É tempo de uma reflexão aqui no Portal dentro das comemorações do Dia Mundial do Rock. Escolhemos um texto excelente publicado pelo escritor e poeta Bráulio Tavares no Jornal da Paraíba pontuando o atual momento da música que move o Nordeste. Leiam a comentem..
Um puteiro a céu aberto
Circula na Internet um artigo de José Teles, publicado no “Jornal do Commercio” de Recife, sobre as letras das músicas do assim-chamado forró eletrônico. Algumas pessoas creditam o artigo (intitulado “Tem rapariga aí?”) a Ariano Suassuna, mas Ariano é apenas citado nos parágrafos iniciais. O autor é Teles, aliás campinense de nascimento, e grande conhecedor de música (é o autor do livro “Do Frevo ao Manguebeat”, sobre música pernambucana).
As letras do forró eletrônico têm explorado cada vez mais um único tema: a safadeza. O artigo de Teles cita alguns títulos dessas músicas: “Dinheiro na mão, calcinha no chão”, “Mulher roleira”, “Fiel à putaria”, “Abre as pernas e dê uma sentadinha”, “Chefe do puteiro”… Desculpe colocar essas coisas no jornal, caro leitor, mas, já que tocam em praça pública para 20 mil pessoas…
O deputado cearense Ciro Gomes afirmou recentemente que “Fortaleza virou um puteiro a céu aberto”. Se o fez por rivalidade política com a administração local é irrelevante. Todo mundo sabe que algumas cidades do litoral do Nordeste estão virando, a cada ano que passa, uma espécie de zona do baixo meretrício ao ar livre, para o desfrute de turistas alemães, espanhóis, etc., que vêm fazer o chamado “turismo sexual”. O forró eletrônico é a trilha sonora desse processo. Em seu artigo, diz José Teles: “Faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando-se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de ‘forró’, parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shortes começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado. Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo estético,. Pior, o glamur, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo”.
O forró sempre teve letras de duplo sentido. Examinem a obra de Luiz Gonzaga, Antonio Barros, Jackson do Pandeiro, João do Vale. É engraçado, é divertido, é saudável. O forró é malicioso, porque a malícia faz parte da vida. O forró fala de tudo, mas o forró eletrônico pratica apenas a “letra de único sentido”.
A sexualidade escrachada é martelada sem parar em nossos ouvidos. É música feita por gente esperta para tirar dinheiro de gente boba. Quando é depois, como podem os nordestinos se queixar de que não são respeitados no Rio e em São Paulo, quando eles mesmos não se respeitam, e estão transformando o seu forró numa safadeza banal, suas cidades num puteiro a céu aberto?
É o rock!!!
O pior são empresas de médio/grande porte que endossam essa indústria. Se por um lado elas têm um discurso voltado a públicos consumidores que são afeitos à “moral e aos valores familiares”, de outro não hesitam em estampar suas respectivas logomarcas em programações do tipo. Essa contradição é que mata.
bom é ver pais e mães colocando os filhos pra dançar enquanto ouvem isso e o funk carioca.
só um país como o brasil mesmo pra chamar esse forró e esse funk de ‘cultura’ – quando não chamam de ‘movimento cultural’.