ENTREVISTA POR EDUARDO MESQUITA!
Acho que o rock independente vive um bom momento, um momento de solidez, de encontro com a realidade da troca do “sonho do contrato” pela realidade de ser ter um trabalho sem atravessadores. Acho que isso faz a coisa girar. Isso se reflete muito nos festivais independentes (aqueles que realmente tem esse foco e não os que fingem tê-lo), hoje nenhum deles é feito para servir de trampolim para gravadoras, todos estão lá tocando para divulgar seu trabalho, tentar expandi-lo, vendê-lo ou coisa do tipo. Ser dono do próprio nariz é muito bom e a cena ano 2000 do rock indie está com essa visão (ou ampliando ela).
Os principais gargalos da cena independente não são só culpa de quem está no meio dela. Falta educação para compreender o novo, falta formação para dar sustentação real ao que já está pronto (formação de platéia, ajuda real e direta a festivais de nova música, etc.). Tem também aquilo que é culpa nossa. O roqueiro no geral é preconceituoso e se acha melhor que os outros estilos (mais inteligente e descolado), isso nos isola, nos atrapalha e nos engessa em muitos casos. Se fôssemos mais maleáveis (e inteligentes) poderíamos crescer mais rápido e fazer as coisas do nosso jeito. Alguns já perceberam isso, mas em âmbito geral ainda temos que avançar.
Natal é uma cidade maravilhosa, com menos de um milhão de habitantes, qualidade de vida foda e por aí vai. No rock creio que sejamos um pólo de produção independente entre os maiores do Brasil, e se levarmos em consideração nossa posição geográfica aí o treco chega a impressionar. São dois super festivais anuais respeitadíssimos, o MADA no primeiro semestre e o Festival DoSol (que eu produzo) no segundo. Temos o DoSolRockBar, que é uma das referências de gestão de rock bar (voltado para a música autoral) no Brasil. Para você ter uma idéia por lá já passaram mais de 600 bandas diferentes desde 2004, quando abrimos as portas. Quase todas as bandas relevantes do novo rock brasileiro tocaram por lá (ou ainda vão tocar, basta vir ao Nordeste). Temos também selos em atividades (DoSol, Mudernage, Solaris, Xubba), sites especializados, rádio tocando alguma coisa, gente produzindo em todas áreas. Os últimos quatro ou cinco anos tem nos deixado no mapa. As bandas locais não acompanham muito essa super produção, poucas viajam e se tornam relevantes, mas isso o tempo resolve.
Acho Goiânia foda pro rock. O trabalho da Monstro, dos outros selos, da Decibélica e das bandas é muito bom. Os festivais Bananada e Goiânia Noise sempre me impressionaram e quando tive oportunidade de tocar no Noise, aí chapei de vez. Só o que falta pra cena de Goiânia é um rock bar que caiba uns 500 nego, que abra todo final de semana com bandas locais e bandas de outros estados. Aí a cidade fecha o ciclo. Banda, festival e produtores aí tem de sobra. Sou fã do Fabrício Nobre, só não divido um prato de comida com ele porque ele come minha parte!
Eu aprecio a persistência e a continuidade do trabalho que é o que faz a diferença e o que faz as coisas crescerem!
Tenho planos de ficar rico com música independente, mas não creio que isso vá acontecer, então vai continuar sendo um plano, hoje e sempre! 🙂