Semestre passado, durante uma disciplina que eu dei na graduação da UFBA, um aluno perguntou “professor, você só conhece jornalista ruim, né?”, de tanto exemplo que eu trazia na aula. Mas eu tive que explicar que o abusrdo já fazia de certa forma parte da profissão, por mais grosseiro que certas coisas soassem. E agora, a Época, da editora Globo, descobriu com atraso maior do que já foi permitido que o jornalismo cultural brasileiro – inclusive o praticado por ela própria – é preguiçoso e retardado ao ponto extremo da vergonha alheia.
Se Andrew Keen – aquele cara que previu que o apocalipse da terra seria anunciado no MySpace – lesse as notícias brasileiras, talvez estivesse se masturbando agora de tanta alegria. Porque a banda Móveis Coloniais de Acaju disse que o nome deles era uma homenagem a “Revolta do Acaju”, uma que eles leram sobre na internet. E mesmo que essa fosse uma história que envolvia em uma mesma sentença coisas como “ilha do bananal” e “índios javaés”, a revista simplesmente publicou. E decidiu verificar apenas um mês depois. E quando descobriu, deu como justificativa nada menos o fato de que “outras revistas e jornais também o fizeram”.
O que leva a pensar que, de todas as coisas absurdas que chegam todos os dias em redações através de releases elaborados por gravadoras, que garantem uma pseudo-autenticidade a bandas de mentira lançadas por Rick Bonadio, foi um nome engraçado que fez a dupla de jornalistas se questionar pela primeira vez sobre o que estavam vendendo como verdade. Seria uma comédia trágica suficiente, não tivessem tido eles a espirituosa idéia de publicar uma “investigação” conduzida para descobrir a verdade sobre algo tão revelante a música brasileira como a fonte do nome de uma banda de brasília.
Talvez em todos os ensaios e reuniões que o Móveis teve com seu time de integrantes, eles jamais conseguissem pensar numa estratégia viral tão boa e divertida quanto essa. Porque ao tentar provar uma mentira, a Época acabou transformando a Revolta do Acaju em verdade. Uma que já está sendo espalhada por twitter, blog, fãs da banda e curiosos do acaso. Todos afirmando o “#euacredito”, que talvez nem seja retwittado pelo Ashton Kutcher e vire um Trending Topic, mas dá um pouco de graça a navegação entendiante do dia a dia, em busca de uma boa novidade musical. No mínimo, um mote legal para batizar o primeiro DVD deles, quem sabe?
E você? Acredita na #revoltadoacaju? #euacredito
que papo é esse…