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BRUNO NOGUEIRA (PE): DAMN LASER VAMPIRES (RS)

damn

De: Porto Alegre – RS
Selo: Independente
Para quem gosta de: Bauhaus, Bob Dylan

Talvez apenas dois estados tenham uma identidade tão marcante quando se trata do rock independente. Goiânia, claro, cada vez mais o destino certeiro do hard rock no país, mas principalmente o Rio Grande do Sul. O termo “rock gaúcho” é tão esquisito e sem uma lógica certa (não se trata exatamente do rock feito por gaúchos) que chega a fazer sentido quando usado na prática para delimitar aquele rock puramente sessentista aliado a uma atitude mod. E ao mesmo tempo que é esquisito, também é forte ao ponto de funcionar como uma peneira para tudo que sai daquela região do Brasil. O impacto é forte quando a gente escusta algo tão fora desse padrão, como é caso do Damn Laser Vampires.

O trio gaúcho poderia ser descrito como uma banda de rock gótico, que estaria tão certo quanto errado. Formada por três cartunistas, o que eles fazem na verdade é processar na forma de música uma infinidade de referências que vem dos filmes B, da cultura trash onde o glamour soa brega e tudo surge em contrastes exagerados de cores e sons. Como um filme esquisito sobre vampiros onde, por mais ridiculo que pareça, todos levam extremamente a sério. E eles fazem isso tocando misturas de polka, folk e rock de forma bem espirituosa.

O Damn Laser Vampires serve de exemplo perfeito a dois textos famosos. O primeiro são as notas sobre o “camp” de Susan Sontag, que fala daquilo que é bom por ser ruim. Não o estéticamente pobre, ou de má execução, mas que se constrói nesse sentido. Na adoração pelas relações esquisitas e não convencionais (assim como acontece com os próprios filmes B). O segundo é sobre a forma como o sociólogo Simon Frith falava sobre o “saber ouvir” na experiência musical. É preciso saber ouvir os malditos vampiros de laser, muito mais do que simplesmente se deixar ser invadido por suas músicas. Quando isso não acontece, cai o risco de tudo ser mal interpretado por jogadores de RPG em uma festa errada.

A banda já lançou um EP e um disco completo. Esse último se chama “Gotham Beggars Syndicate” e acompanhava ainda um zine só com histórias em quadrinhos desenhadas pelo trio. Além do circuito de shows do Rio Grande do Sul, eles também já conseguiram sair das fronteiras locais e tocaram em festivais como o Goiânia Noise e tiveram suas músicas lançadas por um selo no exterior. Na mini-entrevista abaixo, eles falam um pouco mais sobre a banda.

Quando falamos de rock, talvez o Rio Grande do Sul seja a região brasileira com a identidade mais engessada. É difícil ser uma banda tão peculiar numa cidade onde o rock gaúcho é quase uma regra? Vocês costumam interagir com outras bandas desse tipo por aí?
Eu nunca sei exatamente como o resto do país ainda vê o rock do RS, embora exista mesmo essa tendência sessentista que um dia alguém resolveu chamar de “rock gaúcho”. O problema é que isso é mais ou menos como imaginar que no Rio de Janeiro só existe samba. O cenário sulista de rock é muito rico e muito diversificado. Prova disso é o nosso caso, a gente tinha tudo pra ser recusado de cara e nos surpreendemos. Nos relacionamos bem com muita gente, um pessoal que vai de um extremo a outro, do punk ao eletrônico ao hardcore ao sessentista, e por aí vai… Não somos encanados com isso de rotular. Música boa é boa, música ruim é ruim, é mais simples do que se pensa.

As referências do Damn Laser Vampires são muito específicas. As pessoas entendem a banda de cara? Como é quando vocês tocam num lugar totalmente novo e diferente?

Já aconteceram coisas engraçadas. Teve mais de uma vez em que chegamos no lugar em que íamos tocar e tinha góticos e vampiros a caráter pra todo lado. E uns vinham e diziam “Me falaram que o som de vocês é tipo o Lacrimosa!” (risos) Isso é meio deprimente.

Escuto algumas canções de vocês e fico imaginando como seria legal aquilo em russo ou romeno 😛 Cantar em inglês parece ser sempre uma opção natural. Mas, com tantas escolhas incomuns, vocês já pensaram em fazer música em algum outro idioma?

Inglês é a língua original do rock. Quando eu estou cantando, não penso que estou cantando em inglês, estou apenas cantando. A Elizabeth Fraser usava um “vocabulário inventado” que não era nenhuma língua conhecida, mas que fazia um sentido sonoro. Essa é a idéia.

Algumas letras de “Gotham Beggars Syndicate” têm rimas de inlgês com francês, citações em italiano… seria interessante explorarmos outras línguas bonitas, como russo e romeno, mas não domino esses idiomas. Precisaria estudar as gramáticas, e tal.

Tem outras bandas tão diferentes assim no Rio Grande do Sul? Fora o óbvio que tem circulado por ai, que outras novas bandas do estado vocês acham legais e que deveriamos estar ouvindo?

Reverba Trio (grupo instrumental com influências de Dick Dale e afins), Hellbelicos (fazem um psycho-punk de viking muito divertido), Chiclé Demência (electrorock excelente com influência de Kills, New Order, Joy Division e Primal Scream), Loomer (garage shoegaze muito bem feito), Mess (Maria Elvira e os Suprassumos do Swing, formada por integrantes de algumas das melhores bandas gaúchas, como Planondas e Sonicvolt), Blush (electro inspirado em Marylin Manson, Madonna e europop), Lautmusik (shoegaze atmosférico intenso, com um parentesco entre Cure, Siouxsie e Cocteau Twins), Transmission (garage shoegaze 90, bonito e melancólico), Tom Enola (muito divertida, ótimas letras, influências de B52’s e Devo), Supergatas (punk hard rock que faz referência ao punk 77 e ao NY Dolls), Beckandroll (rock n’ roll puro, guitarras bem marcantes), Músicas Intermináveis Para Viagem (duo instrumental super climático, excelentes arranjos), Bandinha Di Dá Dó (banda de palhaços, tem um show muito empolgante com acordeon e performances circenses), The Nobs (bem 70, referências a Led Zeppelin e T-Rex), Yesomar e Carbura (ambas grandes bandas de stoner rock). Outra que nós adoramos é Bodji & os Pegando Fogo (letras impagáveis, baladas geniais). Procurem urgentemente por essas bandas.

Quando montaram a banda, vocês tinham a pretensão de chegar a tocar em um festival como o Goiânia Noise e serem comentados fora da cidade? Depois disso, qual a atual ambição de vocês?

Não tínhamos pretensões (risos). Sério. Era tipo “Vamos gravar esse EP e mostrar pras pessoas. Se não nos espinafrarem, vamos tentar marcar uns shows.” Mas aí aconteceu tudo o que aconteceu, fizemos uma avalanche de shows, descolamos um selo no exterior, lançamos um disco em vários países, fizemos trilha de filme, viramos uns esquisitos que uma meia dúzia de doidos pelo mundo gosta muito, quer dizer… deu tudo certo. Nossa atual ambição – nossa atual paixão, eu diria – é o próximo disco.

Como é que a banda está nesse exato momento? Vocês tem feito shows? Ensaiados músicas novas? Pretendem sair de casa ou lançar algo novo em breve?

Nunca paramos de fazer shows. Estamos estudando a possibilidade de sair pra tomar “novos ares” e em breve deveremos dar notícias sobre isso. As músicas novas estão em pleno processo de produção e, se tudo der certo, o disco novo vai estar pronto este ano.

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2 Comments

  1. Acho o som desses caras muito pretensioso. As influências que reinvindicam, não se aplica ao som que eles fazem. E essa coisa de filme “b” tá muito por fora e é inconsistênte. Perdeu-se realmente a linha elvolutiva do Rock & Roll com o pretexto de barbarizar. Não vejo nada de bom surgindo no fim do túnel. E essa da vanguarda rock remeter aos anoss sessenta é pura vigarice. O Rock & Roll já foi muisica de ponta, era sempre o que tinha de melhor, devido as tecnologias aplicadas, as melhores técnicas musicais. Hoje sem dúvida é o que de pior existe na música. O rock novo é vigarice, viva o Rock “n” Roll excencial.

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