Meus amigos, o que é a rotatória verbal. E o que é a repetição de assunto. Ontem, por exemplo. Estava eu a bater papo com um afamado músico aqui do Rio, e, conversa vai, conversa vem, o assunto desaguou – imaginem vocês – no fim do CD. Este inefável pedaço de vidro revestido com sei lá o que, apresentado a mim há cerca de vinte e poucos anos, dizem, está morto e enterrado – concordem ou não. Eu, confesso, discordo, como diria Marco Bianchi. Mas é o que dizem, assinam embaixo, dão fé pública e registram em cartório a grande maioria dos meus colegas jornalistas. Eu, do lado de cá, pergunto: se o CD morreu, o que é isso que está tocando agora? E o que está dentro dessa sacolinha que entregaram aqui ontem à noite? E o que sãos essas prateleiras enfileiradas na sala aqui de casa? Um cemitério? Uma área de desova? Não meus amigos, são milhares de CDs que guardam outras tantas músicas que me acompanham há algum tempo, mesmo antes de o próprio CD começar a existir, ao menos para mim. Sim, sou do tempo do vinil e das fitas cassetes, das rádios rock e do rock de verdade. Muitos desses CDs, inclusive, adquiri em substituição às hoje anacrônicas bolachas pretas, estas, sim, mortas e enterradas, já que a última fábrica, que funcionava em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, entregou os pontos.
Acontece que o CD – dizem – não vende mais. No que eu completo: não vende mesmo. Ou, por outra, vende, sim, senão não existiria o novo disco do Korn no Brasil com tiragem de 3 mil cópias. Ou uma coletânea do Police com 5 mil, só para citar dois CDs que estão de bobeira aqui ao lado. E olha que essa do Police tem, já há muitos anos, todas as músicas liberadas na Internet. No que eu concluo: tem CD que não vende e tem CD que vende. Citei a grande rede de propósito, afinal, quem diz que o CD morreu acredita que é ali que ficam as músicas, de graça, pra gente escutar. Morre o CD e nasce a internet, o download, o mp3 e o escambau.
Não é bem assim, não. Se o rádio não acabou com o jornal, a TV não acabou como rádio, o videocassete (lembram?) não acabou com a TV, por que cargas d’água os downloads acabariam com o CD? Por que um é caro pra dedéu e o outro é de graça? Não creio, porque aí o problema é outro. Seria porque o mp3, cujo tocador completou dez anos, é muito melhor pra se ouvir? Lógico que não. Mp3 é o maior desperdício de qualidade sonora, tão perseguida ao longo dos anos, de que se tem notícia. CD, meus amigos, é álbum, e mp3 é música, single, que no Brasil existiu somente em momentos pontuais. O CD, meus amigos, repito, tá vivinho da Silva.
E posso provar. Nos tempos do vinil, ouvia a mesma ladainha, dizendo que ele tinha acabado e que o CD é que era definitivo. O tempo provou isso mesmo (ao menos até agora), mas pra um sair e outro entrar, demora, rola um gap de tempo chamado transição. Não se acaba com tudo assim, pois, de uma hora para a outra. Mas eu falava que, nos tempos do vinil, os alvissareiros diziam que ele tinha acabado antes da hora, no que eu fazia a pergunta-chave: algum artista de sucesso mundial já laçou um novo álbum só em CD? Madona ou Michael Jackson vão lançar o novo disco deles sem usar o vinil? Não? Ah, então o vinil não acabou, não, meu amigo – retrucava em triunfo. E, ontem, fiz a mesma pergunta ao afamado músico: que artista de renome mundial vai lançar o próximo álbum sem utilizar o CD como formato? E encerrei o papo.
Encerrei nada, porque esse papo nunca tem fim. Mas vejamos os exemplos atuais. Ontem ou anteontem escrevi uma notícia aqui mesmo no Rock em Geral, dando conta de que o REM vai disponibilizar o novo disco deles, “Accelerator”, para download gratuito, uma semana antes do lançamento oficial, o que corresponde à data em que o CD (olha ele aí) chega às lojas. O Radiohead lançou o esquema “vai pagar quanto”, apropriado das Casas Bahia, mas ao mesmo tempo vendeu CD (e continua vendendo) à rodo. E deu em tudo o que é lugar: o Nine Inch Nails faturando uma grana em vendas de CD, mesmo colocando as mesmas músicas que estão no disco na rede para download gratuito. E então, tá bom pra você? O CD acabou?
Porque CD, meus amigos, é um veículo de mídia, que pode até vir a ser substituído por outro mais avançado. Mas o álbum, esse não acaba nunca. O conjunto de músicas gravadas por algum artista para um lançamento nunca vai acabar. Pode até mudar, mas não acaba nunca, porque a música é que não acaba nunca. Ao contrário, só tende a cada dia ser mais variada e cheia de opções para estes ou aqueles ouvidos. Muito menos o rock, que tem a vocação para a eternidade. E, ademais, como sugeri ali em cima, o mundo virtual jamais vai substituir o mundo real, físico. Ele veio como o popular “plus a mais”, ou, se isso fosse um time de futebol, para somar ao grupo.
Agora, tem caos e casos. Se uma banda recém formada não tem grana para laçar um CD, e, ainda que o fizesse, o risco de encalhe seria encalhe certo, então usar a Internet é o canal. A Internet, aliás, continua sendo o refúgio dos fracassados. Aquilo que muitos vêem como algo democrático, eu enxergo como uma bagunça dos diabos. Porque onde qualquer bandinha nova tem vez, é porque a coisa é uma zona mesmo: não há critério, não há bom senso, não há crítica, não há nada. Mas isso é assunto para outra coluna. Ou será que eu já não escrevi isso antes?
Até a próxima e long live rock’n’roll!!!
Como Bragatto mudou, está mais jovem, mais bonito, mais gostoso…