Por Luciano Matos, Salvador/BA
Conteúdo: Elcabong
É difiícil não cair no clichê, mas não tem muito pra onde fugir. O Mudhoney fez um show histórico e marcante na última noite do festival BoomBahia, no Pelourinho. O festival em si nem precisava deles para demonstrar sua importância no cenário local, criando um ar renovado e estimulando bandas, produtores e os envolvidos com o rock baiano. Se o clima era de otimismo em ver as coisas acontecendo positivamente, a presença da mais importante banda de rock gringa que já tocou por aqui, serviu para coroar ainda mais o evento. Melhor, o Mudhoney caprichou e fez um daqueles shows marcantes que a gente leva pra casa como boa recordação. Mais ainda, ensinou para muita gente como se fazer rock de fato, sem concessões, sem apelações, sem estrelismo e de forma simples e direta.
A abertura da noite contou com mais um show competente de Nancyta. Agora acompanhado da boa banda Nunca Visto, Nancy Viégas mostrou o repertório de seu mais novo trabalho e algumas coisas antigas. Reunindo influências diversas, mas com o rock como o fermento que faz o som crescer e dar a liga, Nancyta comprovou ser um dos melhores nomes do rock baiano. Foi também mais uma prova de que temos um número invejável de bons artistas no cenário local, como o BoomBahia mostrou este ano.
O show seguinte foi um dos mais justos que o BoomBahia poderia promover. Não deve haver maior fã do Mudhoney em Salvador do que Bruno Carvalho, vocalista, guitarrista e líder da banda Pessoas Invisíveis. Nada mais justo do que a banda dele abrindo. Mas não só pela idolatria. Bruno construiu com seus parceiros, uma banda com som calcado em guitarras sujas, melodias e boas canções. Algo que acabou marcando o próprio grunge. Um prouco prejudicado pelo som, algo inédito no festival até então, fez um show porrada. Visivelmente emocionado, ele berrou, xingou o público quando pediram Alice in Chains, e quase detonou sua guitarra. A cover de “Feel Good Hit of the Summer” do Queens Of The Stone Age não só caiu bem como esquentou de vez o público, que abriu até roda de pogo. Um bom show para mais uma boa aposta do rock local.
Na verdade tudo foi aperitivo. Todos ali queriam ver o Mudhoney. A carência de shows internacionais acabou reunindo fãs e gente que nem conhecia a banda e a praça ficou lotada. Quem não conhecia deve ter se surpreendido com a força da banda. Baixo, guitarra e bateria no talo, com destaque para a guitarra de Steve Turner gritando bem alto com seu pedal fuzz. Mas chamava atenção também aquele homem magro, branco, loiro e narigudo a frente do palco. Energia brutal e uma voz punk de dar inveja a qualquer garoto. Mark Arm, que às vezes também tocava guitarra, variava seu modo de cantar para berros impressionante, que soltava como se fosse natural, apenas uma extesão de sua voz. Barbarizava, sem parecer nem fazer tanto esforço.
A sequência de sucessos ou não, de músicas velhas e novas, agitou o público e serviu para dar o recado porque lá daquela terra fria, no canto Noroeste dos Estados Unidos, surgiu uma cena tão interessante de bandas. Com certeza não foi o melhor show que eles já fizeram, mas foi marcante para uma Salvador que precisa muito ter experiências assim, até como referência de como se faz rock nos anos 00. Postura de palco simples e arrasadora, mas sem precisar de apelações. O som que a banda tira de seus intrumentos (e da garganta) é o que brilha. Formada há 20 anos e com seus membros passando dos 40, a banda mostrou como fazer um showzaço de rock. Que venha o próximo.