Unanimidade rara no mundo do rock, este vídeo do Iron Maiden é sem dúvida um dos melhores em todos os tempos, e, portanto, tem o lançamento em DVD aguardado há anos, não só pelos numerosos fãs da banda, sempre dispostos a comprar tudo que aparece. Trata-se do registro ao vivo do grupo, numa época em que gravar um álbum ao vivo significava o desfecho de um período de sucesso, o auge de um artista. E o Iron Maiden estava realmente no auge naquele ano de 1985, porque: a) O grupo tinha repetido pela primeira vez na história a mesma formação para a gravação de um disco; b) Depois de dois discos excepcionais, “The Number Of The Beast” e “Piece Of Mind”, gravou sua grande obra-prima, “Powerslave”, que teve repercussão em todo o mundo; c)Vinha fazendo longas turnês, com cenários temáticos, e na “World Slavery Tour” rodou o mundo, totalizando 193 shows em 322 dias, passando por 24 países. Era ou não a hora de se registrar tudo num álbum duplo ao vivo? Mais que isso, o show gravado na Long Beach Arena, em Los Angeles, entre os dias 14 e 17 de março (há quase 24 anos!) foi lançado na época em “home video”, com 12 músicas das 17 originalmente editadas no vinil duplo, talvez por falta de espaço no formato VHS. A versão lançada agora em DVD duplo traz apenas uma música a mais, “Sanctuary”, que por sua vez foi omitida nas duas versões do disco, quando lançado em CD. Ou seja, permanecia inédita. O show aparece soberano no DVD 1, e embora a qualidade das imagens tenha apenas uma ligeira melhora, continua a impressionar, justamente pela banda, afiadíssima em cima do palco, com um repertório extraordinário: nada menos que dez músicas da espetacular tríade “The Number Of The Beast”/”Piece Of Mind”/“Aces High”. Chega a ser comovente ver clássicos retirados do repertório do Maiden há anos, como “Rime Of The Ancient Mariner”, “Fligh Of Icarus” e “Revelations”. E ainda todos os integrantes em forma e com um gana de fazer inveja a muitos grupos de hoje em dia. O cenário desenvolvido para essa turnê, baseado nos temas egípcios de “Powerslave”, foi o maior e mais complexo já feito pela banda, com intermináveis mudanças, o que só acrescentou ao visual e ao espetáculo como um todo. O “jeito Iron Maiden” de se fazer um show.
Se o DVD tivesse só o show da Long Beach Arena já seria o bastante, mas o disco 2 é indispensável, sobretudo para os brasileiros. É que traz aproximadamente 50 minutos do show feito pela banda na mesma turnê, durante o primeiro Rock In Rio, no dia 11 de janeiro de 1985. A gravação não é das melhores (feita pela Globo), com imagens muito escuras e som abafado, mas vale pelo registro histórico e pela assustadora multidão de brasileiros. Os créditos falam em 300 mil pessoas, mas deviam ter (só!?) umas 250 mil. O repertório é parte daquele do vídeo principal, e o que chama a atenção é Bruce Dickinson continuar cantando depois de se chocar com um braço de guitarra e ficar com o rosto sangrando, durante “Revelations”.
Outro vídeo legal que o DVD traz, e certamente muito aguardado pelos fãs “das antigas”, é o “Behind The Iron Curtain”, gravado em 1984, nos países que durante a Guerra Fria eram chamados de “Cortina de Ferro”: Polônia, Hungria, Tchecoslováquia e Iugoslávia – sendo que esses dois últimos hoje nem existem mais. As imagens mostram um clima de fanatismo à “Beatles”, já que, na época, poucas bandas de rock tocavam por lá. Antes de “Live After Death” ser lançado, era esse vídeo que circulava entre os fãs, e foi muito exibido, inclusive no Brasil, na época do Rock In Rio de 1985. Entre as músicas a novidade é “22 Acacia Avenue”, mas há passagens impagáveis, como a do grupo tocando “Smoke On The Water”, do Deep Purple, na Polônia, durante uma festa de casamento, onde todos entraram de penetra; e o diálogo entre um polonês que quer tocar heavy metal com sintetizadores e Bruce, que o desaconselha com um ar de deboche. Hoje certamente a resposta seria outra.
Já a seqüência do documentário “History Of Iron Maiden” desanda um pouco em relação à primeira parte. Com cerca de uma hora de duração, esta etapa se concentra na gravação do álbum “Powerslave” e na turnê subseqüente, na qual foi gravado “Live After Death”. O problema é que, como não há muitas imagens da época, no estúdio, a maior parte do documentário foi feita recentemente, com os integrantes do Iron e da equipe que participou das gravações e da turnê lembrando de fatos interessantes. Na maior parte do tempo, entretanto, a conversa pende para o lado das piadas internas que não chegam a interessar muito ao espectador.
Daí os parcos quinze minutos de uma entrevista feita com Bruce e Steve Harris no Texas, em 1985, ter rendido muito mais para se entender o que realmente rolava na época. O material faz parte do curta “‘Ello Texas”, que também faz parte do disco 2. Nessa matéria Steve e Bruce começam a falar do estresse das longas turnês, e o assunto é bastante explorado quando, já nos dias de hoje, todos relembram como o desgaste entre eles ia surgindo. Nico McBrain chega a citar que se preocupava com Bruce e a seqüência de shows diários, já que o vocalista, por motivos óbvios, era o que mais sentia o cansaço. O fato é que nunca mais o Iron Maiden fez uma turnê tão grande e em tão pouco tempo. E talvez essa seja a deixa para a continuação do documentário, que logo deve chegar na saída de Adrian Smith, seguida da de Bruce.
Outros extras menos cotados são a galeria de fotos, que inclui imagens do “Tour Book” da época, num tamanho que dá até para ler o conteúdo, e os clipes para “Aces High” e “2 Minutes To Midnight”. Mas analisando todo o material, e guardando a importância de cada parte, fica escancarado o óbvio: é o vídeo clássico de “Live After Death”, sucesso indelével, a grande jóia que faz desse DVD imperdível.
Nota: a versão em áudio do show gravado na Long Beach Arena mais completa é a que foi lançada em CD duplo em 1998, com as 17 músicas que originalmente saíram em vinil, mais “Wrathchild”, “22 Acacia Avenue”, “Children Of The Damned”, “Die With Your Boots On” e “Phantom Of The Opera” – todas do show da mesma turnê no Hammersmith Odeon, em Londres. Traz ainda uma seção multimídia (para computador) com os vídeos de “2 Minutes to Midnight”, “Powerslave” e trechos incompletos de “Revelations” e “Aces High”, além de outros extras. “Sanctuary”, só no DVD mesmo.
foi um dos primeiros vinis que comprei. Duplo, lindo! tenh uma memória afetiva muito grande com essa gravação…