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COMO FOI? HUMAITÁ PRA PEIXE (RJ) SEGUNDO DIA

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Foto: Supercordas no HPP 2009, por Tomás Rangel

Por Marcos Bragatto, Rio de Janeiro

Indie rock se encontra com rock progressivo e bossa nova no Humaitá Pra Peixe
Supercordas e Luisa Mandou um Beijo mostram que o introspectivo subgênero já não é tão hermético assim.

Na noite reservada ao público indie, o Humaitá Pra Peixe aproveitou para homenagear os 20 anos do selo Midsummer Madness, escalando duas bandas reveladas pelo mentor Rodrigo Lariu. De menor expressão, o Luisa Mandou Um Beijo estava lançando o segundo álbum, prestes a chegar da fábrica. “Borboleta Imperial” é a música escolhida para apresentar o novo trabalho, e começa com a vocalista Flávia Muniz soprando uma mangueira desenrolada junto ao microfone. Ela ainda surpreenderia o público declamando poesias em trechos no meio do repertório, o que – diga-se – não chegou a ajudar muito no processo.

O grupo marca o perigoso encontro do indie com a bossa nova, mesmo que ontem tenha flertado suavemente com o reggae, dub e ska em algumas músicas. O instrumental é coeso, apesar da fama de pouco se apresentar ao vivo, mas peca pela forma sintética com que desenvolve as músicas. Em geral os dois guitarristas tocam sempre a mesma coisa, sem variações, e é raro uma evolução mais ousada ou um solinho distorcido que consagrou o subgênero outrora chamado de “guitar band” – exceto por raros momentos em que o guitarrista PP tem permissão para se soltar. Tanto que 15 músicas foram tocadas em cerca de 45 minutos de show.

É aí que sobressai um elemento que deveria ser secundário: o trompete. É ele que enfatiza as melodias e que sola, fazendo as vezes da guitarra nos melhores momentos do show. É o que acontece, por exemplo, na curiosa “Maracanã”, ou em “Anselmo”, quase um hit deles. Elas enfatizam, no meio indie, uma súbita alegria que coloca em xeque sua própria existência. Triste por definição, o indie se esbalda com um esplendor contido, circunspeto. Uma alegria impossivelmente triste. Mas o que mais se salienta no Luisa é a vocalista Flávia. Raras são as músicas em que ela consegue entrar no tom certo, além de desafinar durante todo o show. De timbre irregular, canta muito mal, dança sem noção rítmica e é o anticarisma em pessoa. Joga por terra, assim, as qualidades pontuais que poderiam fazer da música do grupo algo mais cativante.

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Foto: Luisa Mandou Um Beijo

Já com o Supercordas o buraco é mais embaixo. Aqui o indie rock também saiu da redoma, mas foi ao encontro do rock progressivo e da psicodelia pré-anos 70, e não é só a camiseta do baixista estampada com o ano de 1968 que denuncia isso. Os três guitarristas, cada qual com seu rumo, o telão reproduzindo as bolhas de óleo e os efeitos que saem dos pedais dão a impressão que estamos prestes a ver um show do Pink Floyd nos melhores momentos de Syd Barrett. O contexto inibe até as citações à simplicidade do rock rural que, se discretas, tornaram-se lugar comum nas inúmeras tentativas de explicar o som dos rapazes por parte da crônica musical.

Tanto que o violão pouco aparece nas músicas, e quando o faz não prejudica o todo. “Orquestra de Mil Martelos”, definida pelo vocalista fã de duendes como “quase um rock rural” é na verdade uma ode psicodélica de grandes proporções. Efeitos de todos os lados surgem no meio da música, de arranjo rebuscado que realça a dicotomia simples/complexo em seus extremos. “Um Grande Trem Positivista”, grandiloquente já no título, é outra em que, apesar da subtração de uma das guitarras, prevalece o clima retrô/moderno comum aos caminhos cruzados do indie rock com o rock progressivo.

Preparando o segundo disco, o grupo aproveitou para mostrar músicas novas como a boa “Mágica”, de inspiração no blues de raiz e que traz o guitarrista com cara de viajandão num enlace com sua pedaleira. Outra é a pouco ensaiada “Belo Horizonte”, que leva o terceiro guitarrista – Filipe Giraknob – a um teclado que serve para tudo, menos para ser tocado como se fosse um piano. Foi o fechamento precoce (só nove músicas?) para uma banda já com certa estrada e relevante produção, que, ao fundir elementos díspares de fases distintas do rock, deu de cara com uma sonoridade contemporânea e diferenciada.

[youtube:http://br.youtube.com/watch?v=oD9v79-rJ2I]

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