Isaac Ribeiro – Especial do Rio de Janeiro
Sim, o Radiohead é a mais importante banda contemporânea de rock. E sua passagem pelo Brasil só veio confirmar isso. Não fosse a qualidade de suas canções e a unidade de sua trajetória, os ingleses investem em pensamento e sempre nos trazem uma idéia realmente nova, um conceito instigante, quebra de paradigmas — algo cada vez mais difícil entre os grupos que nascem já fadados ao desgaste da mídia voraz. As 24 mil pessoas que estiveram na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, sexta-feira última, puderam comprovar um pouco da força do grupo.
A noite foi aberta pelo Los Hermanos, em seu semi-quase retorno, e pelo grupo alemão Kraftwerk, precursores da música eletrônica no mundo e uma das influências do próprio Radiohead. A reportagem do VIVER esteve lá.
Eis que as batidas de “15 Step” e a voz angustiada de Thom York invadem o chão da praça. Apoteose desde já. Os celulares para o alto com seus displays acesos faziam uma espécie de saudação à luz que vinha do palco. A iluminação do show é uma experiência à parte que conduz ao transe. A banda fica sob um arco/portal retangular de tubos verticais por onde matizes de luz passam e formam raios coloridos em grafismos e texturas. (Os leds que passam pelo tubo economizam 30% menos energia que luzes convencionais).
Ao fundo e nas laterais, telões transmitem detalhes em ângulos intrigantes dos músicos e dos instrumentos em imagens mono-cromáticas e sub-divididas. Não se vê câmeras em nenhum lugar do palco. Lustres naves pairam por entre tudo. Bandeiras do Tibet cobrem os amplificadores das guitarras.
A banda parece bem à vontade no palco. Hipnótica e melancólica, a música do grupo envolve e ganha novos ares ao vivo. O show é quente. Cada canção é um clipe diante dos olhos. Thom York dança o tempo todo. Olhos fechados. “Obrigado!”, “Do cara***o”, comunica-se o guitarrista do Ed’Obrian. O repertório é baseado no recente CD “In Rainbows”, mas não faltam “There There”, “The National Anthem” (onde a banda sintoniza rádios cariocas em tempo real), “Karma Police”, “No Surprises”, “Idioteque”, “Homesick Subterranean Alien”, “Airbag” e até mesmo “Creep”, entoada como hino no final da apresentação.
Finalmente apagadas as luzes, a multidão vai embora pela passarela do samba ao som de uma música oriental (Free Tibet!) num desfile surdo.
Na plateia
O show do Radiohead era a atração principal do festival Just a Fest, que ainda teve Los Hermanos e o Kraftwerk e foi realizado no Rio (sexta, 20) e em São Paulo (domingo, 22). Alguns reclamaram de a organização ter escolhido a Praça da Apoteose como local pelo seu entorno.
Como não é de costume, não houve atrasos para o início das apresentações. Los Hermanos abre a noite e mata a saudades dos fãs. O Kraftwerk vem com pérolas minimalistas, performance estática e clássicos como “Man Machine”, “Computer World”, “Autobahn”, “The Model”, “Robots” e “Musique Non Stop”.
Putz Isaac! O show em São Paulo foi impecável. Faltou algo do The Bends e não tocou, infelizmente, “Airbag” e “Homesick Subterranean Alien”. Mas com o repertório gigante como aquele é dificil tocar tudo, ao todo foram 26 canções num espetáculo sensorial do século 21. Lembro de um cara dizendo: “porra, num toucou high and dry! mas foi lindo!”. É isso mesmo, uma palavra resume o contexto: histórico!