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Segue abaixo opinião do jornalista do diário de Natal, sérgio Vilar sobre o debate com o os candidatos a governador do RN, realizado ontem na Casa da Ribeira.

Por Sérgio Vilar

Tácito Costa definiu o Debate Cultural promovido pela Revista Catorze e o Núcleo de Jovens Artistas como de “alto nível”. Concordo, em parte. Candidatos educados, perguntas educadas (nem precisava tanto!), plateia um tanto alterada (a famosa claque) e discurso mesclado entre propostas concretas e total desconhecimento de assunto. Prefiro a definição da amiga Raíssa Tâmisa: “Me mostrou que cada povo tem mesmo o governo que merece”.Percebeu-se pouca preparação dos candidatos. Pudera: junte o “mói” da classe artística que quase lotou a Casa da Ribeira e não se elege um presidente de conselho comunitário. Daí a herança de décadas de mendicância cultural. Mas valeu o alto nível da iniciativa. O proveito do debate foi inquestionável, em minha opinião. Claro, sem a ingenuidade na crença no respeito às falácias e propostas ditas. Não. Proveito na comparação de discursos e no registro para futuras cobranças, por mais inúteis que sejam.

Não aponto vencedor. Tenho minha opinião e meu voto nulo já declarado. Farei uma resumo de perguntas e respostas escritas em rascunho pequeno de papel – suficiente para anotar pontos relevantes do debate ou para a organização transcrever no twitter, em tempo real. E vale o registro de que o governador Iberê faltou mesmo ao evento. No horário, estava em encontro no Versailles com “jovens”. De certo, uma “categoria” mais numerosa e influente nas urnas.

Meu destaque foi a promessa de dotação orçamentária de R$ 30 milhões prometida por Rosalba (afora a folha de pagamento) à Fundação José Augusto, a partir da fixação de 1% do ICMS destinado à cultura, e a criação de uma Secretaria Estadual de Cultura da parte de Carlos Eduardo – iniciativa prontamente negada por Rosalba. Vale ressaltar: o orçamento pra cultura em Mossoró na gestão de Rosalba foi ínfimo e durante 6 anos à frente da prefeitura Carlos Eduardo não criou a Secretaria Municipal de Cultura.

Por Sérgio Vilar

Nos 10 minutos iniciais concedidos a cada candidato, Carlos Eduardo leu uma carta compromisso até consistente, ao meu ver. Comentou da “injustificável ausência de política cultural”, prometeu a Secretaria, o aumento da renúncia fiscal à Lei Câmara Cascudo, e criar o Fundo Estadual de Cultura. Rosalba prometeu os R$ 30 milhões de dotação orçamentária, “grandes eventos culturais”, gerar renda e estabelecer uma ponte com o turismo, investir na formação de plateia e um Festival Nacional de Folclore.Anderson Foca (DoSol) perguntou acerca da dotação orçamentária. Rosalba repetiu a promessa dos R$ 30 milhões e Carlos Eduardo ressaltou o orçamento próprio da Secretaria de Cultura. Nelson Marques (Cineclube) cobrou a política cultural. Carlos Eduardo insistiu na construção dessa política a partir de setores da Secretaria junto aos artistas. E Rosalba citou a regulamentação do Fundo de Cultura e a construção de um calendário cultural no Estado.

A jornalista Michelle Ferret indagou da utilidade das Casas de Cultura. A candidata do DEM prometeu manter as Casas, mas com ações culturais efetivas. Carlos Eduardo ressaltou o perfil de Dácio Galvão e a gerência firme. Salvo engano, se entendi bem, disse ao final que as Casas ficaram obsoletas (corrigam-me, por favor). E quer saber? Também acho. Papel de incentivo deveria ser municipal. Enfim…

Pedi a Carlos Eduardo mais detalhes dessa Secretaria, como ficaria a FJA e o porquê de durante 6 anos (até disse 4, na hora) ele não criou a Secretaria Municipal nem o Fundo Municipal, também prometido no debate. Solicitei ainda a Rosalba, que deixasse registrado naquela hora, o compromisso ou não da criação dessa mesma Secretaria. O candidato do PDT disse que não houve tempo e citou os vários projetos e iniciativas realizadas em sua gestão. Disse ainda que a FJA ficaria responsável por convênios de cunho nacional e internacional.

E Rosalba disse que o problema da Cultura não é a FJA em si, é fazê-la funcionar. E negou a intenção da Secretaria. Disse ainda que criou uma gerência inédita de cultura em Mossoró. Na tréplica, Carlos Eduardo frisou: “Quem define orçamnto é Secretaria”. Nas considerações finais, Carlos Eduardo disse ainda que a cultura não anda porque a Secretaria de Educação e Cultura, em essência, é só de Educação. E a cultura vive do caos da FJA (o “caos”, é adjetivo meu).

Em minha opinião, após essas primeiras perguntas, o discurso dos dois candidatos parece ter terminado, se esgotado. E vieram sucessões de respostas inacabadas e algumas até ridículas.

Ramon (Catorze) perguntou das iniciativas de incentivo ao artista. Respostas vazias. Henrique Fontes (Casa da Ribeira) formulou pergunta contextualizada a respeito da dicotomia equivocada entre política cultural e política de eventos e cobrou as intenções do vínculo da cultura com a educação. E acho que nem vale transcrever as respostas, baseadas em oficinas, formação de plateia em escolas ou incentivadas a partir da realização de eventos.

O compositor Esso Alencar perguntou da receptividade dos governantes aos projetos elaborados pelos artistas. Nenhum comentou a respeito de editais (aliás, assunto pouco explorado e citado superficialmente por Rosalba no início do debate). Ambos citaram a convocação de artistas para discutir planejamentos.

Pergunta equivocada e despretenciosa rendeu risadas e provocações. Foi o porquê da falta de transporte público à Zona Norte após as 0h, quando terminam apresentações culturais. Carlos Eduardo pediu que elegessem uma prefeita mais eficiente. E Rosalba retrucou e disse que quando Carlos Eduardo foi prefeito, nada fez, também.

Ridículo foi quando perguntaram o destino da Revista Preá. Os dois candidatos pareciam pensar no bicho e nunca na revista. Rosalba foi chacoteada pela plateia. “Se for algo relevante, manteremos”. E Carlos Eduardo, que criou a Brouhaha, poderia dar um banho na resposta. Mas respondeu o mesmíssimo vazio. As tréplicas para a mesma pergunta mereciam um tomate jogado – repetiram a mesma coisa.

A última pergunta foi acerca dos projetos para o circo. Carlos Eduardo colocou como uma das prioridades e Rosalba prometeu circos itinerantes e oficinas.

Nos discursos finais, sequências de falácias. Carlos Eduardo disse ter investido praticamente os mesmos R$ 4 milhões anuais destinados à cultura pelo Governo só com a realização do Natal em Natal, mesmo com orçamento oito vezes menor. Sabemos que não é por aí. R$ 4 milhões são apenas da renúncia da Lei. Há créditos suplementares aos montes, afora o ridículo orçamento da FJA. Rosalba frisou os R$ 30 milhões. E acredite nesse valor quem for sobrinho de Papai Noel.

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