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FESTIVAL DOSOL AQUECIMENTO: ENTREVISTA COPM O VIOLINS (GO)

VIOLINSBETO

Por Olga Costa

Beto Cupertino é o cara das palavras escritas e cantadas no Violins (GO). A banda se apresentará dias 13 e 15 de novembro no Festival Dosol, Natal (RN) – veja entrevista com Anderson Foca, horário e outras atrações no Portal Rock Press. Na entrevista a seguir, Beto Cupertino fala sobre as músicas do último CD da Violins (Greve das Navalhas), inspirações e influências musicais. Confira!

Que influência musical você aponta para esse novo trabalho?

Acho que não há nenhuma influência que eu possa apontar em particular, esse disco foi pensado pra ser musicalmente calcado em um estilo de som que a gente gosta muito, que é a junção de guitarras densas com melodias. Acho que é mais fácil citar esse nicho musical que a gente pretendeu com a composição do álbum do que apontar uma influência x ou y, porque cada integrante da banda traz uma bagagem diferente.

Qual é a sua bagagem? O que ou quem lhe trouxe onde você se encontra agora, musicalmente falando, é claro…

Bom, o caminho é longo. Ele começa desde Beatles, Zombies, Beach Boys, passa pelo progressivo de Pink Floyd, dá aquela passeada pelo Grunge e pelo indie 90’s, e também música brasileira, com Chico Buarque, Caetano, que ouvi muito na adolescência, enfim, acho que é por aí. É difícil citar nomes porque realmente ouço e ouvi muita coisa e nem eu mesmo sei ao certo o que me influenciou e o que deixou de influenciar e em que grau isso aconteceu. No fim das contas, acho que tudo que você ouve te influencia de alguma forma, seja para captar o lado positivo, seja para saber o que você realmente não quer pra si.

A arte da capa é uma síntese em relação ao tema proposto no álbum: o fim simbolizado pelo X, e ao mesmo tempo como se fosse uma tentativa de remendar algo que não tem mais conserto… Pedro Saddi (tecladista) fez a arte depois de todas as músicas compostas?

Sim, ele fez a arte da capa depois do disco estar já concebido, então ela segue a tendência do que está sendo passado nas músicas. Particularmente gostei muito dessa capa, achei bem representativa!

Seria muita divagação dizer que algumas músicas estão relacionadas a Lei dos Três Estados de Augusto Comte? Você estudou filosofia, não? O teológico seria a “Roda da História” e “Morte da Chuva”, a existência do homem, são as duas únicas músicas que você menciona um criador. O metafísico na “Reinvenção da Roda”, a origem e o destino de todas as coisas e o positivismo em “Um Só Fato”.

Acho que Roda da História e Morte da Chuva não chegam a ser músicas de cunho teológico, elas tratam do tema sob um aspecto muito mais mundano, descompromissado com idéia de Deus. Em Roda da História, Deus é citado mais como um brincalhão. De um modo geral, as músicas todas do disco não possuem muito de metafísica e teologia, elas são muito mais terrenas e mundanas, tratam de temas imanentes, de coisas que estão na terra e na nossa cara. Não tive intenção de fazê-las soar cheias de preceitos metafísicos ou teológicos, não tive essa pretensão. Elas devem soar mais simples.

Que disco temático/conceitual que você mais gosta dentro do rock/pop?

Eu ficaria com Pink Floyd – The Wall.

Você já deve ter lido diferentes versões a respeito do tema de “Greve das Navalhas”: ‘quem olha só com os olhos não vê/o assunto que discuto’. Era seu propósito deixar margem para diversas interpretações?
Isso é inevitável, no meu ponto de vista, porque qualquer coisa que eu escreva, por mais claro que eu pense que seja, as pessoas vão receber de uma forma diferente daquilo que pensei, cada um fará sua interpretação de acordo com suas experiências, com sua disposição cognitiva, enfim, o modo como as pessoas recebem a música e a letra é muito subjetiva. O que a gente pode fazer, no máximo, é criar um clima para o álbum, uma determinada atmosfera geral que permeia o decorrer das faixas que o compõem, mas é um exercício impossível fazer música que tenha interpretação fixa e determinada, eu sinceramente não conseguiria fazer isso. No entanto, vejo isso com bons olhos, acho muito legal que cada pessoa possa fazer sua própria interpretação e tomar pra si a música e sua letra.

Qual música deu início ao tema do álbum? Existiu essa intenção conceitual desde a primeira música composta?
Uma das músicas que iniciaram todo o processo foi “Comercial de Papelaria”, que já possuía um viés de mensagem mais otimista. Depois me dei conta que estava fazendo uma série de músicas em que a temática do sol e do fim eram recorrentes. Acabou que me dei conta da idéia de falar sobre o fim sob um prisma otimista, que é um modo menos clichê de ver as coisas e cumpriria dignamente aquela atmosfera geral que mencionei na resposta anterior.

Qual foi a principal inspiração para escrever as letras de Greve das Navalhas?
Creio que essa paranóia atual que estamos vivendo de insegurança sobre o futuro da humanidade. Ela não é nova, claro, já existiu há algumas décadas atrás. Mas os motivos são sempre reinventados. Vira e mexe, você abre um site, lê uma revista, vê um filme, enfim, algo que volta a essa preocupação fundamental com os rumos do mundo, seja por medo dos anseios nucleares dos países em guerra religiosa, seja pela teoria sobre 2012, são muitos motivos. A idéia foi então transformar isso em algo menos paranóico, mais sereno, contemplativo, aceitar que, se o mundo está indo pro buraco, é natural que ele vá, porque não vai durar para sempre, e isso está ok. É como se fôssemos entrar em desespero pelo fato de que todo homem nasce e morre, quando isso é natural. Então a idéia era a de subverter essa paranóia em uma percepção mais contemplativa e lúcida do começo e do fim das coisas, sem transformar isso num grande drama.

“A Fila”, por exemplo, tem quatro andamentos/batidas diferentes. Isso se tornou uma constante conscientemente?
Sinceramente, não é algo premeditado. Quase sempre descobrimos essas mudanças de andamento quando vamos programar os metrônomos para gravar. É uma mania minha como compositor a de tentar explorar climas no decorrer de uma música, mas é algo puramente intuitivo, coisa que nem percebo na hora que estou fazendo. Depois é que complica na hora de gravar, mas depois de cinco discos já pegamos a manha de executar essas mudanças seguindo o metrônomo. Dá mais trabalho, mas eu me sentiria bem limitado se tivesse que começar a compor preocupado em evitar isso ou aquilo.

Mesmo sendo algo não premeditado, você teria alguma explicação para que isso tivesse início? Algum estilo musical lhe levou a seguir essa linha?

Acho que deve ser resquício do progressivo! É a única explicação que eu acho (risos).

Qual dos discos do Violins você aponta como seu favorito e por quê?

Já essa é uma pergunta muito difícil de responder, é como você me pedir para escolher um filho preferido. Acho que cada disco tem passagens que significam muito para mim, cada um teve sua história e seu momento de acontecer, então é difícil falar de um, quando você tem seis. Eu não consigo ter esse olhar de preferência sobre os discos que fizemos, eu os vejo de uma forma muito mais fraternal, eles estão muito ligados na minha cabeça. É, para mim, como se fosse uma obra só. E ela ainda está incompleta na minha cabeça, por isso não consigo ter esse pensamento de destacar um, como se já tivesse o montante da obra toda pronta. Ainda vejo que há muito o que fazer, seja com a banda, seja sozinho, porque música na minha vida será um exercício recorrente enquanto eu tiver saúde para compor.

Luciano Viana disse que “Do Tempo é canditada séria a uma das melhores músicas de rock do ano”. Nela tem um verso que retrata um fato que vivenciamos todos os dias na esquina da nossa casa: “Pouca gente vai morrer de velho”.

Pô, que legal que ele pense isso. É uma música sobre a consciência da nossa finitude e sobre como isso se desenrola de uma forma totalmente autônoma, o ciclo da vida é uma máquina que funciona sozinha e nós temos pouquíssima influência no seu funcionamento, por mais que criemos grandes pilares para nos segurarmos, por mais crenças e grandes justificativas que sejam formuladas, no fim a máquina começa e deixa de funcionar na hora que ela quiser e ela apaga quem faz o bem e quem faz o mal da mesma forma, sem a mínima recompensa. Todo mundo é igual diante do tempo.

Na música seguinte “Fluorescente”, você contradiz essa afirmação da nossa finitude, dizendo: “Ninguém morreu e nasceu diversas vezes como eu/Ninguém!”

Em fluorescente a idéia de vida e morte diversas vezes tem um viés mais metafórico, de você se desconstruir e reconstruir diversas vezes. Trata das mortes diversas que temos quando acontece algo ruim, quando algo acaba, e como sempre tornamos a viver com o passar do tempo e com uma nova vida que surge de toda desconstrução dessa.

“Tsunami” é uma música difícil de cantar, mas a melodia fica rondando a cabeça, a combinação da devastação natural do fenômeno e a atitude, aparentemente, discrepante de ser otimista, diante da tragédia. Em minha opinião, ela consegue condensar todo o clima do disco, descrito por você.

Exatamente. É uma música que narra uma tragédia com final feliz. Dentro daquela idéia geral que comentei sobre o disco.

Numa entrevista para o blog “Tenho Mais Discos Que Amigos” em julho desse ano, você disse: “Eu mesmo não compro um disco há muito tempo”. Creio que foi a frase mais triste que ouvi nos últimos 15 anos! Nem imagino que um dia eu possa deixar de fazer isso. Quando você perdeu o gosto por adquirir CDs/LPs de bandas que você gosta?

Na verdade nunca tive apego a discos, não tenho esse apego pelo cd material. Minha relação é muito mais com a música, e isso não importa se ela está no cd, num pendrive, num mp3 player, o que importa para mim é a música poder ser ouvida. Eu entendo e admiro quem tem esse apego pelo cd, pelo encarte, por tudo que envolve, mas eu nunca consegui ter essa paixão.

Você está satisfeito com o que a banda fez nesses nove anos de existência? Você mudaria alguma coisa, se pudesse?

Acho que a gente fez o que pôde. Alguém poderia dizer que nós poderíamos ter nos dedicado mais, mudado de cidade, arriscado mais, etc., mas se não fizemos é porque nossa vida foi seguindo um rumo que não tornou isso possível e eu não tenho nada a lamentar. Acho que como banda fomos muito mais longe do que eu pensei que iríamos quando montamos tudo lá no início. Recebo quase diariamente mensagem de pessoas que escutaram a banda e descobriram nela um motivo para passar melhor um dia, para se inspirar para algo, para se sentir representado pela letra, confortado por uma melodia, e para mim se uma pessoa, uma só, foi ajudada pela banda para que a vida seja melhor, isso já valeu a pena não só a existência da banda, mas minha própria existência.

Para finalizar, deixo uma citação para você comentar: “Acho que há uma relação, talvez não reconhecida entre a bateria e as palavras, devido à estrutura do ritmo e versos. Eles são especialmente fortes e tão eficientes quanto a bateria. O padrão do pensamento acima de tudo funciona como as palavras e o rufar da bateria”. Neil Peart

Concordo plenamente. Acho que o grande baterista é aquele que consegue captar a alma da música, o que ela quer passar, e transforma isso em ritmo. Sabe a hora do silêncio e a hora do barulho. Em que momento deve haver drama e em que momento deve haver alívio, quando deve haver tensão e quando deve haver relaxamento. Eu admiro muito o Pierre (baterista) porque ele é um baterista sensível a essas questões. Uma banda precisa ter os seus integrantes imersos na idéia da música para que a música possa ser a união de todos os instrumentos numa só idéia, em vez de cada instrumento falar sua própria língua e a música ser uma junção de individualidades isoladas. Em muitas músicas, se não houvesse determinada batida de bateria ou determinada linha de baixo, ou mesmo uma melodia do teclado, o resultado final seria absolutamente diferente, desprovido de emoção, sem alcance.

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