Gabriel (PE) abriu os trabalhos com um som confuso e pouco entrosado. A proposta é até boa mas a realização não me convenceu.
Em seguida veio o Minibox Lunar do Amapá e o ataque hippie continuou. Trata-se de um som simpático, inspirado na sonoridade da Tropicália, temas nortistas e com forte flerte com os anos 70. Como toda banda nova, ainda carece de ajustes, mas o principal a banda já tem que são um punhado de boas músicas e o carisma da sua linha de frente formado por duas meninas.
Já experientes e rodados o Plástico Lunar conectou de vez o pequeno público do começo da programação com as viagens lisérgicas setentistas. Grupo de pegada forte, bons músicos e timbres certeiros, O PL representou muito bem a promissora cena sergipana. Muito bom.
O representante potiguar dessa perna do Abril Pro rock foi o Bugs. Mesmo com um pequeno resquício de psicodelia que marcou o começo da sua carreira, o Bugs hoje está muito mais rock e sujo. Com uma sonorização apenas honesta a banca despejou bons riffs e deve ter agradado os fãs mais “cabeludos”. Belo show!
O também baterista do Volver, Zeca Viana, tem carreira solo sólida. Foi a primeira vez que o vi defendendo seu trabalho e gosto muito em cd. O show me pareceu confuso. O som não ajudou o grupo a passar sua mensagem e terminou ficando morna sua participação. É esperar outra oportunidade e ver o trabalho de novo.
Com o “case hippie/70” chegando ao fim foi hora do rock direto tomar conta do galpão do Centro de Convenções com o incrível show dos baianos do Vendo 147. Incrível porque são duas atrações em uma. A primeira é o tal clone drum que encanta quem prestar atenção no entrosamento e divisão do que é feito pelos dois bateristas. A segunda atração do grupo é o pacote de boas composições somadas a presença de palco dos integrantes. Um dos melhores shows de todo o Abril Pro Rock.
Se vocês gostam de rock e ainda não conhecem o Nevilton, ainda vão conhecer! O trio paranaense é hoje o principal expoente da música pop rock brasileira e não tenho dúvidas de que vão crescer ainda mais. Que show certeiro! Composições pops, presença de palco insana, ótimos músicos, cantor carismático sem ser forçado. Uma bela apresentação, a melhor de todo o segundo dia do APR.
Os bons shows continuaram com o River Raid mostrando que hoje tem cacife para ser uma banda internacional. Show pesado com uma sonorização perfeita (a melhor de todo o festival). O Plastique Noir com seu som gótico reuniu fãs em frente ao palco e também respondeu a bronca muito bem.
Daí em diante os grooves dançantes começaram a fazer parte da programação do festival, já com bom público na arena. O já experiente cantor alagoano Wado mostrou talento e qualidade com um show preciso mas um pouco prejudicado pela sonorização. Em Recife, terra da malemolência, Wado se cria e no APR não foi diferente.
O aguardado show do 3namassa foi a decepção da noite para mim. Chato, amarrado, marrento e frio. Adoro o disco e ficou aquele vazio ao vivo. Uma pena. Os mexicanos do Instituto Mexicano Del Sonido entraram como ilustres desconhecidos no palco do APR e saíram ovacionados pelo público. Show excelente com destaque para o batera casca grossa deixando a coisa animada na “cozinha” de loops do grupo.
E o Afrika Bambaataa? Para alguns o golpe da noite, para outros diversão funkeira de perder o juízo. Como eu não tava em clima de dançar achei só honesto. Mesmo caso do Agent Orange, valeu pela lenda.
Para encerrar a extensa (é ótima) programação do APR, os mineiros do Pato Fu fizeram o que fazem de melhor. Música pop de excelência com simpatia e competência. Para que mais? Trata-se da melhor banda mainstream nacional em atividade e uma das formações mais honestas e legais que o Brasil já teve. Quem quiser achar diferente tem direito, mas o histórico dos mineiros fala por eles.
O Abril Pro Rock segue a partir desta terça com APR Club, até o dia 30 de abril. Se a vibe for a mesma apresentada nos dois dias do Centro de Convenções é programa imperdível. Quem não foi ainda pode se redimir! Que venham mais 50 anos!
Fotos: Beto Figueiroa