Rafaella Soares
Do JC OnLine
Uma maratona. Assim foi o o segundo dia do Festival Abril Pro Rock 2008. No início da noite deste sábado (12), as iniciantes Madalena Moog (RN) e Erro de Transmissão (PE) abriram a programação, tocando no palco 3. Em seguida, a Sweet Funny Adams (PE) desfiou o repertório do seu EP homônimo pelo palco 2. Depois foi a vez da capixaba Barbiekill. O som não traz muita novidade; nada que os precursores do Cansei de Ser Sexy ou mesmo Bonde do Rolê não tenham feito. O APR continua no próximo dia 27 com os shows das bandas alemãs Gamma Ray e Hellowen.
Mas energia de verdade veio no primeiro show do palco 1, com os sempre competentes Autoramas (RJ). O líder Gabriel Tomás alia suas coreografias a letras bacanas de levada surf music. Freqüentador assíduo da cidade, Wander Wildner sempre atrai um público interessado em suas baladas sangrentas. A novidade foram inéditas versões em ritmo de frevo para Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro e Bebendo vinho.
Lá pelo meio da noite, o inusitado veio na forma de Vitor Araújo. O clima intimista criado por ele no palco 2 era quase erudito. Quase. Interpretando versões arrojadas de Chico Buarque – Samba e amor virou um jazz – e Radiohead – “Paranoid Android” ficou quase irreconhecível – , o jovem pianista não deixou de homenagear as raízes, tocando o frevo Último dia, de Levino.
Grávida de seis meses, a cantora Céu (SP) agradou fãs e curiosos com as razoavelmente conhecidas: Roda, Malemolência e Lenda. Só faltou uma canja com Doce guia, cantada por ela no projeto 3 Na Massa. Após a curta apresentação dos Rockassetes, subiu no palco a cultuada banda “de um homem só” Júpiter Maçã (RS). O show começou preguiço, mas engrenou após o coro da platéia no hit Lugar do caralho (sem a participação de Wander, ainda presente no local).
Corte os excessos das bandas estreantes e você tem Pata de Elefante. O power trio gaúcho faz um rock básico de qualidade, sem muita ligação com o pop estilo sixties tão em voga pelos lados do Sul. Enfim chega o momento da atração mais aguardada da noite. Valeu a pena esperar oito horas por El Desdichado. Lobão subiu ao palco 1 às 2h50 da manhã, para a maior freqüência de público no evento até então. Talvez por sua persona irreverente, ou mesmo pelo interesse nas suas canções, o público não arredou o pé até o bis.
O cantor já havia apresentado seu Acústico MTV no Recife , mas nem de longe teve a repercussão deste show. E como na verdade os violões ficam plugados, o espaço do Chevrolet Hall foi mais adequado ao projeto. Não faltaram clássicos, como Essa noite não, Decadence avec elegance, Me chama, Vida louca vida, Ronaldo foi pra guerra, Rádio Blá e A queda, além de hits mais recentes, como Samba da caixa preta (da polêmica frase supostamente dirigida a Caetano Veloso: ‘Se afoga, Narciso, se afoga’).
É o mesmo lobo mau de sete anos atrás, quando lançava no mesmo festival seu álbum de retorno – Avida é doce (2001). Trocou apenas a guitarra empunhada para os banquinhos despojados. Gita foi a homenagem do filho ideológico de Raulzito na MPB, e Corações psicodélicos foi escolhida para encerrar a noite em grande estilo.