O inferno de Matanza.

Tudo parecia conspirar para que esse show não desse certo. Do lado de fora, s 17 horas, o público começava a chegar animado para ver o Matanza. Ouviam-se todos os tipos de boatos. A prima da namorada de alguém, que afirmava ter contato com um dos integrantes da banda, dizia que eles iriam tocar em João Pessoa, e que seria a primeira banda. Sem contar que ia ser um show curto por causa disso. Outros agonizavam ao ter que esperar três bandas para ver a atração principal da noite. Como se não fossem poucos os boatos, o som do DoSol Rock Bar teve uma pane geral, o que forçou o dono do local, Anderson Foca, a substituir o som por um equipamento mais acessível no momento. Isso gerou um atraso de mais de 3 horas no evento e a qualidade técnica mais tarde baixa.

Com a situação mais ou menos controlada, Motherhell, diretamente das terras paraibanas, João Pessoa, pra ser mais específico, entrou pra aquecer a galera. Eles já lançaram uma demo em 2005 e atualmente estão finalizando o 1º disco, a ser lançado pelo selo paraibano Aumenta que é Rock. Baixo, guitarra e bateria agitaram o público sedento, com músicas próprias e covers como Sex Pistols.

Com o fim da primeira banda, já não era mais possível não ver a ansiedade. Isso era facilmente notado com os gritos pelo nome da banda protagonista da noite. O DoSol ficou pequeno para aquele público, mas ninguém parecia se importar. Pelo contrário. A casa apertada facilitava os “moshs” que desde cedo começaram. Jimmy London chegou furioso, inspirado, só faltou bufar, com direito a fumaça pelas narinas. Tudo isso no melhor do espírito Rock ‘n’ Roll, algo dificilmente visto nas bandas que temos hoje em dia, carentes dessa sujeira tradicionalmente rocker. A banda botou a casa abaixo com seu Coutrry-Core de tirar qualquer um de si. Não dava pra ficar parado. Aliás, não dava mesmo, pois ninguém se arriscaria a tal feito ali embaixo, com o público incontrolável. Eles preenchem o palco, agitam e divertem como poucos. A interação com o público marcou o show. Além dos “diálogos”, alguns fãs que subiam no palco eram empurrados pelo próprio Jimmy (chutes e empurrões). E pareciam gostar. Subiam e esperavam a pancada, em uma realização espiritual quase tântrica. Isso sem contar o “concurso da camiseta molhada” promovida pela banda, em que 3 garotas subiram ao palco e foram banhadas de cerveja pelas mãos dos integrantes.

Música atrás de música, pancadaria atrás de pancadaria, não deixavam, nem que quisessem, que as pessoas ficassem paradas lá embaixo. Todas as músicas soavam como se fossem a primeira da noite, e lá se foram “Todo o ódio da vingança de Jack Buffalo Head”, “Interceptor V-6”, “Maldito hippie sujo”, “Imbecil”, “As melhores putas do Alabama” e muitas outras. Destaque para duas partes do show: uma, a música “Ela roubou meu caminhão”, que foi momento alto da noite. Tanta gente cantava, que dava para entender a letra melhor do que pela boca do próprio vocalista (leia mais embaixo). A segunda foi a apresentação de músicas de Johny Cash, ídolo dos integrantes da banda. Jimmy já chegou a afirmar em uma entrevista que sem ele a banda não existiria, tendo em vista que é a grande influência da banda, com direito até a CD tributo ao ídolo, To hell with Johny Cash. Infelizmente, não só a ótima atuação da banda marcou a noite.

Com o problema que o som teve mais cedo, o show do Matanza foi prejudicado. Não dava nem pra distinguir direito as letras (menos para os fãs de carteirinha que cantavam as músicas do início ao fim). Anderson Foca subiu ao palco e pediu desculpas pela falha técnica, mas anunciou, para o delírio das pessoas ali presentes, que o Matanza era a primeira banda confirmada para o Festival DoSol 2007. Sem dúvida, um dos melhores shows que Natal viu esse ano, e isso vai ser difícil de superar.

Fechando a noite, com a difícil tarefa de tocar depois do Matanza, com bem menos público, Jane Fonda veio com o som de todos os outros shows. Várias pessoas cantando as músicas em frente ao palco. Esses pareceram não ter tido o suficiente mesmo com toda a fúria anterior.

Que o DoSol continue a trazer ótimos shows como esse para Natal. Foca está de parabéns, e o público certamente muito agradecido.

Sapulha11/12/2006