Fazer um vídeo gravado ao vivo nos dias de hoje não é fácil. Afinal, com a proliferação dos DVDs, ficou difícil fazer algo de realmente diferente. O R.E.M. demorou tanto para gravar um disco ao vivo em sua carreira, que acabou juntando tudo num produto só (2 CDs + 1 DVD) e se saiu muito bem, ao menos no quesito vídeo. Ao invés de um simples registro do show, o diretor Blue Leach (Depeche Mode) foi esperto: capturou a banda em enquadramentos diferenciados e – eis o achado – usou recursos de pós-produção que modificaram as imagens típicas de um show de rock como outro qualquer. Assim, sobreposição de imagens, cenas propositalmente desfocadas, chuvisco, cores estouradas (ou p/b) e outros artifícios, numa edição nervosa, dão um “que” artístico que já coloca este “Live” num outro patamar. Dito isso, convenhamos que o R.E.M. não é lá uma banda de canções tão empolgantes assim. Sua carreira, embora muito bem sucedida, é marcada por músicas mais cadenciadas de onde saem hits pontuais, e – é verdade – irresistíveis. Na hora de selecionar o repertório, a banda também não ajuda, e faz questão de evitar seqüências matadoras colocando músicas mais lentas e levadas de violão entre esses hits – sem falar de ausências injustificáveis. Se como fazem nos jogos de futebol transmitidos pela TV, computássemos os momentos empolgantes e os chochos, estes venceriam com facilidade. Isso para o público em geral, posto que a platéia de Dublin (cidade natal do principal rival do grupo na disputa de maior banda do mundo) se encanta com a íntegra do show.
Assim, o início promissor com a densa “I Took You Name” só encontra eco em “Bad Day”, a sétima, e em “Orange Crush”, onde se destacam os backing vocals de Mike Mills. Nesse meio, a dramática “Everybody Hurts” ganha contornos emocionantes na medida em que vai crescendo do meio para o final. Michael Stipe, também, não chega a ser um magnífico performer. Se esforça para dançar em algumas músicas, mas na maioria não se movimenta muito, e chega a ser irritante quando insiste em cantar agachado no palco. A iluminação ajuda, fixando matizes de uma cor só, dependendo de cada momento do show, e é ajudada pelos néons posicionados verticalmente, como na turnê que passou pelo Rock In Rio, em 2001.
Mas Stipe tem discurso, diz que vem dos Estados Unidos e apresenta duas músicas pacificistas, feitas, segundo ele, “em protesto pelo que nosso governo tem feito”. São elas “I Wanted To Be Wrong” e “Final Straw”, cujas letras são exibidas em um telão, na parte de cima do palco. Segue o hit “Imitation of Life”, que arma, aí, sim, uma seqüência empolgante com “The One I Love”, “Walk Unafraid” (quase destoante) e “Loosing My Religion”, fechando o espetáculo. Michael Stipe volta apelando com a camisa da seleção irlandesa (num país onde o futebol nem tem tanto destaque assim) para um bis com cinco músicas, mas omite “It’s The End Of The World…”, evitando o final “quebra tudo” desejado por muitos. Abre, no entanto, espaço para Mike Mills cantar sozinho a jurássica “(Don’t Go Back To) Rockville”, e fecha a noite numa grande festa, com “Man On The Moon” empolgando todo mundo, em Dublin e no DVD também.
Por ter fundido os formatos CD e DVD, “Live” deixou o segundo CD quase vazio, apenas com as músicas do bis. Ali a banda poderia ter colocado algumas faixas bônus, sobretudo de outras épocas. Afinal, trata-se de o primeiro álbum ao vivo do R.E.M. em todos os tempos.