Por Anderson Foca
Chegamos nessa semana a 400.000 mortos pela covid no Brasil. Aquele número que ninguém queria que chegasse e que na real, ninguém esperava que chegasse. Vivemos o luto diário por familiares, amigos, conhecidos e pela situação geral que convivemos na hora que acordamos até a hora de ir dormir novamente (é como prêmio uma boa noite de sono). Todos os dias eu me pergunto: por que continuo provendo cultura e música no meio disso tudo? Como ser criativo nesse tipo de ambiente? Que ânimo se tem para ter um combo cultural com esse estado de coisas?
Esse momento pandêmico reforça muito aquele sentimento que fez a gente nascer em 2001 como Dosol. Música e Cultura para gente é tão importante como oxigênio. Jamais conseguiríamos fazer o que fazemos se não fosse uma necessidade vital da nossa própria existência com esse codinome. O Dosol só nasceu porque respira música, só persistiu porque vive música diariamente e não paramos diante dessa pandemia porque a sombra da tristeza e da maldade vinda da extrema-direita brasileira tomaria conta do nosso sol brilhante por longos 20 anos.
Tem dia que a gente acorda, vai nas nossas salas de trabalho e tem vontade de chorar e não dizer nada. Em outros estamos animados, prevendo um futuro que obvio é brutalmente incerto, especulando o que pode ser ou como será quando pudermos nos encontrar com segurança novamente. O trabalho online, os lançamentos de dezenas de artistas (quase todos desconhecidos inclusive dentro da nossa própria cidade), acalenta, deixa o fogo aceso e nas horas felizes e tristes os 20 anos de Dosol vão sendo colocados em xeque, como um grande teste de resistência pelo qual todos nós estamos passando.
A cultura real, o fazedor do bem cultural real, não quer voltar a promover eventos com público a qualquer preço. Nós provemos alegria, educação, esperança, narramos as novidades. Não combina com esses sentimentos botar pessoas em risco “seguindo todos os protocolos”, que sabemos, são ineficazes num Brasil confuso pela sua própria natureza, com um governo omisso e incapaz de liderar a nação como deveria. Tem um protocolo que a gente acha que dá certo: vacinação em massa para todos. E é isso que a sociedade, empresários, produtores, artistas, influencers e toda a fauna da comunidade brasiliana deveria cobrar diariamente.
Por que continuamos aqui? Porque queremos ficar vivos e aproveitar muito do país que poderemos ser e que vamos lutar para ser, missão do Dosol desde fevereiro de 2001, quando usamos esse nome pela primeira vez.
Foto por Ariel Martini