Fazer matérias sobre cenas independentes na maioria das vezes é como erguer um muro de lamentações. Fala-se de algumas qualidades que em geral são a respeito do suor de seus protagonistas e do esforço que bandas interessantes fazem para viabilizar suas carreiras. Quem faz música em Natal (RN) também vive problemas comuns a qualquer lugar do país, como poucos locais para tocar, acusações de ?formação de panelinha? (parece até coisa do código penal), falta de apoio, mercado pequeno, etc. Mas o que se vê na cidade é que é um local onde as boas coisas falam muito mais alto do que os reveses.
Em Natal destaca-se a qualidade e diversidade de suas bandas unida vontade delas e de seus produtores em fazer as coisas acontecerem. O mercado é menor do que na maioria dos grandes centros, porém é mais organizado e com uma estrutura definida. ?É difícil mantermos uma estrutura para a cena independente de Natal, que é uma cidade de passagem muito bonita. Temos dois grandes festivais de música (quando na maioria das cidades não tem nenhum): o DoSol e o MADA. Tudo isso leva a uma evolução da cena e a procura para que ela seja auto-sustentável?, disse o produtor e músico Anderson Foca.
A estrutura que Anderson se refere não diz respeito apenas aos festivais, embora eles (assim como em qualquer outro lugar) são os principais responsáveis pelo movimento das cenas. Natal é um dos poucos locais onde possui um lugar fixo para apresentações de quem está começando, selos, sites, fanzines, rádios, ou seja, tudo que é necessário para dar suporte produção local. São coisas que fazem os olhos do resto do país de voltarem para a cidade e faz com que a capital potiguar seja um ponto cobiçado para apresentações. Afinal, quem não quer ir para uma praia lindíssima, ter disposição uma boa estrutura e ainda ter um público que comparece? Só falta, no entanto, Natal fazer o caminho inverso e passar mostrar o que tem de bom para todo o país.
O Elefante Bu entrou em contato com diversas bandas e produtores de Natal onde eles mesmos indicaram um ?mapa? da própria cena.
O Festival: MADA
Ou melhor: Festival Cultural Música Alimento da Alma, idealizado pelo produtor Jomardo Jomas. A primeira edição aconteceu em 1998 na Ribeira (bairro histórico da cidade) por causa do programa Palco MTV. Jomardo observou que alguma coisa nova estava acontecendo e sentiu que a cidade precisava de um festival para mostrar essa nova produção. A coisa deu certo e hoje o MADA é a vitrine mais importante para as bandas independentes locais. Hoje ele é realizado na Arena do Imirá (a Ribeira não comportava mais o público), com vários palcos, feira mix e uma tenda eletrônica que funciona como um festival dentro do festival. O MADA tem ainda um braço cinematográfico realizado semanas antes do festival de música, com uma mostra competitiva de curtas-metragens e vídeo clipes.
Outro importante festival que não pode deixar de ser citado é o DoSol, organizado por Anderson Foca. Ele é mais novo que o MADA e teve apenas duas edições até agora, mas já chama atenção pela boa estrutura organização. O DoSol Festival, é realizado na Rua do Chile, no bairro da Ribeira, onde é montado três palcos e conta com uma estrutura capaz de comportar até quatro mil pessoas por noite.
O Espaço: DOSOL ROCK BAR
É onde as bandas têm a chance de fazerem shows e se mostrarem para o público potiguar independente dos festivais. Administrado por Anderson Foca, o DoSol Rock Bar está aberto desde julho de 2004 e já foi cenário de mais de 500 shows de bandas do Rio Grande do Norte e de outros estados. Passaram por ali bandas como Ludov e Dead Fish. O bar também promove festas e lançamentos de CDs.
O Selo: MUDERNAGE DISKOS
Administrado por Vlamir Cruz, ou Mister Mu, o Mudernage Diskos começou suas atividades em 2000 com uma parceria firmada com o selo Solaris Discos, o mais antigo de Natal que completou 10 anos. Porém o primeiro disco exclusivo do Mudernage só foi lançado em 2003 ? da banda Bugs ? e totaliza oito discos no currículo desde então. ?O selo funciona em caráter cooperativo de parcerias com os artistas e tem o objetivo de viabilizar com esses lançamentos mais a divulgação além das fronteiras do Rio Grande do Norte, do que propriamente um enfoque em vendas?, disse Vlamir.
O Mudernage Diskos se parece muito com uma entidade cultural porque além das atividades do selo ainda promove uma série de outras atividades como shows pela cidade. Ele ainda oferece oficinas e palestras com temáticas ligadas prática do exercício da independência com o uso das novas tecnologias. ?Acredito que em breve estaremos nos legalizando como uma ONG na área de cultura e comunicação?, explicou Vlamir. ?Nesse desdobramento estão vislumbradas, além das atividades que já realizamos, atividades na área de audiovisual (curtas, clipes e mostras), uma revista cultural eletrônica e/ou impressa, e a intensificação das oficinas?.
Outro selo que merece destaque é o DoSol, que lançou mais de 30 discos de artistas locais desde a sua fundação.
O Produtor: JOMARDO JOMAS
É o grande nome por trás do festival MADA. Antes do festival, Jomardo trabalhava produzindo artistas de Natal, como a Alphorria, banda de reggae local famosa em meados dos anos 90. Hoje ele é um desbravador e luta para que o MADA conquiste mais espaço em Natal e pelo país afora.
O Programa de Rádio: TROPICAL 103,9 FM.
A pesar do programa Rock, Pop, Blues, da FM Universitária, ter sido o mais ?votado?, por assim dizer, a verdade é que o grande destaque foi a rádio Tropical FM, que teve vários programas lembrados. Presume-se assim que ela oferece de modo geral, a programação que mais agrada aos produtores e músicos das bandas de Natal. Os programas mais lembrados foram o Rádio Blah, o 103 Hype e o Conexão.
O Site: ROCK POTIGUAR
(www.rockpotiguar.com.br) O site foi idealizado por Rodrigo Cruz, que é produtor de eventos e, quando dá tempo, estudante de Marketing. O site está na ativa desde 2004 e conta com uma equipe de nove pessoas, além de Rodrigo. Nele você encontra uma lista de bandas locais, agenda de eventos, notícias, resenhas, entrevistas, textos dos colunistas e a cobertura de eventos. Essa última atividade é o destaque do Rock Potiguar. Outra atividade interessante do site é a entrega do prêmio de melhores do ano com direito a um troféu confeccionado e tudo mais.
O Fanzine: LADO R
Um dos responsáveis pelo fanzine é Dimetrius Ferreira. O Lado R faz atividades interessantes paralelas ao impresso, como um programa virtual de rádio e lançamento de discos e EPs de bandas locais junto com a publicação.
Os Caras: VLAMIR CRUZ E ANDERSON FOCA
É verdade que eles não são os únicos em fazer as coisas acontecerem em Natal, mas que eles são responsáveis por uma boa parcela, isso é fato. Prova é que ambos são nomes que correram fácil nos itens acima e foram os mais lembrados dos músicos que colaboraram com essa matéria. Vlamir vem frente do Mudernage e Anderson comanda um verdadeiro conglomerado cultural chamado DoSol.
A cidade de Natal conta uma geração novíssima de bandas onde boa parte delas não tem mais que cinco anos de existência. Mas elas trazem consigo uma bagagem de informações muito boa. O resultado é uma significativa diversidade de estilos e propostas interessantes. No leque mais alternativo está a SeuZé, uma das melhores dessa nova safra. O quarteto Lipe Tavares, Fell, Augusto Souza e Xandi Rocha foi formado há três anos. Em 2005 lançaram o primeiro disco, Festival do Desconcerto, pela Mudernage Diskos. A proposta é genial na mistura da música regional com o rock. Claro que a combinação não é novidade, mas é aí que entra o diferencial da SeuZé. Além de canções, o quarteto conta histórias que podem ser reflexões sobre um jovem traidor ou até mesmo fazem uma crônica política usando a figura do coronel (chamado de cacique em outras regiões). Para conhecer a banda, recomendo de início a tal crônica em forma de canção, O Coroné, que começa MPB, evolui para um forró meio torto e termina num hard rock. É fantástica e a letra é muito perspicaz. Outro ponto positivo é que não só a SeuZé possui bons instrumentistas, músicas interessantes, mas também conta com um ótimo vocalista cujo o timbre de voz lembra o do Lenine.
Passeando nesse leque alternativo, outro representante da cena de Natal interessante é a dupla Os Poetas Elétricos, formada por Caritó e Edu Gomes. O projeto foi criado em 1995 e se chamava Eletri-Ficados & Outros Que Foram Embora. Ele entrou em hiato até ser retomado em 2004. Nesse mesmo ano a dupla lançou o CD que leva o nome do projeto inicial e tem participação especial de vários cantores e músicos. Entre eles está Michelle Regis, que terá participação mais efetiva no próximo trabalho. O que é bacana nesses Poetas Elétricos é o resgate de gente como Walter Franco e Tom Zé no sentido do jogo de palavras e rimas, do humor cínico e da ironia. Outras referências que vêm fácil mente quando se escuta Os Poetas Elétricos são os antigos Joelho de Porco, Premeditando o Breque e Mulheres Negras. A dupla tem uma falta de compromisso com um gênero musical em específico. A sonoridade pode ser qualquer coisa que se encaixe com as letras (ou melhor, poemas). Existem sacadas geniais ali, como a história de Maria Elétrica que viveu sem parar para sonhar até que se encontrou com a tal de Menor Pausa, correu atrás do prejuízo e morreu sem entender. São pequenos detalhes que faz a dupla (em breve um trio, talvez) merecer toda a atenção, até porque são poucos que trabalham preocupados com jogos de palavras que tenham algum sentido e ainda se preocupam em fazer um som bacana e não óbvio.
Já o lado rock propriamente dito da cidade também há boas surpresas de gente que dialoga com outras cenas independentes. O quinteto Doris, por exemplo, completa um ano de existência em novembro e tem como uma das referências a brasiliense Gramofocas (sim, é aquela mesma que faz cover do Polegar e da vinhetinha da Madecor). Até agora eles lançaram apenas uma EP de quatro músicas pela Do Sol. Há nesse trabalho um espírito sacana, de quem faz música para diversão. E a Doris chama atenção também pelo vocal feminino frente de uma banda que faz referência ao rock mais ligeiro. Não sou muito fã de vocais femininos frente de bandas com características assim, mas Ana Morena segura legal a onda.
Rock?n?roll mesmo é para Os Boonies e para a Revolver. A primeira é mais rockabilly direto, ruidoso, e sem frescuras para dançar nos shows e se divertir muito. A segunda também bebe da fonte clássica, tem humor e uma certa sacanagem, mas o som é mais limpo com tendência mais pop. Os Bonnies é o quarteto Arthur Ricardo, Thiago Araújo, Olavo Luiz e Rafael Barros que está na estrada desde 2000. E bota estrada nisso, porque esse pessoal já encarou muito asfalto para tocar em outros estados brasileiros. A banda tem um EP homônimo lançado pela Mudernage no ano passado, que vale pena dar uma olhada. Já a Revolver é mais recente, nasceu em 2003 e possui cinco integrantes (Carlos Eduardo, Paulo Henrique, Cleo Lima, Paulo Ricardo e Thiago Orelha). O primeiro disco do quinteto ainda está em produção e será lançado em breve pela Do Sol.
Talvez a maior banda de Natal seja a Jane Fonda por causa da constante presença em festivais importantes como o Mada e o Ceará Music, e também pelo reconhecimento da crítica. O nome em homenagem atriz norte-americana engajada em causas políticas e ambientais é um contraste ao rock pesado e ao vocal berrado de Rodrigo BS (também integra a Jane Fonda: Leo Ventura, Solano Braw, Rogério Pitomba e Jão Saraiva). O primeiro disco, Esses Dias Não Irão Para a História, é um lançamento da Mudernage e chama atenção pela boa produção e qualidade. A música de destaque é Velho, que faz uma mescla bacana entre jazz e hard rock.
Outras bandas bacanas de Natal que não foram comentadas aqui por pura falta de espaço são Allface, Experiência Apyus, Montgomery e Bugs.
Massa! De onde é esse zine?
belô!
Eu tentei passar esse zine pra vocês e não consegui aí depois acabei esquecendo. Ainda bem q vcs conseguiram…