Por Bruno Nogueira (popup.mus.br)
Ouvir o baixo distorcido, misturando o surf music robôtico com todo o período new wave da década de 80, é de longe um dos maiores prazeres que a banda Autoramas proporciona ao rock independente do Brasil. São os atuais donos dessa bandeira do faça-você-mesmo no país, com 10 anos recém completados de conquistas que já atravessam continentes. Nada mais justo para um grupo que é hors-concours no gosto nacional celebrar esse momento com esse que deve ser o melhor disco da carreira. Aguardado com ansiedade, Teletransporte chegou nas lojas no começo deste mês pelo selo independente Mondo 77.
É o quarto disco da banda. O vocalista e mentor do Autoramas, Gabriel Thomaz, reforça seu talento para hits radiofônicos e viciantes em 14 faixas que grudam – sem exceção – na nossa memória auditiva. Uma capinha charmosa dá idéia de passageiros embarcando numa viagem pelo mundo num avião vintage. O título do disco faz referência ao futuro, mas o visual demarca que a banda continua com uma forte referência retrô, com pé bem fincado no que começou na Jovem Guarda, referência que cresce a medida que seus integrantes também viajam pelo país com o projeto paralelo Lafayette e os Tremendões.
Mundo Moderno reforça essa idéia de futuro atrasado da banda. É uma música mais sombria que o padrão normal do Autoramas. Abre o disco com guitarras mais aceleradas, como num tema de perseguição alucinante de um filme de ficção ciêntifica dos anos 80. Os graves do citado baixo distorcido acentuam cada vez mais as canções. Thomaz descobriu o que faz a maquina Autorama funcionar e decidiu ativá-la em potência máxima. Se, assim como nos outros discos, ele conseguir o mesmo espaço que as rádios e MTVs deram de maneira inocente (leia-se: sem jabás), corre o risco da banda passar finalmente de nível e chegar ao nebuloso mainstream pop nacional.
Parte dessa ótima surpresa do disco vêm pela produção de Kassin e Berna Ceppas, dupla que já “deu um trato” em discos de Adriana Calcanhoto, Caetano Veloso, Jorge Mautner, Vanessa da Matta e Los Hermanos. Cinco trabalhos lançados em clima de “grande volta” que agora também inclui o Autoramas na lista. O disco traz a tona um conceito cada vez mais esquecido no rock independente nacional, que é o de “clima rrrrrrock”, letra R puxada que é uma das marcas registradas de Gabriel Thomaz no palco. Apertar o play em Teletransporte é também ativar todos os botões secretos que fazem o corpo dançar de maneira descontrolada.
Nessa viagem rock, o climax chega em Já cansei de te ouvir falar, música que traz também a voz da baixista Selma Vieira. Surtei, Muito Mais e Panair do Brasil se juntam ao melhor do repertório. Esta última, é importante ressaltar, tem participação especial do maestro e tecladista Lafayette. E apesar de toda essa tensão para que a banda finalmente exploda sua bolha independente, ter um disco lançado depois de turnês na Europa e Japão dá ao trio comandado por Thomaz pé no chão suficiente para saber que, caso isso não aconteça agora, não os impede de continuar lançando ótimos discos.