Foto: Rejects por Jomar Dantas
Por Shilton Roque
Certa vez o Senhor Sílvio Santos quis ser cantor, dentre as mais toscas músicas em sua fita k7 tinha uma passagem de uma delas que era mais ou menos assim: “amanhã é domingo e espero que seja um dia de sol”. Foi mais ou menos com este pensamento que estavam os rockeiros natalenses no nosso sábado chuvoso. O domingo surge então ensolarado e pronto para todo os festejos solidários (vale salientar e parabenizar a iniciativa) do Dia Mundial do Rock.
Vamos ao rock então. O sol ainda pairava forte na Ribeira quando o Dr. Carnage sobe ao palco para mostrar seu punk horror cantando em português. A banda apresentou um repertório baseado em seu recém-lançado EP, o “Estilo Brucutu”, e covers do Zumbis do Espaço, forte influência do som dos caras. Destaque para “O Padre Fudeus”. Apesar de ser uma das caçulas do evento a banda mostrou porque foi escalada para tal.
Após toda carnificina e relatos de filme B, já tínhamos umas 100 pessoas nas dependências, hora de correr então para o Armazém onde o Driveout (com nova formação) e sua fiel garotada estavam. O show começou com a nova versão de “Olhos Abertos”. Percebo a cada show que a banda está colocando um pouco mais de peso em suas músicas, sem deixar o lado melódico (por vezes até demais) de lado. Músicas como “Sua canção” e “Entorpecer” fizeram parte do repertório. Como de praxe encerraram o show com “Mais uma vez” e de uma forma um tanto quanto inusitada a banda foi descendo do palco um a um até ficar somente o Leo (baterista) fazendo um solo de bateria.
Já mais próximo da linha que separa o dia da noite, não parava de chegar rockeiros na Ribeira e para um Dosol quase lotado os veteranos do Bugs iniciam sua apresentação. Como diria meu amigo idealizador desse site, os caras fazem um “som de garagem” com bastante competência. Mostraram porque estão a tanto tempo na estrada, e foram até onde foram. Em suma, show bem barulhento como esperado, barulho agradável aos ouvidos.
No palco do Armazém o Distro fazia os últimos acertos no som, após tudo pronto é hora do rock. Com um set baseado no mais novo trabalho da banda, os caras fizeram uma das melhores apresentações da noite. Rafão estava de certa forma inspirado, parecia estar rolando uma energia massa ali no palco. Destaque para “Little Lion”(que parece já ter virado uma referência para galera, muitos lá embaixo cantavam a dita cuja), “My Favorite Life” e as tirações de onda de sempre. O show teve também seu momento inesperado, cover da música “Water” da falecida banda Reffer (provável influência de um passado hardcore da galera?). Confesso que fiquei de cara com o acontecido. A banda demonstra estar em sua melhor fase, isso é fato.
Foi só o Rejects dar a primeira nota que uma galera (quando eu digo galera é o necessário para deixar o Dosol em sua lotação) começa a ocupar todo o espaço, tanto é que tive que assistir o show em pé sobre uma estrutura que serve de assento. Creio que tenha sido o primeiro show da banda para um grande público, onde a banda soube aproveitar o momento. O público demonstrava desconhecer a banda, mas ao mesmo tempo ouvia e via nos lábios de muita gente a expressão “essa banda é boa cara!”. Foi bem enérgica a apresentação, quem estava perto do palco que o diga. Destaco mais uma vez o jeito de cantar do vocalista, soa como algo pesado (às vezes parece até forçado) bem condizente com o som que os caras tiram.
AK-47 iniciando seu show e hora de esperar o inesperado acontecer. João como sempre com um figurino bem peculiar, pele pintada de vermelha e cabelo com uma cor que não deu para identificar. A cada show deles percebo o quanto eles têm um público fiel, que vai para frente do palco, canta as músicas e faz o show ser o mais legal possível. Quando tocaram “Infecção”, “Verme” e “Entrada”, deu para perceber claramente essa interação entre banda e público. E como todo show do Ak tem que ter uma “presepada” garotas subiram ao palco e fizeram o que muitos chamaram de “cachorrada” ou “putaria”, e não foi nada combinado, podem acreditar.
Hora de um pouco de rockabilly e ninguém melhor que Os Bonnies aqui em nossa capital para fazer isso. De onde eu estava dava para ver lá frente vários bracinhos levantados (e balançando) e garotas pulando, como diria um tio distante o show foi “supimpa”. No repertório algumas músicas do disco “Azul”, uns dos trampos mais legais que os caras lançaram. Para concluir, mil pedidos de bis, e dessa forma a banda ainda tocou mais umas 2 músicas. No Armazém o show seguinte já tinha começado, mas ninguém arredou o pé do Dosol.
Como já mencionado, o show nem acabara no Dosol e no armazém era hora do “metal e prazer” pairar sobre a noitada. O Comando Etílico, veterano do metal em nossa cidade mostrou o que alguns chamam de old scholl metal. Impressionante o quanto a banda consegue ter o total domínio sobre o público, por vários momentos a interação entre palco e platéia abrilhantava ainda mais o show. Presença de palco impecável, solos que faziam a galera delirar e músicas já bem conhecidas do fiel público metaleiro desta capita, destaque para “Ritual” e “Metal e Prazer”.
Para terminar a noite, de modo diferente do planejado pela organização, chegava a hora dos representantes do N.Y.H.C aqui da nossa terra, o Psicomancia com nova formação subia ao palco para fazer a galera lá embaixo botar suas dores e raiva para fora, em bom português: era hora do coro comer! Muita roda de pogo, muito mosh pit, lado a lado b, até lixeiro foi arremassado ao ar. Gembroso instigava e ali representava toda uma galera. Para completar cover de “Walk” do Pantera. Pra resumir o show, foi peso e porrada.
Dessa maneira acabou a domingueira do rock, apresentações muito boas, mostraram que mesmo durante o que alguns chamam de “período de entre safra” do nosso rock natalense, temos banda despontando e prontas para vôos maiores. Foi muito interessante ver tantas caras novas pela ribeira, ao mesmo tempo rever velhos parceiros e comemorar (de maneira solidária, uma vez que, a arrecadação de alimentos foi muito boa) assim o dia mundial do Rock, parabéns a todos os envolvidos com a iniciativa.
Foda demais!