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DIA DO MÚSICO POTIGUAR – MATÉRIA NA TRIBUNA DO NORTE

Yuno Silva – repórter

Porta-voz de sua geração, o músico é uma espécie de retratista sonoro do cotidiano. Incansável, seu dom de combinar sons e silêncio embala sonhos, amores, dores de cotovelo, momentos históricos… marca época. Prática cultural intrínseca ao ser humano, não se tem notícia de alguma civilização que não possua manifestações musicais próprias – seja como forma de comunicação, arte ou puro entretenimento.

Simona Talma finaliza o CD  Matando o amor, em parceria com Luis Gadelha. Parada, a Orquestra Sinfônica do Estado espera encerrar o deficit de 18 instrumentistas
Simona Talma finaliza o CD Matando o amor, em parceria com Luis Gadelha. Parada, a Orquestra Sinfônica do Estado espera encerrar o deficit de 18 instrumentistas

Para celebrar seus talentos nesta praia, a cidade comemora nesta hoje o Dia do Músico Natalense, criado em 2007 através de projeto de lei aprovada por unanimidade na Câmara Municipal. A data coincide com o aniversário da FM Universitária – UFRN, sintonia certeira para se ouvir a boa música potiguar. “A ideia inicial era criar o dia do músico potiguar, mas as articulações com a Assembleia Legislativa iria demandar tempo e decidimos fechar com a Câmara. Mas nada impede de termos uma outra data no calendário”, contou o compositor e instrumentista Enoch Domingos, funcionário público aposentado e um dos responsáveis pela criação da FM em 2001.

Apesar da incipiente, ou até ausência, de políticas públicas para o segmento, Enoch acredita que o músico natalense tem o comemorar: “Muita coisa mudou nesta última década, o público passou a prestar mais atenção, a conhecer melhor os artistas potiguares. Infelizmente, dentro do contexto atual, o artista depende de iniciativas públicas. Em cada esquina temos uma multidão de talentos, e isso precisa ser valorizado”, defende. Integrante da primeira formação da banda Impacto Cinco e da Orquestra do América, na época do maestro Waldemar Ernesto, Enoch afirma que “moramos em uma cidade de artistas”.

O produtor Anderson ‘DoSol’ Foca, também credita a essa boa fase a persistência dos artistas: “Temos sim o que comemorar. Independente das dificuldades de cada profissão, acho que o músico local é fé e talento nato! O papel do músico é ser um condutor de cultura, ser um porta-voz dela. A música é uma das ações culturais mais aceitas na sociedade, por causa disso esse interlocutor é importantíssimo para transformação cultural de qualquer cidade”, acredita Foca.

Para o flautista e compositor Carlos Zens, a música transcende: “Ela é um elemento de educação, de conhecimento. Sem a música tudo ficaria sem graça, feio mesmo! O processo de criação pode até ser um ato isolado, individual, mas uma composição só ganha status de música quando é compartilhada”, garante Zens, neto de artista autodidata. “Meu avô por parte de pai era brincante em Canguaretama (município ao sul do RN), tenho muito orgulho disso!”, finaliza.

Novas parcerias

A dupla Luiz Gadelha e Simona Talma, que lança no próximo sábado (26) o CD “Matando o Amor” pelo Projeto Incubadora DoSol, reforçam o coro: “Pessoalmente tenho o que comemorar”, diz Simona. “Estamos com trabalho novo pronto e acredito no momento favorável para a música independente”, conclui. Para Gadelha, “o artista potiguar está mais confiante, mais à vontade para ousar. Antes tínhamos a barreira geográfica, mas hoje não precisamos ir morar fora do Estado para ser ouvido, para fazer shows. O público está mais atento e a internet ajuda bastante”, acrescenta o compositor.

Falando em ousadia, a cantora e compositora Valéria Oliveira, colhe os frutos da sua. A potiguar vem alçando vôos cada vez mais altos e indo cada vez mais longe. “Tenho sentido esse otimismo de una três ou quatro anos para cá. A cidade está mais receptiva, os artistas estão mais conscientes do poder de realização. O grau de profissionalização está crescendo, o pensamento está mais amplo. Obviamente temos que contar com patrocínio, leis de incentivo, editais… independente do poder público, que precisa perceber a importância de se investir em Cultura, temos feitos coisas muito bacanas, tenho visto bons shows. Quanto mais gente pensando dessa maneira, mais teremos chance de êxito”, disse Oliveira. Não podemos deixar de citar a cantora Khrystal e as bandas DuSouto, Camarones e Rosa de Pedra, nomes que estão ganhando projeção nacional e contribuindo para escrever capítulos importantes dessa nova história.

Projeção coletiva

No embalo dessas conquistas individuais, a Rede Potiguar de Música e o Fórum Permanente de Música do RN seguem nos bastidores com a missão de tentar organizar, articular e, por que não dizer, conciliar interesses pessoais em benefício da coletividade. “Não é tarefa das mais fáceis, inclusive nem gosto desse papo de ‘interesses’, mas não podemos negar que existem”, pondera Paulo Sarkis, músico da banda Mad Dogs e da Orquestra Sinfônica do RN. “Os artistas que estão no Fórum e na Rede estão em níveis diferentes, precisamos reconhecer isso e bolar estratégias que possam projetar todo o grupo. O importante neste momento é criar mecanismos capazes de dinamizar o mercado”, disse Sarkis, que também responde pela vice-presidência do Sindicato dos Músicos do RN. “Estamos na fase da projeção, da profissionalização”, aponta.

Segundo Sarkis, vivemos um momento de transição: “se por um lado não temos mais certeza se o rádio é o melhor veículo, por outro temos a internet, onde estamos no meio de 300 milhões de artistas que também querem ser vistos e ouvidos”, conclui.

Sarkis informou que a OSRN está com um déficit de 18 instrumentistas, mas que há planos dentro da Fundação José Augusto / Secretaria de Cultura para abertura de bolsas destinadas a estudantes interessados em compor o grupo. “No momento, o Estado está impedido de abrir novos concursos por causa da Lei de Responsabilidade Fiscal, que limita gastos com a folha de pagamento.” Apesar da dificuldade, Paulo Sarkis adiantou que a Orquestra poderá sair em turnê internacional nos meses de setembro e outubro: “Recebemos convite do Governo chinês, e estamos otimistas para que o grupo esteja completo até lá”.

Ná Ozzetti no aniversário da FMU

O Dia do Músico Natalense ganha tons especiais com apresentações gratuitas das cantoras Ná Ozzetti e Valéria Oliveira, que ganham o palco do Teatro Alberto Maranhão a partir das 19h. Enquanto a paulistana defende repertório de seu último álbum, “Balangandãs”, lançado em 2009, a potiguar segue com seu show “No Ar”. O público será recepcionado, no foyer do teatro, pelo Grupo Catita Choro e Gafieira, e a programação da noite ainda inclui apresentações de dança com os grupos Gaia e Contato e Improvisação. A FMU aproveita a ocasião para lançar campanha voltada à valorização da cultura, visando estimular maior investimento dos empresários do RN através das Leis de Incentivo à Cultura.

Entre as novidades, Valéria irá receber convidados especiais – Simona Talma (voz), Eduardo Taufic (teclado) e Gilberto Cabral (trombone) -, e sua performance será emoldurada por cenário virtual baseado nas obras do artista plástico Ítalo Trindade. Durante o show, Ozzetti também irá dividir o palco com a potiguar durante acanção “Canto em qualquer canto”, composição de Ná em parceria com Itamar Assumpção (1949-2003). “Cantamos essa música juntas em agosto do ano passado, no show que fiz em São Paulo no auditório do (Parque) Ibirapuera”, lembra Oliveira. Durante toda a semana, o TAM estará comemorando seu 107º aniversário: dia 25 a dupla Zé Renato e Renato Braz lançam o disco “Papo de Passarin”, com participação de Khrystal.

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