Por Marcos Bragatto
Embora seja, entre os subgêneros do rock aquele que seguramente mais admitiu interferências e mudanças, o heavy metal não é, paradoxalmente, dado a misturas, a ponto de o máximo cuidado nem sempre ser o bastante. No disco de estréia o cantor/homem banda Libra escolheu o árido caminho de ceder ao gothic/doom metal um sotaque pop pra tocar em rádio. Não que outras bandas já não tenham feito isso, e com sucesso – caso do HIM, por exemplo -, mas o repertório todo cantado em português, e acolhido por uma grande gravadora nesse disco dá ao material certo tom de ineditismo.
Mas Libra não é um aventureiro, tampouco um kamikaze do metal. Levou cerca de cinco anos para gravar e arredondar o conjunto de músicas desse disco, em que toca todos os instrumentos, além de cantar – exceção feita às participações especiais indispensáveis para o gênero que incluem violinos, corais e vocal feminino. O procedimento remete ao de grupos de origem do metal extremo nórdico, que, sozinhos, produziam as raízes do black metal. Mas Libra não é do mal. É da dor e do sofrimento. Suas letras invariavelmente apontam para um final infeliz. “Cada passo dado é mais um passo em direção ao fim” é sua frase chave.
É aí que vem o sal das músicas. Se as histórias são, por força da estética, tristes, as composições em geral soam atraentes até para o cidadão comum, menos interessado em conceitos. “Sangue Frio”, que abre o disco, tem levada densa, pesada e cativante já nos primeiros versos. “Preparar, apontar…”: é a alça de mira de Libra mostrando o cartão de visitas com sutil delicadeza pop e peso balanceado. Em “Eletricidade” a veia pop atinge o ápice com a ajuda dos (discretos, mas eficientes) vocais de Marya Bravo, e – agora sim – um refrão grudento não deixa dúvidas quanto ao sucesso da receita que Libra maturou esses anos todos. Espécie de “Depeche Mode meets HIM”, a música tem ainda melódicas guitarras em evolução que não deixam dúvidas quanto ao seu poder de fogo. Outra que merece destaque é “Quando o Mundo Acabar”, que circula no limite do pop e do pesado com extrema habilidade.
Às vezes, porém, a melancolia das letras encontra abrigo nas canções. “Na Minha Pele”, referência direta ao gothic metal europeu, é uma dessas que, se sufocam ou angustiam, têm o poder de arrebatar. Se o texto do disco é de depressão, nem tudo soa realmente como um mar de rosas. Pouco inspirada, a baba “Cinderela” destoa do repertório, e a bela e triste “Âncora” também não ajuda. Outro ponto baixo é a produção do CD, que colocou as vozes muito altas e acabou subtraindo o peso das músicas, algo indispensável em se tratando de metal. Se não foi de propósito, a falta de um produtor do ramo é evidente.
“Até Que a Morte Não Separe” é, antes de tudo, um disco bem intencionado, mas que se mostra irregular na medida em que funde (ou não) as duas partes que se esforça para unir: pop e metal. Por isso, às vezes não engrena; noutras atinge em cheio o gosto do freguês. É, no entanto, um disco de estréia, e nesse sentido carrega uma identidade promissora. Que Libra se esforce ao máximo para desenvolvê-la. O caminho nunca tem fim.
Gosto muito de metal, e de vários outros generos musicais. Apesar de eu não gostar muito de vocal em português, esse cd é um dos melhores cds que eu ja ouvi… Parabens a banda, principalmente ao Libra, merece todo o sucesso.