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CLIPPING ROCK: SÍNTESE MODULAR (RN) NA TRIBUNA DO NORTE

Por Sílvio Santiago – especial para o VIVER

Nome essencial da música potiguar a partir dos anos 1990, o cantor, compositor e poeta Isaac Ribeiro lança seu primeiro registro fonográfico, “Síntese Modular”, à frente do projeto/banda homônimo. Integrante da extinta banda Florbela Espanca, cujos shows entre os anos 1990 e 1997 eram verdadeiros acontecimentos em Natal à época, Isaac mantém sua verve poética e seu refinamento musical nesse début.

DivulgaçãoAdriano Azambuja (guitarra),  Rafael Telles (programações), Isaac Ribeiro (vocal), Juscelino Brito  (bateria) e Jordan Santiago (baixo)Adriano Azambuja (guitarra), Rafael Telles (programações), Isaac Ribeiro (vocal), Juscelino Brito (bateria) e Jordan Santiago (baixo)

É certo que em seu álbum de estreia ele não abandou por completo temas e referências – como o blues, o rock, o folk etc. – recorrente em suas composições criadas no final dos 80 e no limiar noventista, presente no disco através da remanescente “Americanos”, composta em parceria com Ricardo Silva, em 1992. Seus antigos fãs – que costumavam jogar flores no palco durante suas antológicas apresentações – irão reviver os acordes característicos daqueles “anos jovens e alegres” com altas doses de contemporaneidade.

Isso se mostra já na primeira faixa do disco, “Cada Um” (“Parte do presente, do passado/ Parte do que está por vir/ Tanto tempo deve ter voltado/ Quanto tempo deve ter/ Cada um”), na qual efeitos eletrônicos introduzem um rock clássico onde o virtuosismo do guitarrista Adriano Azambuja se destaca.

Além de tocar guitarra nas outras dez faixas do CD, Adriano também toca piano e violão de 10 cordas num belo dedilhado, que funciona como vinheta em “Torquato”. A música foi inspirada no jornalista e poeta piauiense Torquato Neto, um dos nomes de peso da contracultura brasileira e do tropicalismo nos anos 1960, quando compôs várias canções em parceria com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jards Macalé, Luís Melodia, Edu Lobo, entre outros.

Ainda destaque nessa faixa, cuja letra diz “Viver alimentando a insatisfação/Às vezes é mais fácil não tomar a decisão/Fazer do sentimento instrumento da razão/É claro, escuro/Disparo, discurso/É raro e puro/Separo, refugo/Torquato viu tudo”, é o solo de harmônica de Rafael Telles, também responsável pelos efeitos e programações de todo o disco. Rafael se revela um dos artistas mais criativos e promissores de sua geração ao tocar escaleta em “Olhar de Louco” e teclado em “Tanque de Santos Reis”, essa composta por Isaac Ribeiro em parceria com Paulo Souto, que faz uma participação na música juntamente com o rapper Nêguedmundo.

Amplidão

Apesar de ser um disco eminentemente de rock, o que fica explícito no baixo pulsante de Jordan Santiago e na bateria vigorosa de Juscelino Brito, além dos riffs de guitarra de Adriano Azambuja, “Síntese Modular” não é radical. Mais que o rapskafunkragga, presente nas rimas de Paulo Souto e Nêguedmundo em “Tanque de Santos Reis”, o reggae também dá um tapa na produção — que está disponível para download no www.sintesemodular.blogspot.com, — na faixa “Agora Não”. Ela é introduzida por um sample de “What I Got”, da banda estadunidense Sublime, e atinge seu máximo com o solo de trombone de vara executado por Klênio Barros.

Apesar de cada faixa de “Síntese Modular” trazer uma particularidade e ser, no geral, uma obra para se ouvir com atenção e emoção, uma música pulsa e lateja na mente e nas veias deste redator desde a sua primeira audição: “Novo Vício”. É uma daquelas canções cheias de energia que faz a gente dançar com as paredes até comer os joelhos sem se preocupar com nada, quase num estado de êxtase. Mas, por abordar um tema controverso, os vícios — desde as drogas que desregram dos sentidos até às tecnológicas etc. —, a música também faz refletir: “Novo vício/ Diversão/ Às vezes te carrega nos braços/ Outras te põe no chão/

( …)Desperdício/ Pretensão/ Novo vício/ Diversão”.

Numa última análise, “Síntese Modular” é o resumo modernizado da fase mais fértil do rock produzido no Rio Grande do Norte na virada da década de 1980 para a passada até hoje, que inclui, além de Florbela Espanca, as bandas General Lee — rebatizada como General Junkie, cujos remanescentes atualmente integram o grupo de eletro pop DuSouto —, Modus Vivendi, Cabeças Errantes, Ferrovia do Ácido, entre outras.

Esse disco é, ainda, não apenas um resgate do vigor, da energia inerente ao estilo musical mais identificado com a juventude, mas também um manual para que esta e futuras gerações façam música — não apenas rock — com qualidade, transcendência e beleza.

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