Por Marcos Bragatto
Num mundo onde tudo acontece mais rápido que antes, “Chinese Democracy”, do Guns N’Roses, se transforma num dilema universal.
Meus amigos, o tempo passa, o tempo voa. Escrevo mais esta coluna com data do dia 13, mas hoje, vejam vocês, já é dia 23. Não, não é amanhã que é 23, como diz a canção na voz de Paula Toller. Hoje são 23. Mas, pra vocês que estão lendo, por favor, façam de conta que hoje é 13. Treze de novembro de 2008. Digo isso não só para justificar mais um atraso deste colunista lambão, mas para reafirmar – e de novo – que quanto mais o tempo passa, mais ele passa mais rápido.
Talvez não tenha passado tão rápido assim para Axl Rose, o cara que demorou 14 anos para lançar um disco. Sim, meus amigos, podem acreditar, “Chinese Democracy” é, enfim, uma realidade. Sai no dia 23 nos Estados Unidos, mas já pode ser baixado e ouvido em tudo o que é canto na web. Eu mesmo, já na fase “quero baixar tudo e resenhar no site antes de todos”, baixei o CD ao menos umas três. Isso porque todas que baixei parecem ter algum defeito, desde o vazamento que levou aquele fulano para trás das grades, até a versão final do disco. Na melhor que consegui, alguma músicas terminam de supetão, como se fossem cortadas – não acredito que se encerem assim mesmo. Axl pode ser maluco, mas não é bobo.
Tanto não é bobo que, aos poucos, foi fazendo do Guns algo de sua propriedade. Simplesmente armou esquemas com advogados que foram sutilmente banindo os integrantes do grupo, um a um, e ficando com tudo para ele. Digo sutilmente porque, em suma, eles tinham duas escolhas: ou ficar na banda, como empregado de Axl, ou darem no pé. Claro que geral caiu fora. Essa história está contada basicamente, em resumo, na biografia de Slash, sobre a qual eu tanto já comentei. Olhando de outro lado, Axl é, sim, bobo, pois assim acabou com uma das melhores bandas de todos os tempos. Bem, não sabemos o que aconteceria se a formação clássica permanecesse a mesma, ou, ao menos, com Slash e Axl juntos, mas certamente algo já teria sido produzido nesses 14 anos.
A questão é – e ninguém fala sobre isso – o porquê do descomunal atraso. Obviamente Axl é culpado por tudo, para o bem ou para o mal, mas é bem provável que boa parte dessas músicas já esteja concluída há tempos. E que o maior dos problemas – foram vários – deve ter sido as inúmeras pendengas judiciais nas quais Axl parece ter vocação para se meter. Só para se livrar dos processos movidos pelos igualmente fundadores do Guns já deve ter sido o ó. E, ainda, de inúmeros outros prejudicados por ele em todo esse tempo de sexo, drogas e rock’n’roll, como produtores, músicos que fizeram parte de formações mais-que-efêmeras e assim por diante. E nem estou falando dos aproveitadores de plantão, hein?
Pensem bem: muita coisa mudou em 14 anos. No mundo da música – e do rock -, então, onde tudo é ainda mais rápido, nem se fala. Falar de 1994 hoje, é praticamente como se fosse um revival, como se “Chinese Democracy” fosse um disco revivalista da década de 90. É como se ficássemos lembrando de Nirvana, do estouro do grunge, da subida do metal aos píncaros do pop via Metallica, do auge do britpop com Oasis, da farsa bizarra da música eletrônica via Prodigy, e por aí vai. Você mesmo, caro leitor, aposto que nesses 14 anos fez muita coisa, para o bem ou para o mal. Num período de tempo desse tamanho dá pra fazer um filho e torná-lo pré-adolescente, cursar primeiro e segundo graus, fazer umas três faculdades, entrar e sair de vários empregos, montar e desmontar bandas, comprar e escutar milhares de CDs, ir a uma porrada de shows e o que mais a gente quiser escrever aqui.
Como, então, ouvir e analisar um disco que, há rigor, no momento do lançamento, tem 14 anos de idade? Digo isso não para criticar aqueles que, no exercício de sua profissão, já tenham feito uma resenha publicada num veículo de credibilidade respeitável. Na verdade, como de hábito, prefiro não ler nenhuma até escrever a minha, a fim de evitar inconscientes conjecturas. Mas eu próprio estou a pensar, enquanto subo e desço as escadas, em como encarar tal tarefa. Talvez esquecendo tudo isso que eu escrevi aqui e encarando o disco com um simplesmente um disco. Ou olhando para ele como se fosse um relançamento de sobras do passado, contextualizando com a época. Ou, ainda, procurando saber que música foi feita por quem e em que época, e gravada por quem e com que produtor e em que época. Confuso, não?
(Escrevo esta coluna ouvindo o grupo de metal extremo Legion Of The Damned quando ouço as palavras “créu… créu… céu…”, com eco e tudo. Corro para a sala – trabalho no escritório – para ler o encarte e vejo que, na verdade – e só poderia ser assim – o cuspidor de blocos de concreto vomita “kill… kill… kill…”. Que coisa, hein?)
Daí fico pensando como será o encarte do CD oficialzão de “Chinese Democracy”, o qual decidi esperar para escrever sobre, em vez de fazer isso ouvindo o que baixei temerariamente nos últimos tempos. Será que vem com cada informaçãozinha sobre como cada partezinha foi gravada, produzida e mixada? Duvido muito, até porque boa parte disso já deve ter se perdido nos anais (ops) de Axl. O mais provável e que não tenha nada (ou quase nada), além dos créditos obrigatórios por lei (ou não, sabe como é Axl) e muitas fotos do auto-englamourado Axl Rose. O que fazer, então, com um disco novo de 14 anos de idade nas mãos?
Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!