Maria Betânia Monteiro – repórter
Certamente alguém deve se lembrar daqueles discos pequenos de vinil, que tinham em média quatro faixas por lado. Alguns eram coloridos e traziam os clássicos da literatura infantil, mas a maioria era mesmo de músicas interpretadas por cantores e instrumentistas. Aqueles eram os EP’s, sigla para o nome em inglês Extended Play. Eles eram usados para registrar faixas, que certamente comporiam um futuro LP, tradicionalmente com oitenta minutos de duração. As bolachinhas de vinil não têm mais lugar no mercado, mas a idéia de gravar um número reduzido de faixas está virando uma verdadeira febre entre os músicos do país. Em Natal, Simona Talma, Luiz Gadelha, Clara (da banda Clara e a Noite), os meninos do Bugs e Seu Zé são alguns dos que utilizam o recurso.
Os motivos nem sempre são os mesmos, mas o resultado é um só: a divulgação do trabalho para um público agitado, que não gosta muito de esperar por novidades. Para falar sobre a febre dos EP’s e de como o artista potiguar anda se virando para viver de música, o VIVER marcou um encontro no Café Salão Nalva Melo com alguns dos acometidos pela febre. Um deles Luiz Gadelha. Dono de um timbre adocicado, o músico não sabe dizer como, mas vive de música em Natal. “Se eu parar para pensar sobre isso eu enlouqueço”, disse o músico entre risos e gestos expansivos. Ele revela que o EP e a internet são dois de seus grandes aliados na luta diária pela bolacha.
Segundo ele, como não fez a opção de se engajar numa carreira profissional formal, das que começa em universidades, o jeito foi esmerar os seus talentos. Designer curioso, guitarrista talentoso e cantor nato, Luiz Gadelha conta que não dava para esperar o lançamento do seu primeiro CD, o “A Incrível História do Homem que Mudou de Cor”, que ainda está no forno, em temperatura branda. Com poucos recursos financeiros disponíveis, ele gravou o show ao vivo, no final do ano passado e está em fase de edição das músicas. “Estou fazendo tudo lentamente porque não tenho experiência”, revelou Gadelha. Com a demora ele resolveu se antecipar e colocar à disposição do público uma versão virtual da bolachinha sonora. O disco “A incrível… EP” está no ar para quem quiser degustar o trabalho do artista no site www.aincrivelep.110mb.com.
Diferente de Gadelha, a banda Seu Zé tem um disco na praça, “Festival do Desconcerto”. O disco foi realizado através de Lei de Incentivo à Cultura Câmara Cascudo. Apesar dos shows e das novas composições realizadas nestes oito anos de trabalho, o CD é o único do grupo. O motivo alegado pelo vocalista, compositor e baixista, Lipe Tavares, não poderia ser outro, senão o alto custo de produção.
Lipe e Gadelha fizeram um cálculo rápido e chegaram à seguinte conclusão: a gravação de uma única faixa de música num CD, custa às bandas cerca de R$ 300 e aos cantores sem banda, R$ 700. O preço foi definido a partir dos valores gastos com o estúdio – de gravação e edição -, contratação de equipamento e profissionais e gravação no suporte digital.
E foi exatamente pelo alto custo, que a banda Seu Zé resolveu voltar ao tempo e gravar um disco, nos moldes do EP da década de 1950. “As músicas do nosso EP vai para o disco que será lançado. Ele acaba se tornando um produto de marketing”, disse Lipe, mas explica que a versão reduzida, não substitui o CD.
Segundo Lipe, mesmo que o artista consiga produzir um disco, não é possível ter o produto como fonte de renda. Ele conta que uma unidade do CD pode custar R$ 6,00 em Natal, um valor muito alto, já que o mercado admite a venda por no máximo R$ 10,00.
Virtuosa virtualidade
Sem recursos para lançar CD, os músicos estão usando a Internet para divulgar seus trabalhos. Luiz Gadelha, por exemplo, aproveita praticamente todos os recursos disponíveis na internet. Desde as caixas postais on-line e sites de relacionamentos como o Twitter e o Orkut; às vitrines virtuais da música como o Myspace. “Com a internet você movimenta o trabalho o tempo todo”, disse Gadelha.
Gadelha conta que fez um diário de bordo virtual durante a gravação do seu CD e deixou disponível no YouTube. “Uma pessoa disse que estava ouvindo as minhas músicas. Perguntei se ela não se incomodava com os ruídos, já que se tratava de um rascunho, ela respondeu que não. Que estava preocupado apenas com o que eu estava cantando e isso foi uma prova de que as pessoas gostam de música, realmente”, disse Gadelha.
Lipe Tavares é outro que usa a internet como recurso de divulgação. “Usamos para conversar, agendar shows, divulgar o nosso trabalho e lançar músicas”, disse. Ele conta que duas das músicas, que ganharão espaço nas faixas do novo CD foram compostas em parceria com Luiz Gadelha pelo MSN. O músico disse ainda que faz um uso racionalizado da net, mas que os principais canais são utilizados pelo grupo. Para encontrar Seu Zé e Luiz Gadelha na Internet, o ponto de partida são os sites www.seuze.net e www.luizgadelha.com.br.