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MUNDO LIVRE É HOJE NA RIBEIRA – LEIA ENTREVISTA DE FRED ZERO QUATRO NA TRIBUNA DO NORTE

Yuno Silva – repórter

Compositor politizado e homem de frente da banda pernambucana Mundo Livre S/A, o músico Fred Zero Quatro desembarca em Natal neste sábado para único show na Ribeira, onde apresenta novidades que farão parte do próximo álbum, a ser lançado ainda em 2011, e uma compilação significativa de canções registradas entre 1994 e 2005 – presentes na coletânea “Combat Samba” (2008, DeckDisc). Umas das mentoras do “Manguebit” (ou “Mangue beat”), movimento criado no Recife que sacudiu as estruturas da música brasileira nos anos 1990, a MLSA se apresenta, ao lado das potiguares DuSouto e Camarones Orquestra Guitarrística.

compositor fala sobre novo trabalho, consciência sobre direito autoral e mercado musical, e mantém perfil de artista politizado
compositor fala sobre novo trabalho, consciência sobre direito autoral e mercado musical, e mantém perfil de artista politizado

O evento irá ocupar, a partir das 22h, parte da rua Chile, mais os galpões do Armazén Hall e Centro Cultural DoSol. Os ingressos custam R$ 25 e estão à venda no Burger King do Midway Mall.

Autor do manifesto “Caranguejos com cérebro”, escrito a seis mãos em 1992 junto com o jornalista Renato L e o saudoso líder da Nação Zumbi, Chico Science, Fred Zero Quatro concedeu a seguinte entrevista a TRIBUNA DO NORTE:

Zero Quatro, o último disco de vocês é a coletânea “Combat Samba”, com direito a uma única faixa inédita, “Estela”. Nesse meio tempo colocaram para circular o EP “Bebadogroove” (2005, Ôia Records), participaram de algumas coletâneas, temporadas internacionais… tem músicas guardadas durante este intervalo? A banda aguarda o momento certo pra lançar um novo álbum de inéditas? O que está para acontecer?

Desde o EP “Bebadogroove”, compomos cerca de 20 músicas. Algumas chegaram a ser gravadas e lançadas só na web. Entre as que continuam inéditas, selecionamos onze para lançar num álbum novo ainda este ano. Estamos finalizando as gravações. Tivemos participações bacanas, como a de B Negão. Se tudo der certo vamos lançar em vinil e CD em junho. Daí sairemos em turnê pelo Brasil, tudo está sendo conduzido por nossos novos parceiros da produtora Zeroneutro. Em maio vamos abrir um ou dois shows da banda Sublime (Estados Unidos).

O show de hoje em Natal é baseado no “Combat Samba”?

Exato, “Combat Samba” adicionado de algumas do próximo disco.

E contrato convencional com gravadoras convencionais, nem pensar?

Antigamente, bastava a gente anunciar que tinha material novo, choviam contratos de selos independentes propondo a gravação ou a distribuição do disco. Isso tudo acabou.

Concorda com a afirmação do Lobão de que as grandes gravadoras precisam continuar existindo para a roda do show biz continuar girando?

Nisso eu concordo plenamente com Lobão e com Jack White. Cedo ou tarde, a molecada de hoje vai se arrepender dessa atitude irresponsável de baixar e compartilhar material protegido e recusando-se a pagar. É uma mera questão de sustentabilidade.

Mesmo com toda a tecnologia, facilidade de gravar, home studios… ainda é difícil para o independente aparecer? Conquistar mercado? Ter espaço?

Sobre a suposta facilidade que a tecnologia traz, eu diria que corremos o risco de termos, num futuro próximo, uma hegemonia absoluta da música eletrônica, pois essa é a que mais facilmente se adapta ao modo caseiro de produção. Tente gravar um surdão numa sala sem ambientação e tratamento acústico adequados, e você vai ver que vão soar como instrumentos de brinquedo, principalmente se comparados aos jingles de publicidade, que continuarão sendo gravados em estúdios superequipados.

Acredita na possibilidade de um dia o mercado fonográfico ser justo? Existiria uma fórmula pra coisa funcionar?

Acho que tem que existir uma indústria, regulada por órgãos e leis rígidas, e sustentada por consumidores conscientes. Se é possível, não dá pra ter certeza.

Tocar em rádio só com jabá?

Uma coisa boa do desmonte da antiga indústria corrupta, é que hoje está se montando uma extensa rede de emissoras que está aprendendo a se sustentar sem jabá. Com isso, a música independente está ganhando muito mais visibilidade. A partir desse ponto de vista, posso dizer que as coisas estão melhorando no Brasil. Nossa receita com execução em rádio tem aumentado bastante, inclusive com rendimentos vindo de rádios estrangeiras.

Zero Quatro e a MLSA têm sugestões para a lei do Direito Autoral?

Sobre a lei de direito autoral, concordo com Caetano Veloso: se querem garantir acesso absoluto à informação, então obriguem os bancos a liberarem o acesso das contas de políticos corruptos ou donos das fábricas de armas, por exemplo. Se os bancos gastam fortunas pra proteger seus correntistas e ninguém questiona, por que o compositor não tem o direito de tentar proteger o seu trabalho honesto? Se inviabilizarem o Ecad, a minha sobrevivência como compositor vai ficar seriamente ameaçada, pois metade da minha receita atual vem de direito autoral. Se for vontade da maioria, tudo bem, eu vou vender sanduíche natural.

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