Clipping

CLIPPING: CAMARONES ORQUESTRA GUITARRÍSTICA NA CAPA DO SEGUNDO CADERNO DO O GLOBO


Banda de rock instrumental Orquestra Camarones Guitarrística
Foto: Divulgação

 

Banda de rock instrumental Orquestra Camarones Guitarrística

RIO – Pobres vocalistas. Da surf music dos cariocas do Beach Combers ao rock eletrônico do paraense Strobo, passando pela Jovem Guarda reciclada do pernambucano Os Lontras, uma novíssima leva de bandas instrumentais se espalha pelo país, renovando uma cena que, desde o começo dos anos 00, não dá sinais de que vai se calar.Tocando conforme a própria música, impulsionada pelo poder disseminador da internet e conquistando uma fatia cada vez mais jovem do público, essa turma — que inclui também a potiguar Camarones Orquestra Guitarrística, com seu som básico, e os mineiros do Dibigode, com sua levada MPB-post-rock — optou pelo idioma dos instrumentos para fazer sua carreira decolar de forma independente, inclusive de alguém no comando do microfone.

Explorando o lado B de diversos gêneros musicais, essa turma evolui pela trilha aberta por grupos como Macaco Bong, Burro Morto, Rabotnik, A Banda de Joseph Tourton, Pata de Elefante e Hurtmold (que acompanha Marcelo Camelo), assumindo algumas dessas influências em busca de uma sonoridade própria.

— Gostamos de coisas antigas, como Dick Dale e The Pop’s, mas também somos muito fãs do Pata de Elefante — afirma Bernar Gomma, guitarrista do trio Beach Combers, que se apresenta, no sábado, no Studio RJ, lançando seu primeiro disco, “Ninguém segura os Beach Combers”.

Punk e guitarrada

Em 2011, a caminho desse primeiro trabalho próprio, o grupo lançou um “web álbum”, com 13 versões instrumentais de clássicos da Jovem Guarda intitulado “Na brasa volume 1”.

— Foi importante para a nossa evolução ter lançado aquele disco, porque esse lado instrumental da Jovem Guarda sempre foi uma referência para a gente, assim como a surf music — conta Bernar. — Aos poucos, fomos vendo que existe um público que curte essa levada instrumental, às vezes sem nem perceber isso. Por isso, é bom ver outras bandas, de diferentes estilos, surgindo, cada uma seguindo um caminho.

O Pata de Elefante também é referência para a Camarones Orquestra Guitarrística. Criada em 2010, “de onda”, para tocar trilhas sonoras de desenhos animados e filmes, a banda decidiu investir em repertório próprio e estreou em 2010 no Recbeat, tradicional evento do calendário de Recife. Não parou mais. Só no ano passado, foram 120 shows — neste ano, já passaram dos 40.

— Os shows acabam fomentando essa cena. O guri vê o Macaco Bong tocar e daqui a pouco está formando uma banda instrumental — acredita o tecladista Anderson Foca.

No CD “Espionagem industrial” a banda mostra a potência de sua música, que bebe de alguns dos gêneros mais pulsantes que já passaram pelas caixas de som do planeta.

— Nossa base é o rock, mas gostamos de ska jamaicano dos 1960, punk rock básico de 1977, tipo Ramones, surf music antiga e também o mais novo, música paraense — lista Foca.

O Strobo, de Belém, carrega elementos da música paraense no sangue. Seu caminho começou a ser trilhado em janeiro de 2011, quando Léo Chermont (guitarra) e Arthur Kunz (bateria e programações) se uniram. Desde então, o grupo — que chamou a atenção durante o festival Abril Pro Rock 2012 — lançou três EPs virtuais (“001”, “Bizarro Dance Club” e “Quando se perde a inocência”) e um CD, homônimo, reunindo esse material, lançado no começo deste ano.

— Tentamos achar um meio termo entre a nossa paixão pela eletrônica, por Led Zeppelin e até mesmo pela guitarrada — conta o baterista, que toca também na banda do conterrâneo Felipe Cordeiro. — Somos fãs do Macaco Bong e sabemos que temos que encontrar uma identidade própria para nos destacarmos dentro dessa nova cena. Afinal, não basta apenas tirar o vocalista e fazer um som sem novidades.

Música de praça de alimentação

Tiago Eiras, baterista da mineira Dibigode, identifica características regionais na atual cena instrumental brasileira:

— As bandas de São Paulo (Hurtmold, São Paulo Underground) têm uma unidade sonora estética, com muitos efeitos, bastante experimentação eletrônica. Acho fantástico, mas a onda mineira é outra, trabalhamos muito a melodia, talvez por influência do Clube da Esquina. E o jazz é muito forte em BH.

Mas jazz e Clube da Esquina não bastam para demarcar os limites da música do quinteto mineiro. O apuro instrumental e melódico está presente ali, sim, mas em momentos como “Debaixo d’água” eles denunciam a origem.

— Quando formamos a banda, ouvíamos muito Tortoise e nos identificávamos com a ideia de explorar novas estéticas — afirma o baterista. — Mas, dentro da nossa realidade, com chocalho, berimbau, violão faltando corda. As músicas de nosso CD não têm uma uma unidade estética. Umas são mais jazz, outras rock, latinas… Mas todas contam uma história. Por isso, nosso público vai do circuito alternativo ao tiozão que está na pracinha de bobeira.

Dibigode também atenta para o lado visual. Lançado no fim de 2011, o disco “Naturais e idênticos ao natural de pimentas da Jamaica e preta” é, na verdade, um livro com textos e arte gráfica (além do código para baixar as músicas, que, no final do mês, estarão disponíveis gratuitamente e remasterizadas no site da banda). E os shows incluem sempre intervenções de vídeo, dança ou o que vier à cabeça.

Os Lontras — projeto instrumental dos integrantes do Mombojó — também parecem se preocupar com o aspecto visual. Afinal, até agora, como nota, brincando, o guitarrista Marcelo Machado, o único investimento na banda foi o néon escrito “Os Lontras” que fica no meio do palco. A brincadeira tem um tanto de verdade ao apontar certa despretensão. O projeto é visto pelos músicos pernambucanos como um momento de relaxamento musical. Som de fundo mesmo.

— Não nos preocupamos em inovar no Lontras, a ideia é fazer som ambiente. Queremos, se possível, fazer nosso show sempre num espaço gastronômico, fazer som ambiente para as pessoas ficarem só no bem-estar — explica Machado. — A praça de alimentação é o melhor lugar para o Lontras. Se pudéssemos, faríamos uma turnê só passando por praças de alimentação.

Linguagem mais pop

Criada no início deste ano e com apenas dois shows no currículo (numa galeria em São Paulo), a banda recria a atmosfera dos arranjos de Lafayette e The Pop’s, aplicando-a a canções da Jovem Guarda — diferentes das do repertório do Del Rey, projeto paralelo do Mombojó com China, dedicado a Roberto Carlos — e outras como “Ave Maria”, “Vida de viajante”, “I’ll be there”, “Lithium”, “Sá Marina”… Nação Zumbi, Peter Bjorn and John e Sergio Mallandro também estão no repertório. Sem a pretensão de querer inovar, portanto, eles acabam soando originais.

— É diferente, sim. Mas fazemos tudo de forma muito tranquila, sem a preocupação de criar timbres, inventar nos arranjos. Se no Mombojó a quantidade de pedais que uso às vezes é um tormento, no Lontras nem distorção uso — conta o guitarrista, que arrisca uma explicação para o bom momento instrumental. — As bandas estão tendo um cuidado maior em fechar um arranjo. Não entram mais naquela de ficar num groove infinito. As músicas têm começo, meio e fim. Uma linguagem mais pop.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/cena-instrumental-do-rock-brasileiro-continua-se-renovando-5424845#ixzz20DCizYiD

Previous ArticleNext Article

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *