Por Léo Seabra, Natal/RN
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Mesmo em tempos de internet, mantenho o estranho hábito de ler jornais velhos. Hoje enquanto fazia uma “limpeza” no meu quarto encontrei o caderno “Ilustrada” da Folha do dia 1º de outubro e “descobri” uma excelente entrevista com James Murphy, um dos “criadores” do chamado dance-rock (ou disco-punk), que apesar de curta é bastante contundente.
A Dance Music passava por uma crise terrível e foi socorrida pelo rock. A musica não precisa de novas tecnologias – basta a que já temos a nossa disposição. Essas são algumas das principais idéias de James Murphy, músico, produtor, DJ e co-fundador do selo DFA Records, seu projeto mais conhecido é o LCD Soundsystem o que lhe rendeu em 2007 o título de disco do ano pelo álbum “Sound of Silver” e o melhor show no Brasil.
Murphy conta que a dance-rock surgiu como uma reação ao momento em que se encontrava a dance music, inerte e sem inovações, além disso, paralelamente observava o crescimento do rock: “A primeira faixa de dance-rock que fizemos foi puramente porque a dance music estava terrível no final dos anos 90, começo dos anos 2000. Todas as músicas soavam iguais. – era chato, estúpido. Não Havia canções. Mas todos tomávamos ecstasy e queríamos dançar, então em vez de tocarmos discos antigos, fizemos uma musica, “House of Jealous Lovers, e outras coisas do tipo”, Relembra. ” Mas a dance estava terrível. O rock estava interessante. Foi a época que apareceram Strokes, Yeah Yeah Yeahs…” Para ele no princípio a idéia soava como algo “cool”, “descolado”, mas hoje em dia é bem diferente, está “terrível”, pois acredita que voltou a posição estacionária, ficou “tudo igual novamente”
Outro ponto interessante, e talvez o mais polêmico da entrevista foi a respeito da reclamação de alguns produtores de musica eletrônica: a de que é preciso surgir tecnologias para aparecer algo novo. Ele discorda totalmente: “Essa é uma das ideias mais ridículas que já ouvi. Não me importo com novas tecnologias. Há muita coisa a ser feita com o que já temos. O que faço não é baseado em tecnologias, mas em instrumentos. Nossas músicas têm baixo, bateria…A bateria está por aí desde a época do fogo. O problema não é tecnologia, é falta de criatividade”.
E isso não se resume a musica, a tecnologia avançou em todas as atividades, sobretudo aquelas voltadas para a criação de algo, como por exemplo, cinema, fotografia e design, em que a idéia é o combustível para a produção e que a tecnologia por si só não garante um resultado satisfatório.
Talvez na música essa “dependencia tecnológica” seja mais impactante por ter levado alguns grupos a experimentações desastrosas. Outro fenomeno observado foi o crescimento do numero debandas que adicionaram sons oriundos de parafernalhas eletronicas, como se fosse uma tendência de homogeneizar a musica,mais ou menos velho “deu certo com X e Y por que não conosco?”. Obviamente não estou querendo estabelecer uma cruzada anti-tecnologia, acredito que é importante utilizar (testar) novos elementos e que as ferramentas contribuem para o desenvolvimento, mas não devemos nos tornar escravos dela. No final das contas, só aqueles que usam bem a criatividade, se sobressaem, se salvam.