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Namorena News – Inquietude

Eu tenho passado por um momento interessante como artista. Desde o pós-pandemia que eu tenho tido vontade de fazer coisas diferentes e de me aventurar em lugares que não são minha zona de conforto. Isso tem me trazido uma inquietude boa, uma emoção legal de não saber muito bem o que vai dar, mas que está tudo bem. Porque o que eu quero é me jogar e ter a experiência.

Arte é movimento, Cultura é movimento. Às vezes, a gente esquece disso por causa da almejada sustentabilidade. Aí, muita gente cai na armadilha de apenas dar o que as pessoas esperam de você. E aqui eu quero pontuar sobre algumas falas que tenho ouvido por aí, sobre os números da circulação digital do nosso produto cultural.

Existe uma linha de pensamento, dentro desse sistema mercadológico no qual está inserido o setor da música, que acha que devemos usar os números para direcionar a nossa criação artística. Por exemplo: os números mostram que o público de artista X clica mais em músicas que tem dois minutos de duração, que interage mais com músicas que falam sobre amor, ou que falam sobre rebolar, ou ainda que preferem se o artista usa o cabelo solto ou preso.

Acho excelente ter os dados, saber como estamos atingindo o público e o que ele acha da nossa arte. É muito importante saber essas informações. Discordo apenas que esse seja o principal critério para direcionar a nossa escolha estética e a forma como criamos e apresentamos o nosso trabalho para o público. Essa é a lógica da Inteligência Artificial, que só nos dá o que já existe com outra organização.

Podemos até fazer “mais do mesmo” porque gostamos, porque é uma linha estética ou porque é a nossa onda naquele momento. Mas, fazer o que o público espera da gente apenas porque os números estão mandando, é a desgraça do pensamento livre e criativo. E quando eu vejo partir do próprio artista essa preocupação principal e até uma autocensura, fico preocupada. É muita pouca fé no público. É subestimá-lo achando que ele é preguiçoso demais para absorver o novo e é injusto porque o priva de algo que pode impactá-lo ou ser potencialmente genial. E para piorar tudo, dar ao público o que ele espera de você não garante nada. Não garante sucesso, nem cliques, nem nada.

Penso que a melhor forma para equilibrar essa balança é uma inteligência emocional e mercadológica ao mesmo tempo. O artista pode até lançar um single pensando em características mais comerciais para fazer um teste. Ou ter projetos mais vendáveis, como é o caso de shows que fazem releituras de discos clássicos ou ainda trabalhar com produção de trilhas para filmes e publicidade, por exemplo. Projetos como esses têm a criatividade envolvida e ainda ajudam o artista a se capitalizar, deixando ele livre para se arriscar em novos caminhos, em novas experimentações. Acho justo e inteligente.

Então, já que não há garantias, por que não nos aventurarmos? Como disse no início, estou nesse momento de me jogar em experiências diferentes, de acrescentar camadas ao que já faço e de testar coisas novas. E quero aproveitar a fé que meus parceiros têm em mim para trazê-los nessas aventuras, porque aventurar junto é muito melhor. Fazer pelo gosto de fazer, pela vontade de criar, de inventar.

Vou seguir em turnê agora em julho com o Camarones Orquestra Guitarrística, iremos rodar os estados do RN, PB e PE com shows, residências e feats artísticos e papos. Além da turnê, tem outro projeto em elaboração com o Camarones que envolve multi linguagem e é algo que nunca fizemos nesses 16 anos de estrada. Eu estou animada, empolgada, com sentimentos muito bons.

Dá um trabalho danado equilibrar a barra que é ser realizador cultural e artista criativo nesse mercadão rolo-compressor-moedor-de-sonhos que vivemos. Só nos resta dar voz ao nosso impulso criativo, podendo aproveitar o que a tecnologia nos oferece, mas, na minha perspectiva, livre das imposições dela.

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