Rock é o motor do Festival DoSol
Tádzio França – repórter
Um público estimado em 4,5 mil pessoas compareceu à Ribeira durante os dois dias oficiais do Festival DoSol, sábado e domingo passados. Em sua oitava edição, o evento firmou a proposta de trabalhar nomes de pouco apelo ‘pop’ – praticamente nenhum dos artistas do festival tem música tocando no rádio ou vendeu milhares de discos – e apostar num segmento de público que se informa através da internet, procura nichos específicos, ou é apenas curiosa. O foco continua sendo o rock, mas não se prendeu a ele em seus melhores momentos.
Em várias das “quase famosas” atrações do festival, foi possível ver uma parte do público que sabia cantar as músicas e veio ali só para conferi-las. O sábado, como de costume, já guarda a tradição de ter o perfil mais eclético do evento. Uma dose de esquizofrenia saudável, como manda o seletor de frequencias do novo século. Uma chance pra conferir desde bandas que ainda apostam nas sonoridades herdada dos Los Hermanos, como a goiana Goo (metais, voz chorosa) até o garage rock bem resolvido do baiano Vivendo do Ócio, algo que poderia tocar em determinadas rádios e até fazer sucesso, caso a frequência modulada ainda tivesse poder sobre o ouvinte pop de hoje em dia.
A banda carioca Do Amor justificou os elogios que vem recebendo da crítica há três anos, num dos melhores momentos do festival. Mandando às favas qualquer ortodoxia rocker, incorporou dançabilidade com elementos nacionais (samba, carimbó, axé) e gringos (funk, disco pós-punk) com uma coerência impressionante. A salada funciona, e ninguém parece estranhar quando o grupo manda sua famosa versão punk-funk de “Lindo lago do amor”, de Gonzaguinha, como se estivesse em algum porão de Nova York em 1981. Memorável.
O baile continuou com o carioca Canastra, grupo que atualiza o som das big bands com um andamento ‘anfetaminado’. A versão de “Viva Las Vegas”, de Elvis Presley, serviu como um resumo do som da banda. Mas o Glenn Miller em velocidade de hardcore acaba cansando depois de algum tempo. Logo após, o Rinocerone, do Rio Grande do Sul, proporcionou o momento metal da noite (faltou espaço no domingo?), no pequeno palco do DoSol.
Tulipa Ruiz, incensada por toda a crítica desde o ano passado, mostrou que um hype se sustenta de verdade com ótimas canções, boa voz e presença de palco. E a moça de Santos tem tudo isso. A voz límpida cantou quase todas as canções de “Efêmera”. Tulipa, longe da pose de diva, brinca o tempo todo, se diverte, e leva a plateia com ela. A turma do gargarejo sabia cantar todas as músicas. Mais um golpe nas rádios que não se renovam e procuram o novo. A dupla Talma & Gadelha, em sua encarnação rock, também contou com a boa presença de fãs em sua plateia. O DuSouto é outro nome que atesta sua popularidade junto ao público local. A banda acertou ao mandar seus hits jungle/ragga/samba de “bar” mais conhecidos para a felicidade dos fãs. B-Negão e Os Seletores mantiveram o grave forte no ambiente. O MC de Niterói favoreceu o lado dub/reggae de suas composições, e finalizou o DoSol de sábado com mais movimento de cinturas do que de cabeças.
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