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COMO FOI? HUMAITÁ PRA PEIXE (RJ) – QUARTO DIA

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Foto: Daniel Lopes no HPP 2009 por Marcos Dantas

Por Marcos Bragatto, Rio de Janeiro

Daniel Lopes aponta para o pop brasileiro no Humaitá Pra Peixe
Rock retrô do Fuzzcas também brilhou na noite em que o festival voltou pra casa.

Da proposta equivocada do Reverse sobrou o que o grupo tinha de melhor: o cantor e compositor Daniel Lopes. Não apenas vocalista, mas, sobretudo cantor, porque interpreta muito bem músicas não óbvias de outros artistas, além das suas. Foi ele quem se destacou ontem, quando o Humaitá Pra Peixe voltou ao dia da semana e ao local de origem, no reformado Espaço Cultural Sérgio Porto. Antes dele, descido do túnel do tempo de Irwin Allen, o Fuzzcas também foi muito bem.

O show de Daniel se divide em dois. No início e no final ele conta com uma banda que contém contrabaixo acústico, percussão, bateria e guitarra. Na meiuca do repertório, faz três músicas sozinho, com violão e a ajuda de um pedal acoplado a um i-pod. Batendo com a mão no corpo da viola e imitando sons com a boca, ele vai gravando e reproduzindo tudo simultaneamente, fazendo bases e cantando por cima. O resultado é uma performance inesperada que agradou geral ao público, sobretudo no cover – espécie de homenagem ao produtor Quincy Jones – de “Thriller”, aquela mesmo do Michael Jackson.

Daniel Lopes cantou várias das músicas que estão em seu disco de estréia como artista solo, “Mais e Mais Refrões”, mas sua veia de cantor/intérprete falou mais alto. Foi assim na excelente versão de “A Nível de…”, crônica do cotidiano de Aldir Blanc pinçada do repertório tardio de João Bosco; ou ainda em “Laiá Laiá”, assinada por ele, mais que parece ter saído do rol do samba de raiz dos anos 70, onde se salienta uma afro-referência outrora negada, mas hoje admitida pelo cantor em outro momento da apresentação. Daniel parece mesmo livre das amarras típicas de artistas inseguros, e canta com incomum empolgação em “Homem Elefante”, por exemplo.

A diferença entre um show de Daniel Lopes para as músicas disponíveis na web é muito grande. Bom por um lado, por mostrar carisma e peso nas apresentações, mas ruim de outro: o cantor precisa de um produtor que lhe garanta, em disco, o peso que ecoa dos palcos. No fim, Daniel recebeu de presente um bis (fato raro no HPP) tão inesperado que não tinha um plano B. A saída foi repetir a boa “Homem Verde”, e o público nem esquentou a cabeça.

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Foto: Fuzzcas no HHP 2009 por Marcos Dantas

Antes foi a pequetita Carol Lima que tratou de encantar a platéia, à frente do Fuzzcas. O grupo tem estética/temática retrô, sem direção de tempo: de mil novecentos e sessenta e pouco pra trás tá valendo, inclua-se aí The Kinks, Beatles, música de bailinho de escola de filme americano, trilha sonora do cinema mudo e assim por diante. O hit “Deveras”, para se ter uma idéia, bem que poderia ser tema de personagem principal de novelas das seis da Rede Globo.

O que se nota no show do Fuzzcas é que os músicos já não estão inseguros quanto antes, prova de que o fato de o grupo ter tocado bastante nos últimos tempos tem melhorado – e muito – a performance no palco. Carol também está bem mais à vontade, e praticamente não erra o tom a cada música, exceção feita nas mais recentes. O timbre de voz dela, meio rouco, também não facilita as coisas. Outra das novas, “Quero Quero”, foi uma das mais aplaudidas.

Num flerte com o rock nacional produzido nos últimos tempos, o grupo mandou a nova “Se a Saudade Bater”, um folk rock à Vanguart bem sacado, e uma outra música que poderia fazer parte do repertório do Cachorro Grande. De propósito, o final do set engrena como um pot-pourri para “Estúpido Cupido”/“Banho de Lua” (só faltou “Broto Legal”) e “Antes da Tarde Se Acabar”, talvez a música mais pesada do quarteto. Marcado pela evolução, o show mostrou um Fuzzcas num outro patamar. Direto do túnel do tempo.

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