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CLIPPING – TRIBUNA DO NORTE

Solaris discos encerra atuação na música potiguar

Rafael Duarte – Repórter

A tendência é mundial. Mas as vítimas são de casa mesmo. O fim do CD convencional, aquele que vem com a caixinha quadrada e uma capa bem sacada, tem derrubado os tradicionais selos de música da cidade. O curioso é que, se a internet é tida como uma das principais responsáveis por essa mudança de rumo no comércio da música, em Natal outros fatores, como a desorganização das bandas estão sendo fundamentais para a extinção dos selos mais tradicionais da cidade.

Enquanto o Dosol Records já avisou que não prensa mais CDs e o Mudernage vai virar entidade cultural, esta semana, o músico e proprietário do Solaris Discos, Alexandre Alves, anunciou o fim de uma década dedicada a lançamentos de bandas novas, que ultrapassou a fronteira potiguar. Com uma carta entregue s redações dos jornais, ele responsabiliza a falta de vontade dos músicos que o próprio selo abraçou durante esses dez anos.

A oficialização da decisão será marcada por um encontro de músicos e o lançamento de um DVD que traz o documentário “Solaris: 1996 a 2006 – Dez anos de independência”, além de todos os videoclipes produzidos pelo selo. A comemoração ocorre sexta-feira, a partir das 19h, na Velvet Café (Avenida Hermes da Fonseca).

Segundo Alves, não é um “fechamento para balanço”. É o fim mesmo. “Eu tinha que fazer tudo. Eu gravava, ia na gráfica, fazia a capa, prensava, distribuía, divulgava na imprensa, marcava o show, comprava o disco, tudo sozinho! Às vezes eu marcava uma pauta na segunda-feira para a banda confirmar na sexta-feira e ninguém aparecia. Cansei! O fim do Solaris não tem nada a ver com venda de CDs, porque eu não vivia para vender. É essa apatia, esse amadorismo que existe aqui na cidade”, desabafou.

O músico diz que sentiu a desmobilização local durante as comemorações dos dez anos da Solaris, em 2006. O que era festa, virou lamento. “Me toquei disso no terceiro dia de exposições das capas da Solaris. Fizemos no Solar Bela Vista, num horário legal e no terceiro dia não apareceu ninguém. A gente tinha um festival só com as bandas do selo para novembro, mas desisti de fazer. Chega uma hora que a gente cansa”, disse.

Indagado se o boom de lançamentos dos principais selos locais, há dois anos, era superficial do ponto de vista da continuidade dos projetos, ele acredita que, na época, o problema é que os selos chegaram ao limite de suas produções. “Em 2005, todo mundo estava lançando CD. O Dosol estava com vários lançamentos, o Mudernage, o Solaris também lançou. Agora acabou”, disse.

A internet, segundo ele, também não o atrai como vem ocorrendo com o selo Dosol. É trabalho demais para quem cansou dessa rotina. “Dá muito trabalho, tem essa divulgação em MP3. A única banda que conheço que as gravadoras pularam em cima com essa história foi o Moptop”, defende.

Solaris Discos encerra seu ciclo na música potiguar com a marca de 50 lançamentos de 25 bandas diferentes e sete coletâneas (uma internacional).

Para Anderson Foca, Cd é o que menos importa

O debate sobre o fim dos selos fonográficos da cidade está bem longe da unanimidade. Dono do Dosol Records, Anderson Foca, defende que o fim da prensagem do CD convencional e a divulgação maciça das bandas na internet é uma mudança de nível. Prova disso é que o selo dele deve lançar ainda este ano nove discos na grande rede. “Não é que o selo acabou. No nosso caso, não prensamos mais discos. A diferença é que o Dosol não é mais um selo como era antes, que tinha um CD convencional. Passamos da mídia física para a virtual. Mudamos de nível”, afirmou.

Segundo ele, essa postura é viável porque, hoje, o Dosol não trabalha apenas com a venda de discos. “Nós fazemos uma análise diferente do Alexandre. Quando um selo só vende disco, como é o caso dele, a coisa anda complicada. A gente entende um selo como uma coisa a mais. Vendemos cerveja no bar, temos o festival, camisetas, adesivos… o CD é apenas um desses itens, nunca foi nosso carro-chefe”, explica.

Economia, e mais eficiência

O uso da internet para a divulgação das bandas representa, segundo Foca, uma economia de 90% em relação ao lançamento da mesma banda em CD. “Eu gastei R$ 10 mil para fazer o disco do Officina e depois mais R$ 10 mil para divulgar. Com a internet, meu custo é apenas de gravação. E com o The Sinks, minha nova banda, gastei apenas R$ 2 mil. Não vou falar pelos outros, mas o The Sinks não tem disco lançado e já fez show em Fortaleza, João Pessoa, Recife, vai para uma turnê européia no ano que vem, como se estivéssemos um CD. Acho que o álbum vai continuar existindo, mas é uma troca de mídia como houve a mudança do vinil para o próprio CD. E isso não tem nada a ver com pirataria, é que as pessoas agora escutam música no computador”, afirma.

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