Por Marcos Bragatto
Desde “Octavarium” o Dream Theater parece ter entrado numa nova fase em sua carreira. Se antes o grupo se perdia em tecnicismos que tornavam sua música por vezes cansativa, de uns tempos pra cá ele aprendeu a usar a complexidade técnica e a virtuose a favor do bom gosto. Na verdade o divisor de águas pode ter sido o pesado “Train Of Thoughts”, que abriu caminho para uma nova época na banda, e este “Systematic Chaos” e o “Octavarium”, tal qual irmãos gêmeos, se completam em uma unidade impressionante. Talvez por isso o encarte (bem acabado, como de hábito) traz as bolinhas da capa de “Octavarium”.
Além de um desenvolvimento musical preocupado como o que o resultado pode causar aos ouvidos mais distantes (e não só aos dos fãs de longa data ou estudantes de música), pesa uma certa estabilidade vocal de James LaBrie. Maduro, o vocalista não está mais preocupado em atingir essa ou aquela nota, mas canta com uma regularidade que lhe é conveniente e cabe muito bem na banda como um todo. Não é a toa que uma música como “In The Presence Of Enemies – Part I” abre o disco com nove minutos de duração e se esvai como se fosse reles introdução. A faixa é tão boa, colante, cativante, que soa como um sopro aos ouvidos. A continuação dela, com mais uns 17 minutos, está curiosamente no final do disco, num caso típico de “cobra mordendo o próprio rabo”: tudo recomeça em um looping bem sacado.
E isso sem falar na metalinguagem permanente, com o disco remetendo a si próprio o tempo todo, e ainda a outras bandas que influenciam o Dream Theater, salpicadas aqui e acolá. Na introdução de “Constant Motion”, sobretudo quando entram os vocais, há algo de Metallica; em “The Dark Eternal Night”, é a vez de Emerson Lake & Palmer comparecer; “Repentance” evoca Pink Floyd; a ótima “Prophets Of War” devolve ao Muse a citação feita no último álbum deles, “Black Holes And Revelations”, e assim por diante, em tudo o que é trecho de música – quem tiver mais conhecimento que encare o desafio de identificá-los.
Uma outra característica dessa nova fase é um certo equilíbrio entre as partes “prog” e “metal” da coisa, num encaixe bem homogêneo entre elas. Tanto que, por vezes, os teclados, em vez de trazerem pasteurização ou chateação ao disco, acabam lhe fornecendo um “plus” de peso sutil poucas vezes encontrado pelo próprio Dream Theater ou por bandas afins. Esse é certamente um dos discos em que o grupo mais usou os teclados, embora sem exageros desagradáveis. É o típico exemplo do bordão “a coisa certa no lugar certo”. Mesmo na melosa “Forsaken” (a que mais tem cara de hit) os teclados do bem se solidarizam com os vocais de LaBrie.
Para completar o chamado “conjunto da obra”, nesse disco as letras estão muito mais apuradas e identificadas com realidades contemporâneas. Há guerra, conflitos internos, convivência e (por que não?) relacionamentos. Como curiosidade, a parte final de “Repentance” traz a participação de Joe Satriani, David Ellefson, Steve Hogarth, Steve Vai e Jon Anderson, entre outros, fazendo uma locução. A música homenageia Bill W., fundador dos Alcoólicos Anônimos, que reabilitou o baterista Mike Portnoy, autor da letra. “Systematic Chaos” parece, enfim, fechar certinho um ciclo com seu antecessor, a menos que tudo ainda esteja só no começo.
Longa vida ao Dream Theater! Apesar dos melhores Cds permanecerem sendo o Images, Awake e o Metropolis II, o som dos caras não consegue passar despercebido.
Na primeira vez em que ouvi o Sistematic Chaos já percebi de cara algo de Mettalica. E o disco está realmente muito bom!!!
Também acho que o melhor disco é o Scenes e gosto daquele tipo de trabalho que o Dream fazia. Mas as novidades são muito bem vindas, ainda mais partindo deles que são mestres em me surpreender.