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REPERCUSSÃO: ABRIL PRO ROCK SEGUNDO DIA NA REVISTA O GRITO

Na longa noite de sábado, seis estrelas, chamarizes de platéia, estavam prontas para subir o palco e arrazar. Foi o que aconteceu durante o segundo dia de apresentação do Abril pro Rock que, literalmente, jogou no lixo o clima de decepção provocado pela primeira noite. O festival havia entrado finalmente no eixo à revelia de qualquer força contrária já no comecinho da noite.Quem abriu as atividades do palco principal, foi uma velha conhecida do público recifense, a banda Autoramas. Gabriel Thomaz, Flávia Couri e Bacalhau animaram um salão completamente cheio e que correspondia, em todas as esferas, às exigências do artista principal. No set list os sucessos como “Nada Haver”, “Paciência” e “Fale Mal de Mim” e aquela velha performance recheada com carinhas, bocas, olhos esbugalhados e movimentos de marcha. Tudo bem funcional e redondo, sem espaço para decepções.

Autoramas parece ter aquecido o Chevrolett Hall fazendo com que a platéia aguardasse algo mais. Sentimento esse correspondido com Wander Wildner no palco. A apresentação causou comoção, fazendo todo mundo pular e soltar gritinhos eufóricos. De longe foi o show mais animado entre os dois dias de apresentação.

Gonzo, como Wander prefere ser chamado, começou sua interpretação levando em conta a nova proposta melódica que o aproxima de uma música mais comercialesca. O público não se intimidou, continuou animado e pedindo sucessos como “Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro” e “Bebendo vinho”. Quando finalmente foi atendido, Wildner viu o poder do próprio sucesso e se refestelou com a apresentação mais aplaudida da noite. O vovô mostrou à que veio, sem ter medo de represália.

Na seqüência, Céu, grávida de seis meses, começou e terminou seu show de maneira corretíssima. No set list estavam os principais sucessos radiofônicos que fizeram o público cantar coladinho com a cantora, sem errar o compasso da banda. Júpiter Maçã, mostrando que está vivinho da Silva, trouxe duas maças no meio das pernas, um quadril que de tão rebolativo ficou contrangedor e um repertório cansativo e morno. Melhorou somente quando entoou “Um Lugar do Caralho”, sendo acompanhado por todo Chevrolett Hall, inclusive por Wander Wildner que estava no salão empunhando uma cerveja e recebendo abraços de fãs.

Os neozelandeses do The Datsuns foram o enigma da noite. Com um show longo e arrastado, a banda terminou a apresentação e deixou uma pergunta no ar: o que esses magrelos, com cabelos grandes e gestual que mais parece um pastiche de uma atitude rocker, vieram fazer aqui? Bem, todo mundo ficou sem resposta aparente e eles foram o grande hiato de uma noite de sonoridade bem concatenada. Teria sido uma grata surpresa apostar em uma banda mais nova no palco principal. Essa, porém não foi a opção da produção.

Depois de oito horas de shows ininterruptos, chegou a vez de Lobão. E muita gente comprou ingresso só para vê-lo e tentar compensar a última vez em que ele esteve no Recife em uma apresentação decepcionante no UK Pub. Com 14 instrumentos de corda no palco, ele comandou uma platéia que, apesar do aparente cansaço, já que ele subiu no palco às 2h50, não arredou o pé do Chevrolett Hall nem mesmo na hora do bis. E isso foi pra lá das quatro da matina.

E não faltou clássicos como “Decadence avec elegance”, “Me chama”, “Ronaldo foi pra Guerra”, entre tantas outras. Impossível não cantar juntinho com o velho lobo polêmico e abusado.

Sweet Fanny Adams (Foto: Luciana Ourique)
Sweet Fanny Adams (Foto: Luciana Ourique)

O NOVO INDIE
Palco 2 e 3
Por Wagner Beethoven

No palco 3, duas bandas apresentaram mais pretensão do que realmente alguma eficácia em suas propostas sonoras. A mais bem acabada foi a Madalena Moog, que apesar da falta de apuro vocal tem tudo que uma banda nova precisa: bom-humor, som animado e uma integrante feminina simpática. Só não ficou muito claro a identidade do grupo, mas nada que não seja resolvida com o tempo. O Erro de Transmissão, que tocou em seguida, protagonizou a mais fraca apresentação da noite. Apesar da boa produção das músicas e da entrosação, nada justificava o som adolescente do grupo. Em alguns momentos, a banda parecia se assemelhar a Pitty, o que não é elogio para ninguém. Foi um evento muito grande para uma banda ainda tão pequena. Tem muito chão ainda para eles.

O Barbiekill, vendidos como a new rave do Nordeste, furaram eles mesmos, a bola do hype, enchida por jornalistas e apreciadores do grupo. Com carisma e presença de palco, a música da trupe de Natal era um pastiche do que o CSS já fez. Destaque para algumas faixas que utilizam elementos de funk.

Promessa pro cenário indie pernambucano, o Sweet Funny Adams fizeram um bom trabalho e conseguiram iniciar bem os trabalhos no palco 2. Os meninos trouxeram um som com influências do indie-rock gringo (até porque eles cantam em inglês), mas obtiveram boa resposta do público. Tocando músicas do seu trabalho anterior, Sweet Funny Adams e o mais recente Fanny, You’re No Fun, a banda animou bem mais do que os indies que faziam festa a cada música tocada. O que já significa muito para uma banda que, a todo momento, parece querer dialogar com um público maior.

Um das surpresas do festival, o grupo de Goiania Violins, mesmo tendo pouca presença de palco, mostrou um rock de impacto, muito pesado. O repertório composto por músicas dos dois álbuns, Grandes Infíeis e Tribunal Surdo (2005 e 2007, respectivamente) assustou quem nunca tinha os visto ao vivo. No show a leseira dos álbuns não foi levada a sério, o que fez a banda agradar a platéia. Foi com o Violins que ficou claro que o cenário alternativo agora tem muito mais criatividade e coragem do que o mainstream que agitavam o palco principal do evento.

A organização do festival foi bastante corajosa ao trazer o pianista erutido-pop Vitor Araújo para os palcos do APR, o garoto pernambucano que recentemente lançou seu primeiro trabalho, TOC – Ao Vivo no Teatro Santa Isabel. Seu show juntou um público que certamente estava escutando o rapaz pela primeira vez. Ele tocou poucas músicas, mas que nortearam o quão ampla e variada são as refências de Vitor: Villa-Lobos, Chico Buarque, Levine e a música que o tornou pop, Paranoid Android. Todas as músicas foram tocadas de forma sincera e incrivelmente hipinotizante. Vitor que, além de tocar faz caras e bocas, foi aplaudido por um público atônito e maravilhado.

Indie-rock, pop e jovem guarda, foi o conteudo do show dos sergipanos dos Rockassetes, a banda que tem circulado na mídia independente fez digno o nome de banda de rock, levaram ao pé da letra da palavra ROCK. Os EPs, Sistema Nervoso (2005) e SamPa SEcília (2007) eram cantados aos berros pelos fãs mais fieis, e ainda teve uma menina que me viu no show anotando e me deu uma aula de Rockassetes, apenas por que eu perguntei qual era o nome da música, “Próximo Romance”, o grupo que já tocou agradeceu a muita gente, mas eles têm merito próprio e mostraram isso no show.

Muito elogiado pela crítica especialida, o Superguidis é uma banda formada em 2002, com dois CDs e influências do Pavement, Guided by voices, Yo La Tengo, Weezer e Teenage Fanclub, mas no palco a pegada era outra. A banda trouxe um show com uma identidade muito forte e novamente como na maioria dos shows do palco dois, a cartase era nítida nos rostos dos fãs.

O Pata de Elefante tocou pra um público que definitivamente não aguentava mais esperar por Lobão. O show deles teve apenas uma música com vocal, “Hey”, do novo trabalho do grupo de Porto Alegre, Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha. O elogiado som instrumental da banda não agradou, talvez por ter sido a penúltima banda, o que prejudicou de sobremaneira a apresentação dos gaúchos.

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