Foto: Doamor (RJ) com participação especial do Astronauta Pinguim no Varadouro (AC)
Por Foca
Estive no último sábado visitando o Varadouro, um dos festivais mais solicitados do calendário da Abrafin na região norte do Brasil. Rio Branco, talvez a capital mais remota do Brasil para se conhecer, é uma linda cidade, circundada por rios e uma parte da floresta amazônica, mas que estruturalmente não deixa a desejar a nenhuma outra capital por conta da distância, muito pelo contrário. Talvez pelo fato do destino ser de difícil acesso fiquei com a impressão de que o poder público interfere positivamente na vida das pessoas. Um exemplo disso é que o município é o primeiro do Brasil a receber o programa de internet gratuita (wi-fi) onde quer que você esteja.
Chegamos ao festival com um excelente receptivo coordenado pelo pessoal do Catraia junto com outros pontos do Fora do Eixo Norte. Bom hotel, excelente alimentação, um pequeno passeio e já deu a hora de nos preparmos para tocar (fui ao Varadouro com o Camarones Orquestra Guitarrística).
O espaço do show era enorme, com um área coberta de bares e uma variedade muito grande de comidas, uma feira/brechó bacana e dois palcos armados um ao lado do outro com excelente sonorização, luz e backline. O lugar era espécie de fábrica de cerveja ou algo assim.
Fizemos um reconhecimento breve do equipamento e já fomos nos aprontar para nossa passagem de som. Abriu a programação o bom grupo local Ana e os Lobos, apesar da timidez no palco e de um começo meio nervoso a coisas foi se ajustando para uma boa apresentação. É interessante saber que as sonoridades mais melódicas (e até melancólicas) tem muito espaço na região. Tanto a Ana e os Lobos como o Camundogs e o Los Porongas tem o mesmo DNA. Sendo que esse último, já com bem mais estrada, se destaca (foi um dos melhores momentos dessa segunda noite do Varadouro). O Camarones foi bem recebido por lá, tanto na hora do show como depois da apresentação com muitos convites para voltar à região em breve.
Vi pela primeira vez o excelente e matreiro Doamor. Carimbó, maestria nos instrumentos e um fuzz aqui e acolá para lembrar ao público que eles (ainda) são roqueiros. Gosto muito de bandas com presença de espírito (o móveis é um bom exemplo) e os cariocas usam bem isso ao seu favor, além de ter um repertório certeiro para quem tá afim de dançar. Excelente show!
O Pública também fez o que se esperava deles. Melodias fortes, excelente cozinha e muitas músicas com potencial radiofônico. Um trunfo e tanto para o meio indie. O Caldo de Piaba fez a ponte muito bem com as conexões amazônicas num show cheio de convidados e abriu caminho para o baile tecnobrega da Gabi Amarantos, que surpreendeu quem já tinha visto o show antes (meu caso) com uma banda coesa aproximando o trabalho de algo mais orgânico. Depois descobri que a banda de apoio da moça era o aclamado La Pupuna. Bela sacada.
Fica o registro de um dia mágico e também de um esforço tremendo da produção de tentar levar para uma cidade tão “fora do eixo” uma programação variada e interessante que nem essa da Varadouro. Só estando lá para sentir o clima. Foi lindo e recomendo!