Por Foca

“O que vamos assistir aqui hoje é uma mudança de patamar, é um show do primeiro escalão da música brasileira”. Com essas palavras Fabrício Nobre, diretor e produtor executivo do show, profetizou o que aconteceria no palco um pouco mais tarde. Com moral de quem fez quase cem shows durante o ano em todas as regiões do Brasil, o Macaco Bong fez ontem (e continua hoje) o show de encerramento da tour “Artista Igual Pedreiro” reunindo para a celebração Victor Araújo e Siba de Pernambuco, o naipe de metais do Móveis Coloniais de Acajú e Jack, percussionista do Porcas Borboletas.

Quem acompanha de perto o processo de reestruturação do que chamamos de “mercado” sabe bem qual foi o sinal emitido por esse espetáculo. Mostra que as fronteiras acabaram, que o êxito na música pode ter outro viés e que ser um “artista” é bem mais do que ser genial no palco. No caso do Macaco Bong esse “bem mais” é a diferença. Os pedreiros de Cuiabá são músicos com estilo e formatação própria, dando aula de humildade e capacidade técnica por onde passam. Não é a toa que a banda só cresce e ainda consegue surpreender um cara com eu, que já devo ter visto o grupo em ação umas vinte vezes.

Foram ao todo oito músicas no show. A banda se apresentou sozinha apenas duas vezes durante o espetáculo, abrindo com “Amendoin” e voltando para o bis com “Um G Bem Quente“. O resto do show foi dividido com os convidados que mostraram com louvor porque estavam ali. Victor Araújo com sua personalidade forte de quem entrou na música cedo, foi o que mais me surpreendeu entre os convidados. Saindo do seu universo solitário a frente do piano, o prodígio pernambucano costurou bem os climas propostos pela guitarra de Kayapi, utilizando com excelência a orquestração presente no piano de calda em contraste com as notas etéreas de uma escaleta simplista.

Siba é mestre e menestrel. Na timidez de um cara tranquilo (e quase angelical) fora do palco, o outro permabucano da trupe também compôs bem sua rabeca na apresentação, mesmo sendo o último a se reunir à trupe (que fez quatro ensaios para rearranjar e desconstruir a obra do Macaco Bong). Jack, percussionista do Porcas Borboletas, foi um show à parte. Pulou, dançou e cumpriu bem a difícil missão de completar a já excelente cozinha dos Bongs. A metaleira pop dos Móveis anda sozinha. A turma é entrosada e sabe bem o que fazer em todas as situações, também deram um show à parte como esperado. As interpretações de “Fuck You Lady” e “Banana`s For All” foram o ápice máximo do que conhecemos como música boa!

Para completar, o ambiente. Tiro uma pausa para falar do incrível Auditório Ibirapuera, local no meio do parque de mesmo nome, com excelente acústica e estrutura para shows (a melhor que já vi). O lugar é de uma beleza ímpar. Outra obra assinada pelo grande Niemeyer.

Foi um belo momento. E o mais legal disso tudo é saber que ele não vai ser único e que ações como essa vão ser cada vez mais corriqueiras daqui para frente. Pode anotar e me cobrar!

Toda a cobertura do show em vídeo vai ao ar na próxima semana numa parceria do Dosoltv com a Webtv Fora do Eixo. Aguardem!!