Por Ynaiã Benthroldo, Cuibá (MS)
Certeza. Foi uma experiência fantástica. Além de conhecer outro país, outra cultura, pessoas diferentes, nos sentimos muito em casa. Com relação a tudo. Fizemos muitos contatos importantes para os trabalhos que desenvolvemos aqui no Brasil. Conhecemos estúdios de gravação, produtores de vídeos, casas de shows, muitas bandas, fotógrafos, videomakers, radios, até fizemos um ensaio fotográfico e a nossa 1ª entrevista internacional na rádio da universidade federal de Montreal, onde nós falamos em ingles (rsrs) e Helena, (nos recebeu em sua casa, e trabalha na rádio, novo contato forte para distribuição via web) fez a tradução para o francês. Ouça o programa clicando aqui.
Trabalhamos bastante, essa é a nossa pegada. Trabalhar, produzir, circular, incluir. Quando estavamos lá, pensamos por várias vezes como seria se outras bandas brasileiras, se não nós, estivessem naquele local, conhecendo aquelas pessoas e tendo aquelas oportunidades. Pensei, quantas delas produziriam conteúdos de lá para cá. Quantas delas fariam uma lista de bandas brasileiras para passar na rádio. Quantas delas procurariam conhecer estúdios de gravação, produtores e pessoas que trabalham com a cadeia musical independente. E isso tudo para DEMOCRATIZAR e INCLUIR outros PARCEIROS nessa nova relação que esta sendo criada entre o Brasil e a América do norte.
Vamos nos tornas Gestores ?! vamos passar de fase?! Vamos crescer?! Vamos nós, bandas, começar a nos articular em grupos e fortalecer as parcerias?!
-Sim ?
-não!
É isso que agente percebe da maioria das bandas brasileiras. Um não ao trabalho em coletivo e autogestionario.
O que ‘nego’ quer é ser Artista mesmo, ter pessoas que cuidem do seu trabalho. “O que eu quero é só curtir, não é para isso que agente monta uma banda de Rock? pra comer mulher e ficar doidão ?!”
Para outras bandas (poucas infelizmente), vale a consciência: não é para isso que eu trabalho.
Com essa viagem, pude ver que estamos no caminho certo aqui no Brasil. A linguagem do independente deles é muito parecida com a nossa aqui – Pedreiro. Carregue seu carro, monte o seu palco, toque, desmonte e vá para a próxima. Produza shows, toque bastante, e saiba o seu tamanho. Coisa que eu acho que falta para muitas bandas brasileiras. Aqui, muitas bandas vivem um sonho de “somente me preocupar com o meu ser artista” e ter alguém para fazer o resto do trabalho. Essa realidade, ultrapassada no meu ponto de vista, ainda faz com que muitas bandas brasileiras percam o norte, tempo e oportunidade. A falta de gerenciamento do seu trabalho traz uma dificuldade nas parcerias que devem ser firmadas entre as bandas e todos os outros setores de produção da cadeia da música. Existe um circuito hoje no brasil que trabalha muito nessa pegada. Com bandas que estão afim de trabalhar! E quando digo trabalhar, não é só tocar, lançar discos e fazer turnês. Isso é uma das frentes do trabalho da banda.
Banda é um coletivo. Partindo desse princípio, temos que agir como um coletivo, trabalhando com a cadeia produtiva da música, a possibilidade de circulação é bem maior. E de uma forma muito mais qualificada e coerente com a realidade. Lá fora o que se vê são bandas trabalhando em coletivos, se auto-gerindo; bandas produzindo bandas, assessorando bandas e tudo de uma forma muito bem organizada e distribuída. As “booking agencys” são bem claras com relação a suas parcerias estabelecidas. Não ficam com uma banda pelo dinheiro que ela pode trazer. Quando uma banda fica “grande”, ela ja é responsavel pelo seu próprio caminhar. Ninguem quer ser babá de banda. Aqui ainda vemos um modelo de gestão arcaico, no qual as bandas procuram por alguém para trabalhar por elas, para articular por elas. E ai eu pergunto, por que? Será que as bandas não acreditam no seu potencial? Será que as bandas se auto julgam incompetentes para executar a gestão de seu proprio trabalho? ou será preguiça?
Ai muitos responderão, ah, mas você fala isso porque faz parte da panelinha da Abrafin, Circuito Fora do Eixo e bla bla bla..
Não! Eu não faço parte de uma panelinha, faço parte de um processo de construção, que no meu caso teve inicio em Cuiabá, há 4 anos atrás, quando eu conheci o Espaço Cubo e os seus membros. Posteriormente conhecemos pessoas que trabalhavam com metodologias parecidas em vários locais do Brasil. E a rede foi sendo formada e estabelecida. Ninguém é obrigado a trabalhar com pessoas que não compactuam com os mesmos ideais. Isso não funciona. É como montar um time com os zagueiros do adversário.
E o que eu pude perceber no simpósio que aconteceu no Pop Montreal, com produtores de festivais, agências de shows, casas de shows e todos os envolvidos com a cadeia produtiva da musica é que: temos que trabalhar em conjunto. As bandas tem que saber o que elas querem. Vejo bandas que, como nós, começaram ontem e querem ser tratadas como a GRANDE DESCOBERTA DA MÚSICA BRASILEIRA DOS ÚLTIMOS TEMPOS, ou como AS BANDAS INDEPENDENTES QUE VÃO ABRIR PORTAS PARA NÓS NO MERCADO MAINSTREAM.. Pára! Vamos ser racionais. Lá fora só existe uma cena independente e de festivais tão foda, porque as bandas já entenderam isso a 10 anos atrás. Lógico que há uma série de fatores que fizeram com que eles tivessem uma melhor condição para isso, mas cada lugar com a sua particularidade, pois o que está sendo colocado aqui é o POSICIONAMENTO das bandas, esse que faz com que as bandas pensem somente nelas e em mais nada.
A quanto tempo poderíamos ja ter uma AGÊNCIA NACIONAL DE BANDAS INDEPENDENTES, formadas por BANDAS INDEPENDENTES que discutiriam e acrescentariam muito na formação desse nosso mercado brasileiro, qualificando a discussão com propostas coerentes com a nossa realidade. Mas porque isso não acontece ainda? Por que as bandas preferem se preocupar com o dela? Só o dela, negociar no varejo, ser pequeno, rasteiro, falar mal pelas costas e querer te abraçar pela frente. Isso é ridiculo.
Na real, dessas de hoje, poucas restarão.
Ynaiã é músico Macaco Bong.
Pegue!!!!
Essa doeu na orelha…
é isso mermo!! de rocha!!
Sou produtora de uma banda, o Bazar Pamplona, e a gente tem tido essa mesma discussão – porque também percebemos que bandas são coletivos. A velha discussão de “viver de música” só é viável quando os músicos são agentes de uma mudança e se organizam para atingir o mercado de uma forma democrática.
Ainda acho importante o papel do produtor no sentido de ser a pessoa que organiza as idéias, mas não que executa ou pensa em tudo sozinha.
Bom saber que há mais gente pensando assim.