Mãozinhas para cima para Mayer. Foto de Dudu Schnaider
Por Bruno Nogueira
Teve um tempo que eu bocejei forte para aquele papo datado de que música, assim como toda forma moderna de expressar alguma arte, entrou em um abismo de repetição e reprodução. Um loop infinito de mais do mesmo. Mas aos poucos eu começo a perceber que a cumplicidade do público vai além da domesticação feita pela padronização imposta por rádios e gravadoras. O público quer se sentir seguro, muito mais do que impressionado pelo artista. E é isso o que explica dois fenômenos interessantes na apresentação de Amy Winehouse no Recife na quinta-feira 13. O público não a queria ver cantar, mas sim “beber, cair e levantar”. E a imprensa em geral, formada por gente que também é público, ansiava tanto por isso que até noticiou um tropeço como sendo um “tombo”.
Essa expectativa em ver algo se repetir – Amy tropeçar, Janelle Monae dançar igual ao clipe e Mayer Howthorne “ser fofo” – garante que o mais do mesmo deu ao público o que eles precisavam para uma ótima noite. É o que explica, por exemplo, o desagrado do público em outras praças pela apresentação de Winehouse, que subiu no palco e só cantou, sem tropeçar ou errar. Uma conjunção que daria o argumento perfeito ao mais chato ouvinte de Bach de que “nada disso é música”. Mas é. Música que emociona mais pela teatralidade que pelas próprias canções, mas que cumpre suas centenas de funções que vão de combustão a escapismo social.