Por Marlos Ápyus (apyus.com)
Tim Maia passou os últimos quatro anos de sua vida proibido de pisar os pés na Rede Globo. Não vou aqui exibir provas. Quem quiser procure nos arquivos da MTV e do SBT onde vi entrevistas suas à época (Jornal da MTV e Jô Onze e Meia) relatando que o motivo seria seu modo franco como lidava com as mídias. Sua argumentação causava risos.
Se não me engano, Tim Maia morreu num domingo. E na segunda-feira, entre seus programas, a Rede Globo divulgava o lançamento de uma coletânea com seus maiores sucessos com a marca da Som Livre.
Não gosto desse “manto da injustiça” que costumam jogar sobre artistas em geral. Tim Maia foi ladrão de carro, viciado em cocaína e por algumas vezes (mas nada que o fizesse merecer o título de “furão”) não honrou seus compromisso profissionais. Até mesmo a letra de “Vale Tudo”, lida ao pé dela, relata uma certa homofobia sua (quando diz que só não vale dançar homem com homem, nem mulher com mulher), mas isso já pode ser implicância minha. Nada disso é digno de aplauso. Muito pelo contrário. Mas ontem a noite, por bons minutos em horário nobre (que na TV é o equivalente a horas na vida real) aplaudiu-se este comportamento.
Também esta semana o Omelete relatou um show, segundo sua palavras, sensacional do grupo Instituto em homenagem a Tim Maia, onde eram executadas canções de seu álbum hoje cultuado “Racional”. Fiquei me perguntando o que Tim Maia, se vivo, estaria pensando disso. Este álbum fora gravado quando o mesmo fazia parte de uma seita religiosa da qual pouco tempo depois pulou fora. E especificamente este trabalho era renegado pelo artista que nunca mais quis saber de tais canções.
Eu gosto muito de Tim Maia. Desde sua fase com os camaradas Hyldon e Cassiano, passando por sua fase “Racional”, até sua fase final, onde sua maior intérprete era Sandra de Sá (e, vá lá, Marisa Monte também). Mas me impressiona como o síndico ganhou fãs com sua morte. Os roqueiros de dez anos atrás davam de ombros para sua discografia por preconceito para com sua fase brega onde seus maiores sucessos era compostos pela dupla Sulivam e Massadas. A Rede Globo hoje se pinta como a maior incentivadora do negão. E atitudes escrotas, como cancelar shows com a platéia já lotando o salão, viram lenda urbana.
A canção que dá nome ao novo álbum da Experiência Ápyus fala disso. “Eu quero morrer pra virar seu ídolo, quero morrer pra ser capa no seu jornal. Ser santificado no Globo Repórter, álbum da Som Livre, manchete da vez no Jornal Nacional. Serão perdoados todos os meus pecados, saindo da vida, entrando pra glória.”
Texto legal, gostei 🙂
Aquela parte que você fala ” Muito pelo contrário. Mas ontem a noite, por bons minutos em horário nobre, aplaudiu-se este comportamento. ”
Como assim, aplaudiram a passagem dele com drogas e por ele ter sido ladrão de carro ? aaiuehiaueauiea 😛
Foi isso mesmo que aconteceu ou eu que entendi errado o texto?
Alguns entrevistados defendiam que o fato de Tim Maia cancelar shows era uma das várias características que faziam dele um artista especial. Depois justificaram que ele cancelava boa parte dos shows por conta de problemas com as drogas. Já para mim o que fazia dele um artista especial era seu carisma, sua voz e suas composições.
Num entendi… O artigo era um pretexto pra falar da sua música? Tim Maia sempre foi mitificado, ainda em vida, pelos mesmos amigos que apareceram no programa de tevê. E, se existe uma ‘Timania’ hoje, ela se restringe à redescoberta das qualidades dos álbuns ‘Racional’, que são peças musicais de rara beleza. Tim Maia os renegou por que se desencantou com universo e os homenzinhos verdes. Pelo texto, parece até que Tim Maia virou um Renato Russo black, o que acho um exagero. Uma coisa é todo escroto virar santo na Rede Globo depois que morre, outra completamente diferente é uma geração de artistas prestar tributo à obra de um compositor seminal à mpb, como Tim Maia. Duvido que tenha sido por causa da Rede Globo.
Um abraço.
Fala grande Alex,
O pior é que o pretexto do texto em boa parte era sim fazer propaganda da música. Como foi publicado inicialmente em meu site, me dei a este luxo, inclusive incluindo ao final um player com o áudio da canção. Foca achou que o tema daria um caldo e o replicou aqui com sua senha mestra.
Acho Tim Maia digno de todos os tributos possíveis. Mas não curto a “morte” como motor que dá a partida para tais homenagens. É basicamente esta a questão que queria levantar – sem muita proeza, admito. Penso que o mesmo farão com Alceu Valença, Zé Ramalho, Fagner, Ednardo, Belchior e alguns outros papas da MPB que são dignos de tantas ou mais homenagens, mas só terão seu Globo Repórter ou seu show tributo da parte de bandas de rock alternativas quando já estiverem dentro do caixão. É isso que lamento.
alex, o site do dosol é movido pela paixão pela música e ao rock (duas coisas bem diferentes) e pelo interesse das pessoas em escrever e ler conteúdo nestes temas. Por isso tudo o que é publicado, de várias partes do Brasil inclusive, é assinado pelo autor e temos comentários para o debate.
Por aqui achamos massa artistas divulgarem seus rolés, escreverem sobre eles e coisa do tipo. Resumindo: não somos imprensa mas damos opinião. Achei o ótimo o texto de marlos e concordo com o que ele quis dizer (ou disse) no texto.
A citação do título do texto do tim maia é de uma música gravada (mas de autoria de um gaúcho que me falta agora o nome) pelo Pato Fu chamada a Necrofilia da Arte que trata do mesmo assunto e tá no disco “Televisão para Cachorro”.
A música da Experiência Ápyus é essa aqui: http://www.ijigg.com/songs/V2CC04BP0