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DICA DE FILME: CLOVERFIELD

Cloverfield é um filme que cabe exato na expressão alemã zeitgest, o espírito de uma época. Num dos diálogos da seqüência inicial, Beth, vivida pela atriz Odette Yustman, confessa a Rob, Michael Stahl-David, enquanto é filmada ao acordar, ainda na cama, que o seu medo é que as imagens caiam na internet.

Eis o resumo dessa época: tecnologia, voyeurismo social, interatividade e, paradoxalmente, impotência. O filme produzido por J.J. Abrams, criador de Lost, a série de TV de maior sucesso desta década, e dirigido por Matt Reeves, não tem absolutamente nada de novo a não ser ter seguido a risca todas as receitas de como fazer um bom filme de ação, ou monstro, como queira.

Além claro, de ter usado como poucos os recursos virais de divulgação, criando no público uma expectativa típica de hype. Com uma câmera na mão de Hud (T.J. Miller) e uma idéia aparentemente simples na cabeça, a de filmar depoimentos dos amigos na festa de despedida de Rob, que acabou de ser promovido a vice-presidente da empresa em que trabalha e por causa disso terá de se mudar para o Japão, o filme transporta o espectador para a condição, criada muito por causa da câmera de mão trêmula e onipresente, de testemunha de uma tragédia.

Em poucos minutos estamos diante da cabeça da Estátua da Liberdade arremessada por uma criatura indefinida no meio de uma avenida de Manhattan. A partir daí haja fôlego. A fuga dramática, que inclui doses de romantismo barato e falação insuportável de Hud, não dá brecha para perguntas lógicas como “a bateria de uma câmera duraria tanto assim?”.

Pouco importa, os americanos já têm o seu Godzilla, com elementos de personalidade parecidos com o tubarão de Spielberg e você, já que entrou na história, tem até as seis da manhã para conseguir sair da ilha.

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