Nós aqui nessa vidinha besta, filhos de Deus nessa canoa furada, por mais que exemplos surjam ao redor vez por outra nunca temos dimensão exata do limites que o ser humano pode imprimir à vida.
É esse redimensionamento do que é liberdade que faz com que Na Natureza Selvagem, o melhor trabalho do ator Sean Penn como diretor, arrebate o público. Mesmo com um enredo às vezes claudicante, que segue jogando no colo do espectador peças de um subjetivo quebra-cabeça. A história verdadeira do jovem Chris McCandless, interpretado por Emile Hirsch, nos dá outra noção de liberdade e obstinação, e como não há nada sem um preço, também de egoísmo.
Há vários referenciais que podem resumir o desapego de Chris – que chegou a criar uma nova identidade, Alex Supertramp, para completar a sua nova história – à vida comum. Um deles talvez faça mais sentido para quem viveu a o início da juventude na mesma época. É o que traça uma improvável relação entre a emotiva trilha sonora de Eddie Vedder e a vida de Alex.
Vedder, ícone do movimento grunge, o mais importante de rock da década de 1990, complementa nas letras e melodias fortes o sentimento de liberdade que impulsionou Alex a largar a família, o futuro promissor, a irmã a quem protegeu desde cedo para se embrenhar numa viagem ensandecida até o Alasca, por motivos até hoje pouco palpáveis. A largar inclusive a tentativa, sem muita importância diante do que ele se propôs a viver, é verdade, de compreender a liberdade almejada num disco do Pearl Jam, banda de Vedder, ali pelo início dos anos noventa, a mesma época da aventura que deu origem a um livro e ao road/walking movie. Compreender a liberdade que só ele parece ter concretizado se integrando de fato à natureza selvagem.
Into The Wild, 2008, Sean Penn.