Meus amigos, o que é a modernidade. O que é o ser humano. O que é a internet. E o que é o idiota diante da internet. Fico imaginando, se vivo fosse, como reagiria o Mestre ante a uma situação dessas. Digo isso, mas não fico só no pensamento, não. Reajo eu próprio, como se dele (o Mestre) tivesse eu próprio a capacidade e uma procuração com firma reconhecida e tudo o mais. Mas reação a que? Pergunta o leitor, atônito, sem entender um começo de conversa sem pé nem cabeça. No que eu respondo: ao idiota frente a frente com a internet.
Explico. Vejam vocês, que, outro dia, moderno que sou, navegava pelo orkut até, dentro de uma comunidade habitada por pessoas que gostam de música, me deparar com um impasse. Um dos fulanos, com cara de fã, elevava o show do Suicidal Tendencies aos píncaros da glória. Ele se referia à recente turnê que passou por Porto Alegre, Rio e Brasília, dentro do festival Porão do Rock, mas percebi que o assunto abrangia ainda o show isolado feito no Maquinaria Fest desse ano, em São Paulo, em maio. Eis que, um outro, disse que o show fora horrível, de uma banda velha, com um vocalista fora de forma e blá blá blá – os mesmos clichês usados pelos decolados das hora.
Os leitores de longa data sabem que não sou afeito às comunidades do orkut, muito menos postar nesses fóruns, e nem é só por questões de tempo e disposição para virtuais bateções de boca. Mas por princípio mesmo. Considero essa balbúrdia virtual algo inconveniente e sem propósito. E por que razão participo do orkut? Pergunta o leitor. No que eu respondo que não posso é ficar de fora, ao menos até saber aonde essa zorra toda vai dar. Mas sou, inclusive, contra comunidades, exceto, nos últimos tempos, duas ou três em que entrei por questões estritamente pessoais. Ainda assim, fiquei com os dedos coçando para meter a minha colher no assunto, e preferi abordar o tema aqui mesmo, no meu quintal.
Faltou dizer, obviamente, que eu próprio, na pele d’O Homem Baile, estive num desses shows, aqui no Rio, no Circo Voador, e se não achei tão espetacular como o fã de Brasília, muito menos vi uma banda decadente como apontou o paulistano cri-cri. O show foi bom pacas, na verdade. Só que, enquanto eu falo do show do Rio, o fã aparente citava o de Brasília, e o chato de São Paulo fala de um que aconteceu há uns três meses. De modo que simplesmente não é possível comparar alhos com bugalhos. E não só pelos meses que os separam, mas também porque, tendo o show de São Paulo sido realizado dentro de um festival, com um pá de bandas escaladas, provavelmente o repertório foi menor, assim como, talvez, o de Brasília. O do Rio, não. Tocou Suicidal com uma banda de abertura local. Cerca de hora e meia de show.
Mas não é sobre o show do Suicidal que eu quero falar. Ocorre que, como prova irrefutável de suas argumentações, o sujeito que chamou Mike Muir de gordo postou, no mesmo orkut, um vídeo tosco de link copiado do youtube. Digo tosco para ser propositalmente redundante, porque, sabe-se, não é possível qualidade de imagem no youtube. Mas para ele, aquele retangulozinho medíocre, cheio de contornos serrilhados e com pouco foco, provavelmente registrado não por uma câmera, mas por um aparelho de telefone, era o suficiente para se chegar a uma conclusão sobre um show do Suicidal Tendencies. Eis onde eu queria chegar: no idiota ante a internet.
Para esses que acham que é possível um show de rock visto no youtube, o mundo está condensado ali, bem dentro do monitor de seu computador. Posso até admitir a concepção de que o mundo pode estar ali dentro mesmo. O show de rock, jamais. Nunca será possível, nem para o mais nerd dos micreiros deste ou de outro planeta, reproduzir dentro de um computador aquilo que se passa num show de rock. Aqueles que foram, sabem. Os que não puderam ir, sabem também. Porque compreendem o que o rock pode proporcionar quando encontram-se artista e público, um em cima de um palco e o outro abaixo, olhando para cima. Têm, no mínimo, a idéia, a partir de conhecimento do que se passa no mundo do rock, do que pode acontecer. E isso sem falar, no evento cultural que acontece ao redor, incluindo volume altíssimo, pessoas dançando, luzes piscando, fumaças de cigarros, copos de bebidas e tudo o mais. Até os idiotas sabem disso. Menos o idiota ante a internet.
Porque, meus amigos, os idiotas de hoje evoluíram. Ocupam cargos públicos, dão aulas em faculdade, escrevem em jornais de grande circulação, vão a shows de rock. Já o idiota ante a internet, não. Ele não faz nada disso, ao menos fisicamente, como eu e todos vocês, leitores. Ele faz isso dentro do computador dele, no que resulta uma visão, no mínimo, distorcida das coisas. Cria-se, então, uma nova categoria de idiota. Uma nova casta que deve vir, já, com data de validade, pois se o mundo físico, para ele não existe, logo as usinas geradoras de eletricidade vão negar-lhe corrente na tomada, e seu mundinho virtual vai para o espaço. Em última análise nasce morto o idiota ante a internet. Cruel destino esse que me faz criar uma nova horda de idiotas, e, na mesma hora, prever sua extinção.
Enquanto não desaparecem por completo, entretanto, prometem fazer barulho. Sim, meus amigos, estão fazendo muito barulho, dentro e fora do mundo normal. Gritam, ameaçam, humilham. Depois, deitam, já de madrugada, com a cabeça tranqüila num travesseiro, também, classemediano. No dia seguinte, desmaterializam-se e se descerebram para entrar dentro dos computadores e recomeçar. O idiota, a internet. O idiota ante a internet.
Até a próxima e long live rock’n’roll!!!
Texto fudido!!!
Totalmente excelente o texto, Bragato! Pra variar, né? 🙂
A minha opinião é um pouco dura sobre essa geração de idiotas que usam de maneira tão errada e medíocre a internet. Em vez de dominarem o mundo, eles estão se esculhambando mutuamente sem nenhum respeito e cordialidade ou tecendo análises profundas como um pires, sobre os fatos da vida.
Eu fico imaginando o que os pais de hoje ensinam aos seus filhos pra gente ter uma geração de jovens tão infantilizada: “Você é feio”, “Não, vc que é feio”… afffff