Por Marcos Bragatto, Rio de Janeiro
“Somos humanos ou dançarinos?”. A frase que integra a música “Human” é uma espécie de senha para entender este novo álbum do Killers. Ou, quiçá, a banda em si, uma vez que, num olhar menos amiúde, pouco há de diferente entre esse e os dois álbuns anteriores, muito embora a impressão geral seja de que “Hot Fuss”, de 2004, era mais conciso e pop, e “Sam’s Town” (2006), deslumbrado e pretensioso, no pior dos sentidos. Pois aqui se encontra um pouco de tudo isso, em doses menos simplificadas e não tanto aberta às viagens temáticas de gosto duvidoso – estamos no século 21, afinal de contas.
Isso não quer dizer que o grupo conseguiu compor os hits certeiros do disco de estréia, mas os rapazes tentaram e chegaram bem perto, por exemplo, com a boa “Spaceman” e em “Losing Touch”, que abre o CD. A citada “Human”, que entre as outras duas forma uma trina de arrasar, tem também vocação para as pistas, mas é atrapalhada por uma estrutura um pouco complexa para uma geografia onde o que menos importa é o cérebro. Fazer hits dançantes deve ser sempre o objetivo precípuo para a banda que conseguiu o mais improvável em tempos de cópias fiéis extraídas dos anos 80: não apenas desenterrar, mas atualizar o tecnopop, subgênero até então fadado ao beco sem saída da repetição. Ainda mais no reinado da fria música eletrônica.
Mas fazê-lo sem cair no lugar comum é o que importa para o Killers, daí errar a mão ou acertá-la são situações muito próximas. “Joy Ride”, por exemplo, tinha tudo para ser funkeada e agradável, antes de ganhar um “quê” de latino e um desnecessário saxofone. Tampouco os efeitos Paul Simon fase “Graceland” de “This Is Your Life” ajudam. “Neon Tiger”, de título inspirador para um grupo como o Killers, é outra que fracassa, mas dessa vez pelo tema pouco desenvolvido. Ou seja, produção e arranjo – no caso do Killers mais que em outros – andam lado a lado com a feitura de uma música. Por isso o grupo participa ativamente do processo, sendo responsável também por equívocos como “Good Night, Travel Well”, que deve ser espécie de terceira suplente do repertório da época de “Sam’s Town”.
A parte boa vem quando Bradon Flowers e sua turma acertam. Caso das três que abrem o disco e ainda da suave, porém não menos cativante “I Can’t Stay”, que de tão boa, com realce na impecável voz de Flowers, deixa o sax inconveniente quase passar batido. “The Wolrd We Live In”, que deve ser aquele mesmo mundo de humanos e dançarinos, é outra relaxante e até despretensiosa, mas não descarta o carimbo do Killers nem nos efeitos de eco da guitarra ou nos exagerados (afetados?) sintetizadores. Saber usar essa teclas sem interferir nos demais instrumentos ou cansar o ouvinte pela repetição, aliás, é uma outra indelével virtude do grupo, reafirmada nesse “Day & Age”. Talvez isso é que faça do Killers um grupo em sintonia com sua própria contemporaneidade. E, por que não, com a de todos nós, humanos ou dançarinos.