Produção musical em Natal
Rafael Duarte – Repórter

Se no futebol, o treinador pode ganhar uma partida mudando a tática ou substituindo um jogador, o produtor musical trabalha para marcar um gol de placa quando assume a casa num estúdio de gravação.

A função do profissional que materializa a vontade do artista na produção de um CD ou DVD anda escondida. No Rio Grande do Norte, por exemplo, não existe nenhum curso específico de capacitação voltado para o produtor musical. Para quem atua na área, o trabalho realizado no Estado é experimental, o que não quer dizer que seja amador.

A TRIBUNA DO NORTE ouviu três produtores culturais e um proprietário de estúdio de gravação sobre a cena potiguar na área. De início, a preocupação era esclarecer a função, na maioria das vezes, confundida com a de técnico de som, arranjador ou de produtor executivo.

O idealizador do selo Mudernage e produtor musical, Vlamir Cruz, compara a profissão com a de diretor teatral. ?As pessoas confundem muito, mas é como o diretor de teatro. Na música é o produtor quem vai com a banda para o estúdio conceber a música. Ele oficializa a idéia que o artista tem em mente. Mas aqui tem muita banda que não se toca da necessidade do produtor. Algumas vezes, o técnico de gravação faz o serviço que não é dele?, afirma.

Atualmente, ele atua como produtor dentro do selo musical. Indagado sobre os cursos de capacitação, ele cita apenas iniciativas esporádicas coordenadas pela Agência Cultural do Sebrae. No entanto, não tratam especificamente da profissão. ?De vez em quando a agência promove cursos de áudio e gravação em estúdio. Dá para ter uma noção, mas não é exatamente voltado para a função do produtor?, avalia.

Outro que pretende provocar uma discussão ainda que superficial sobre o tema é o produtor Anderson Foca, mentor do selo DoSol. Na próxima semana, ele promove, a partir de quarta-feira, um seminário com profissionais do mercado local e nacional sobre cultura dentro do festival DoSol, que ocorre entre os dias 4 e 6 de agosto, no largo da rua Chile. ?No primeiro dia vamos falar sobre isso, mas é mais ligado a shows. Acho que a produção musical cresceu bastante porque aumentou a demanda de CDs gravados na cidade de uns cinco anos para cá. E tem um pessoal muito bom atuando no mercado potiguar mesmo não tendo especialização na área. Vejo essa capacitação até como necessária, mas não adianta ter equipamento e saber mexer se o cara não tiver o felling para sacar a coisa?, analisa.

Para ele, a produção de CDs em Natal não deve nada a outros centros do País. ?Estamos num nível bem alto. Se comparar os discos que são feitos aqui com os fora você vai ver que estamos bem?, conta Foca, que tem na bagagem 15 CDs produzidos pelo selo Dosol.

Mas será que o produtor musical consegue sobreviver do trabalho? Para o proprietário do estúdio de gravação, Wilberto Amaral, não.

Segundo ele, a demanda de lançamentos ainda é baixa para manter os profissionais. ?Temos em média quatro lançamentos por semestre aqui em Natal. E imagine isso dividido entre vários profissionais. Geralmente o produtor musical também é músico. Eu não conheço ninguém que vive apenas disso. O cara só sobrevive como produtor em Natal se tiver um estilo alternativo, quiser viver de luz?, ironiza.

Ele conta que a demanda maior no mercado atual é o trabalho voltado para o forró. E como o estilo não depende de um conhecimento maior por parte do profissional, a qualidade também cai. ?Já entrou gente aqui nos apresentando produtor que não entende de nada, nem acompanha a banda. E como temos na nossa equipe produtores sérios acabamos fazendo esse trabalho. Ainda assim, temos muita gente boa que vem batalhando há muito tempo no mercado. A falta de especialização não significa dizer que o trabalho é amador. Temos esses casos de gente que não entende do assunto, mas outros que já trabalharam com nomes de renome nacional e hoje estão aqui, como o caso de Joca Costa, por exemplo?, disse.