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BRUNO NOGUEIRA (PE): ORQUESTRA CONTEMPORÂNEA DE OLINDA

Quem conhece a música que é feita em Pernambuco percebe com facilidade como a cidade de Olinda emula noções de um gênero próprio. Existe uma estética própria que vai muito além da música unindo bandas como a Eddie e o Bonsucesso Sambaclube. Dois casos onde explicar a cidade é muito mais fácil que dizer que tipo de música que eles tocam. Parece complexo, mas é só mais um daqueles casos só-vendo-pra-entender. De um certo modo, é a música feita por essas bandas que se espera ouvir quando falamos que determinado grupo vem daqui.

E é exatamente por isso que qualquer mudança significativa na música daqui vai vir de uma dessas bandas. Sem muito alarde, a Orquestra Contemporânea de Olinda começou o fim de semana avisando que o primeiro disco já está pronto e vai ter lançamento pelo selo Som Livre Apresenta. Eles fizeram um dos melhores shows no Abril Pro Rock do ano passado, mas como não tinham nada lançado da maneira tradicional, acabaram não criando tanto barulho na cidade (em comparação a, por exemplo, um Vitor Araújo ou como a própria Academia da Berlinda fez quando lançou disco), mas emendaram com ótimos shows tanto no Festival de Inverno de Garanhuns quanto no Recbeat desse ano.

Essa é a primeira mudança. A Orquestra desafia o agendamento que tranqüiliza a vida dos jornalistas. Ninguém estava mandando release para avisar que eles estavam trabalhando. Sinal de que acompanhar uma cena local já exige muito mais trabalho (que na minha opinião, ainda não é feito). E Mombojó, Nação Zumbi e Vitor Araújo a parte, essa notícia é do tipo bombástica. Som Livre, para quem não se tocou ainda, é a maior gravadora nacional em atividade, a única que não está choramingando por crise. Afinal, funciona dentro da maior rede de comunicação do país, a Globo.

A união é perfeita, porque a Som Livre também desafia esse mesmo agendamento. Eles mandam CD e até marcam entrevistas, mas seus artistas ainda estão presos num limbo entre o independente e o mainstream. Não tocam na novela, nem estão nos festivais. Melhor exemplo para observar é a excelente dupla gaúcha Tom Bloch. É natural esperar uma grande estratégia de Marketing, considerando a quem eles respondem, mas em termos de estratégia, o selo parece ser muito mais cauteloso que qualquer Deckdisc ou Biscoito Fino.

Na verdade eles estão legitimando o modo de trabalho em que o artista precisa fazer um pouco mais do que apenas tocar (algo que ainda é confuso entre os independentes). E com uma música que é consciente da delimitação geográfica que faz parte, mas despida de qualquer clichê do mesmo, a Orquestra (fundada por Gilsinho, ex Bonsucesso Samba Clube) tem agora além de potencial, ferramenta para ir além desse nível dos festivais.

Só esbarram um pouco no azar, pelo menos em termos de momento mercado. A música que eles tocam está na maior fase de divas, enquanto na orquestra estão doze homens. É verdade que uma voz feminina, em termos estéticos, acrescentaria muito pouco as atuais composições (o que é natural, afinal, foram compostas para voz masculina), mas os parâmetros para estar na televisão ou numa trilha sonora são sempre baseados em termos esquisitos. Do tipo “queremos lançar uma nova diva”.

Falamos de momento, claro. Nada que a banda não tenha mostrado ainda que sabe trabalhar muito bem. Não precisamos esperar chegar dezembro para destacar o que deve ser o melhor disco lançado em Pernambuco em 2008. Até lá, é só para constatar se essa será mesmo a nova maior banda. Sem trocadilho com a quantidade de integrantes.

No MySpace da banda dá para ouvir seis músicas. Mas nada de downloads por enquanto.

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