Por Marcos Bragatto
Meus amigos, o que é o atraso. E o que é a falta e comprometimento. Vejam vocês que eu, um emérito cumpridor de prazos, chego a estas linhas com um atraso que podemos arredondar para um ano. Sim, meus caros, praticamente um ano sem colocar no ar essa coluna que sempre foi feita por um operário do rock. Falta de assunto? Nunca. De inspiração? Talvez. De tempo? Nem sempre. Desencanto? Absolutamente. Difícil explicar o inexplicável. Aceitar o inaceitável. Mas – não me esqueci – não podemos dar as costas aos fatos. E o fato é que esta Rock é Rock Mesmo tirou inefáveis férias de quase um ano. Que beleza.
E se admitimos férias desse tamanho, há que se ter o que contar, pois é isso o que fazem aqueles que retornam de seus períodos de recesso. História pra contar meus amigos, é o que não falta. Em tanto tempo, como de hábito, escrevi por aí como sempre fiz, muito e o tempo todo. Li, escutei, visitei, viajei. Fui à Goiânia e presenciei o espetáculo do crescimento dos festivais independentes. Estive em Londrina e vi uma chácara de churrasco de final de semana convertida num belo festival de rock. Fui a São Paulo e vi o espetáculo vivo do hard rock que não quer morrer. Conheci e tive que conviver como o Editor Ensimesmado. Escutei muita música, presenciei outros tantos shows, ao vivo e na apoteose dos DVDs. Portas se fecharam (literalmente), o que sinaliza que outras hão de se abrir. Não, meus amigos, isso aqui não é o epitáfio de um costumeiro escrevedor. É o seu retorno.
A medida em que conheço o novo me surpreendo com o que aprendo com os mais velhos. Na semana passada, por exemplo, a lição foi dada por Roger Glover, o baixista do Deep Purple, do alto de seus 62 anos. Um jornalista do G1, cujo nome agora não me ocorre, questionou ao veterano músico o porquê de a banda fazer shows freqüentemente no Brasil (como se isso fosse ruim) sem lançar um novo disco. Glover foi de uma simplicidade atroz. Disse que a banda faz show porque o mercado mudou, e assim é que, hoje, eles ganham dinheiro. Que se vende muito pouco disco nos dias de hoje, e que gravar um disco quase sempre é prejuízo, porque simplesmente não vende. Numa única resposta o baixista sintetizou o mercado da música independente (que não consegue gravar, e se consegue, é encalhe) e o universo dos medalhões (que hoje se concentram nos shows para poder faturar). Glover disse o óbvio, que de tão óbvio, nos cega a todos.
Nas idas e vindas de voltar e de não voltar com essa Rock é Rock Mesmo, ganchos, motivos, deixas, pretextos é que não faltaram. De parte a parte, um disco aqui, um show acolá, um novo personagem clamando por tradução, as inefáveis viúvas de Patton e sua eterna romaria, um vídeo histórico, um regresso fulminante. O Queens Of The Stone Age, por exemplo. Quer um motivo maior do que voltar a escrever esta coluna do que o discaço que é “Era Vulgaris”? E o retorno espetacular do Police, que, por incrível que pareça, veio desaguar em pleno Maracanã lotado? Ou o resgate da sensacional apresentação do Queen no Live Aid, para um Estádio de Wembey entulhado de gente? Sim, meus amigos, como disse, assunto nunca falta nesse tal de rock’n’roll. Ao contrário, tudo dá o que falar. Falta mesa e falta bar para tanta coisa. Não tem fim.
Hoje mesmo. Acordo e leio na Folha de São Paulo uma matéria sobre o que os caras de além Dutra chamaram de “turnê saudosista” do Iron Maiden. Como de hábito, insistem em dizer que esse tipo de espetáculo só tem acolhida no Brasil. Não pesquisam na Internet (coisinha fácil de fazer) para anotar que só essa mini turnê, com avião próprio, até aqui, tem 54 datas confirmadas, passa por 31 países, em quatro continentes, durante cerca de sete meses. Certamente esses 54 shows não devem ficar às moscas, né? Iron Maiden, ame ou odeie, não é fenômeno de público só no Brasil, é no mundo todo. E turnê temática é regra no grupo, são feitas em escala menor, como aquecimento para a gravação de um novo disco, na Europa. Foi mal, mas a pejorativa pecha de “saudosista” não cola. Honra seja feita, há que se registrar, contudo, que o tal jornalista acertou em cheio ao citar as datas em que o grupo já esteve no Brasil, outra coisa simples, mas que via de regra todos erram por causa da preguiça em pesquisar. Né, JB?
Olhando para a empoeirada última coluna que escrevi, vejo que o assunto ali era a boa quantidade de shows, e quase um ano depois o fato se repete. Não é mole, não, estamos, sim, inseridos no circuito de shows de rock internacionais que varrem o planeta. De Iron a Bob Dylan; de Interpol a Deep Purple; de Dream Theater a Ozzy Osbourne, a coisa vai muito bem, obrigado. Até Sebastian Bach conseguiu tirar Axl Rose da toca e lançar o disco como o bezerro desmamado gritando em três faixas. Olhando assim dá até pra acreditar que o “Chinese Democracy” sai mesmo esse ano. Calma, olha a violência…
Sim, meus amigos, não podemos entrar na onda de otimismo que atropela o Brasil e sair por aí parafraseando o Presidente Lula com o bordão “nunca na história desse país…”. Ou, por outra desencravar os tempos do Médici: “ninguém segura essa coluna!”. Mas o fato, essa ambígua expressão do ser humano em movimento, este sim é implacável, e dele jamais podemos nos distanciar. E hoje, entre tudo o que acontece nesse mundo globalizado, devo dizer que este cantinho, reduto incorrigível do rock, está em festa. Como dizia nos bons tempos o atual Governador da Califórnia (não era bem assim, mas vá lá): I’m back!
Até a próxima semana e long live rock’n’roll!!!