Disco de artista consagrado sempre vende bem, mas se o disco for bom, vende muito mais. Mesmo que o CD já não exista…
Meus amigos, falava de sexo, de drogas e de rock’n’roll. Falava de biografias e uma história que encontrou síntese no tal trinômio. No que fica fácil lembrar que agora, nesse exato momento, é a de Eric Clapton que habita minha imaginária cabeceira. Digo que ela não é de verdade porque não existe, na hora fazer o acabamento que fica por trás da cama, como as moças sabem, acabou a verba. Disse “as moças” porque são sempre elas a cobrarem o porquê de uma cabeceira não existir no lugar onde deveria haver justamente uma cabeceira. Cobram outras coisas também. Como cobram essas moças.
Mas falava de Eric Clapton e de biografias. Essa que leio já é a segunda dele, mas a primeira que o deus da guitarra escreve de próprio punho, sem aquele caô do Slash de ter um sujeito para escrever para ele, em primeira pessoa, como já vimos. Portanto, já sei, de antemão, e mesmo por ter lido uma pá de coisas sobre rock ao longo dos anos, que Clapton não teve pai, foi rejeitado pela mãe ainda garoto, se viciou em drogas e álcool e se recuperou por umas três vezes, foi traído por mulheres perversas mais de uma vez, viu (ou melhor, não viu) seu filho, então único e criança, despencar do qüinquagésimo segundo andar de um espigão em Nova York. Ou seja, o cara é o sofrimento do blues em pessoa. Vamos ver agora se (e como) ele, hoje um senhor de respeito que organiza festivas em prol de causas humanitárias, confirma a própria lenda.
Quem não anda traindo a própria história é o Metallica. Com o formidável “Death Magnetic”, o grupo vendeu 490 mil discos em três dias, só nos Estados Unidos. E isso porque o CD está – dizem – está acabando. Se quando eu estava lá na Outracoisa a gente tivesse vendido a vigésima parte disso, a revista não estaria hoje sem o apoio dos patrocinadores. Talvez nem precisasse mais deles. Também, nós não lançamos um disco do Metallica, muito embora nunca tivéssemos colocado nada de ruim no mercado. Mas isso é outra história. No Brasil (sim, eu disse no Brasil) o Metallica chegou ao inacreditável sexto lugar, se avizinhando ao padre cantador, com dois CDs, e a outras besteiras impublicáveis numa coluna como essa. Está com moral o Metallica.
E não só no meio do heavy metal. Aliás, talvez no meio metálico é que a coisa não ande tão bem, dadas as últimas idas e vindas do grupo, e pela falta de discernimento que, vamos e venhamos, essa turma é acometida. Fora dela, a grande mídia tem que engolir o Metallica à seco, o que o faz dentro de uma flagrante saia justa. A exposição deles é tão grande e tão abrangente, que não é possível não citar (ou ter que fazer algo) com os quatro cavaleiros. A Folha de São Paulo já aprendeu, e como maior jornal do País, mandou o José Flávio Jr. A Londres entrevistar o Kirk Hammet. Aliás, diga-se de passagem, o jornal que adora uma polêmica já publicava uma resenha do bravo “… And Justice For All”, lá pelos idos de 1988. Só não contava em ter, em suas tribunas, um curador do show bossa-novístico do Rei e de Caetano fazendo a defesa do próprio show, numa implacável mancada. Bossa nova, aliás, tem sido o assunto preferido do renascido Jornal do Brasil. Até bizarrices como a carreira solo de Marcelo Camelo e deslumbramentos indie como uma cantora inesperada menor de idade têm tido mais importância do que o Metallica, com – talvez – o disco mais esperado do ano. Mas atenção: isso aqui não é coluna de ombudsman.
Citei o Rei ali em cima, e às vezes fico pensando que um disco do Metallica é como um disco de Roberto Carlos. Explico. Desde há muito tempo, um disco do Roberto vende feito água. Qualquer que seja o título (aliás, quase sempre ele inexiste), a capa, o número de músicas e mesmo o repertório, um disco de Roberto Carlos vende sempre certa quantidade que garante o pagamento das contas reais. Com artistas gigantes como o U2, a Madonna e – porque não – o Metallica, deve acontecer o mesmo. Vende primeiro, para depois saber se é bom. E, vamos e venhamos, a mídia e o marketing em cima desses artistas é algo de proporções cavalares. Há pelo menos dois anos se fala em novo disco do Metallica ou do U2, para só agora eles ganharem vida. Nos últimos meses, a quantidade de notícias sobre o grupo é algo inacreditável. Libera música aqui, clipe acolá, sampler a cada hora, e assim por diante. Não há como não vender, mesmo com tudo de graça na web.
Disse que, se comparado com um disco do Rei, o do Metallica também vende que qualquer jeito, sendo o material bom ou ruim. Olhando por outro lado, “Death Magnetic”, segundo a Billboard, já tem um desempenho melhor que “St. Anger”, e considerando que o primeiro é bem melhor que o segundo, conclui-se que um disco do Metallica vende de qualquer jeito, sim, mas se for bom – e todo mundo desandar a falar isso -, vende muito mais. Ou seja, ainda vale à pena fazer algo bem feito, ter personalidade, buscar renovação, blá blá blá. Não basta só ser grande, não.
Entretanto, como tudo é muito rápido, Coldplay e Metallica já passaram, e agora é hora de secar (no bom sentido) o lançamento de AC/DC e U2, que é o que resta para esse ano e o iniciozinho do próximo. Ah, tem o do Killers também, me lembra um conhecido no msn, dando a deixa para que eu mesmo admita que tem muita coisa boa para vir por aí. Assim é o rock e sua vocação para a vanguarda. Não tem essa de Roberto Carlos, não.
Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!